Começo por parabenizar a todas pelo Dia Internacional da Mulher. E por dizer que me sinto muito honrada pelo convite da ABMES para falar sobre o tema.
Nesses tempos de rápidas transformções que vivemos, começo por destacar uma mudança importante em nossa estrutura social. Segundo pesquisa do IPEA, o percentual de domicílios comandados por mulheres passou de 25%, em 1995, para 45%, em 2018. Um salto significativo, considerando um período de pouco mais de 20 anos. E eu arriscaria dizer que essa tendência deve ainda ter se intensificado de 2018 para cá.
Mas não se iludam: boa parte dessa mudança não se deve aos “bons motivos”. Sabemos que a inserção de qualidade da mulher no mercado de trabalho avança, porém a passos bem mais lentos do que gostaríamos. Continuamos sendo poucas as que chegam a posições mais elevadas nas estruturas de carreiras, seja no mundo acadêmico, governamental e de gestão das empresas. Mesmo na Educação Básica, onde a grande maioria dos profissionais são mulheres, é pequena a presença feminina nos postos de liderança: secretárias da Educação ou reitoras. E a disparidade salarial persiste. Nas ondas de desemprego, tão frequentes em nosso país nos últimos anos, somos mais do que proporcionalmente demitidas. Somos mais numerosas na informalidade. O que é expressão de nosso enorme compromisso em cuidar da família, em garantir o seu sustento, de “dar um jeito”, apesar da vulnerabilidade. Não é à toa que os programas sociais voltados a famílias têm as mães como beneficiárias.
Mudar essa realidade requer garantir maior qualidade à inserção das mulheres no mundo do trabalho. Passa pela definição de políticas públicas, mas depende essencialmente de mudança de atitudes. De mudar conceitos profundamente arraigados em nossa sociedade sobre esteriótipos sobre os papéis do homem e da mulher. Inclusive, descontruir contos de fadas.
Recentes releituras de filmes dos clássicos Branca de Neve e a Bela e a Fera, por exemplo, reconstroem as respectivas narrativas, colocando as princesas como protagonistas, donas de seus destinos. Podemos citar muitos outros, como A Princesa e o Sapo, Valente, Frozen, ou mesmo alguns mais antigos, como Mulan e o Rei Leão (Nala tem papel fundamental). A Disney se deu conta disso e vem trabalhando para essa mudança há mais de 20 anos.
Eu mesma sou uma chefe de domicílo. Trabalho sempre foi algo importante na minha vida. Nunca deixei de trabalhar, mesmo quando minhas filhas eram pequenas e meu casamento parecia ser para todo o sempre. E graças a isso, depois de uma separação complicada, consegui manter minha família estável, financeira e afetivamente. Isso demandou de mim uma transformação em relação à minha inserção profissional, bem como ao meu padrão de gastos. Mas consegui fazer. Tive sucesso. E mais, consegui também mostrar às minhas meninas (filhas, enteadas, sobrinhas) e às suas amigas o quanto é importante ter uma profissão. Nada contra o amor e o casamento. Pelo contrário, acredito que independência financeira faça bem ao relacionamento: relação entre iguais são muito mais saudáveis.
Neste Dia Internacional da Mulher, fica o meu convite à reflexão. Nós, mulheres, podemos ser o que quisermos. Não cabe pensar em profissão de homem e profissão de mulher. O mundo já mudou. Na Medicina, por exemplo, profissão até há poucos anos essencialmente masculina, hoje já temos mais mulheres do que homens, especialmente nas faculdades e entre recém-formados. Nas áreas de Ciências Exatas e de Tecnologia, é bem pequena a participação de mulheres. Questão cultural, que joga contra nós, mulheres.
Estamos vivenciando uma enorme transformação no perfil das profissões, bem como da demanda por profissionais. E o maior crescimento de demanda está na área de Tecnologia. Crescem a taxas bastante superiores à nossa capacidade de formar profissionais. Portanto, é aí onde estão as grandes oportunidades de trabalho e de emprego, nos dias de hoje e no futuro.
Não me parece razoável que nos mantenhamos apegados a esses dogmas de profissões masculinas ou femininas. Fica aqui o convite a repensarmos, a encontrarmos formas de melhorar as vidas das pessoas, o que vai muito além da condição da mulher. Isso afeta, coletivamente, as condições de vida em nosso país, uma vez que o percentual dos domicílios chefiados por mulheres muito provavelmente não se reduzirá. E significa incluirmos efetivamente as mulheres no mundo do trabalho. Pequenas atitudes, no âmbito de nossas próprias famílias, podem ser transformadoras.
Trato aqui do que chamo “feminismo prático”, expressão emprestada da Drª Ruth Cardoso. É o que, nem sempre propositalmente, vem pautando a minha vida. Um percurso (bastante tortuoso, como a da maioria das pessoas) de construções, aprendizados, lutas, muitas perdas e muitos ganhos e muitos amigos. E com muito orgulho de ser mulher e trabalhadora.
E fica aqui uma dica. A Microsoft oferece cursos online gratuitos. As(os) interessadass(os) podem fazer os cursos e seguir trilhas de formação que podem leva-las (os) à profissionalização. Diversas instituições de ensino superior estão adotando este conteúdo e os trabalhando com seus estudantes. Em alguns casos, há oportunidades de certificação. Verifique com a sua Instituição. Lembre-se que conhecimentos sobre Tecnologia não é requisito exclusivo para carreiras de tecnologia. Diferentes níveis de conhecimento são desejáveis, ou mesmo demandados, também em outras profissões.
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