Nossos problemas educacionais são graves e complexos. Entre eles, em termos de níveis educacionais, é possível afirmar que, nos tempos atuais, o ensino médio é aquele onde temos colhido o maior insucesso, sendo a educação profissional o maior desafio. Corretamente, a nova reforma da educação básica (BNCC), nos termos aprovados em 2017, visou priorizar a educação técnica, elencando-a como um dos cinco itinerários formativos.
O Plano Nacional de Educação/PNE define como meta o atingimento de 5,2 milhões de matrículas em formação técnica no nível médio até o ano de 2024. Estamos estagnados há muitos anos em um patamar abaixo de 2 milhões, tornando, praticamente, impossível cumprir o proposto. Além disso, os recursos federais alocados têm caído desde 2015.
Como inspiração para tratar esse desafiante tema, podemos recorrer ao seminal trabalho do economista Carlos Langoni, falecido no mês passado. Langoni, brilhantemente, mostrou na década de 1970 que a taxa de retorno de investimentos em educação era de 28% ao ano, superior a qualquer outro investimento, a exemplo de capital físico (16%). Naquele momento, fazendo uso do melhor tratamento e da melhor base de dados disponíveis, ele evidenciou que esse retorno seria ainda maior (32%) se o investimento fosse no ensino fundamental.
A “inspiração” que precisamos de Langoni não é simplesmente copiá-lo, mas sim repensar os desafios contemporâneos à luz das ferramentas que hoje dispomos. Quais elementos alimentariam um possível algoritmo para tratar, com sucesso, o tema? Educação continua sendo um dos melhores investimentos de uma nação. O ensino médio profissionalizante é onde, provavelmente, neste momento, a taxa de retorno seria mais impactante. Resta-nos modelar os demais ingredientes mais relevantes dos tempos atuais e deles, analiticamente, tirarmos as devidas conclusões e as transformarmos em políticas públicas, bem como em estímulos ao setor privado interessado em atuar na área.
Ingressamos aceleradamente em um uma sociedade movida pelas tecnologias digitais, as quais estão essencialmente transformando todos os setores da sociedade, sem exceção. Do ponto de vista empregabilidade é evidente que profissionais aptos a lidarem com computação na nuvem, tratamento de dados, robótica e inteligência artificial terão facilidade muito maior de encontrar empregos, bem como de aproveitar oportunidades de negócios.
Atualmente, o desemprego no Brasil é de 14,7%, correspondendo a 14,8 milhões de desempregados, ou seja, o maior contingente já registrado pela série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Nesse cenário, em profundo contraste, no setor de tecnologias digitais há mais do que plena empregabilidade, registrando, na verdade, grande déficit de profissionais.
Há ainda por explodir uma gigante carência de novos profissionais, especialmente com a adoção da tecnologia 5G, impactando ainda mais fortemente o comércio eletrônico, em níveis sem precedentes, internet das coisas e outros setores que sequer somos capazes de imaginar para um cenário futuro de poucos anos adiante.
Entre várias boas iniciativas em curso, destaco a da Microsoft, via a Plataforma Learn, oferecendo certificações nas áreas mais carentes em tecnologias digitais, entre elas, computação em nuvem e inteligência artificial.
As habilidades mais relevantes desejadas para os profissionais digitais incluem competência para propor soluções criativas para os problemas, capacidade de foco, habilidades para trabalhar em equipe, preparação para a aprendizagem permanente, atualizando-se sobre novas linguagens e ferramentas de programação, domínio do pensamento lógico e abstrato aplicado à programação e boa formação em matemática, português e inglês.
As evidências educacionais apontam que, do ponto de vista cognitivo, a capacidade de jovens na faixa etária de 15 a 17 anos de aprenderem os elementos essenciais associados à formação nessa área não é menor (podendo ser maior) do que de adultos acima de 24 anos.
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