Desde a primeira notificação sobre a SARS-CoV-2, em dezembro de 2019, em Wuhan, o mundo viveu, e vive, situações de incertezas e insegurança. Considerando a severidade do vírus e sua rápida disseminação, a OMS, em março de 2020, declarou a COVID-19 uma pandemia. Como uma das principais estratégias para prevenir a disseminação do vírus foi o distanciamento social, Instituições de Ensino Superior (IES) e escolas, em todo o mundo suspenderam as suas atividades, o que causou um impacto em mais de 1,6 bilhões de pessoas em todo o mundo (UNESCO, 2020).
Para responder a esse desafio, as IES brasileiras, como as de todo o mundo, tiveram que implementar mudanças que normalmente levariam anos para ocorrer. Era o início da chamada crise dos “três Rs. ”
Em poucos dias ou semanas as IES tiveram que dar uma Resposta (o primeiro R) ao distanciamento social. As IES responderam de diferentes formas, algumas chegaram até a suspender o semestre, mas a maioria migrou, de uma forma ou de outra, para o ensino a distância. Como bem sabemos, educação a distância demanda treinamento de professores, planejamento, e um material instrucional bem elaborado, além é claro de adequada infraestrutura de TI. E tudo isso demanda tempo, que era um recurso que não se tinha no momento. Por isso, o que vimos ocorrer, no Brasil, e no mundo, foi o “ensino emergencial a distância”.
A rápida mudança trouxe grandes desafios para os gestores, professores, estudantes e funcionários das IES, um deles foi a de estudantes, e em alguns casos mesmos professores, que não tinham computadores adequados e com precário acesso a internet. Mas, em geral, as IES brasileiras conseguiram responder, com muita eficiência, a grave crise da COVID-19, reduzindo assim o impacto negativo na vida dos estudantes. Em pouco tempo o vocabulário dos estudantes e professores passou a incorporar termos que antes não eram tão comuns: aulas síncronas, aulas assíncronas, atividades virtuais, “lives”, etc.
Importante ressaltar que as IES tomaram tais medidas em um momento que sofriam os impactos financeiros advindos da pandemia, que levou ao aumento da inadimplência, da evasão e a redução do número de novos ingressantes.
Se as IES conseguiram atender bem ao primeiro “R”, logo se percebeu que ele foi um passo importante, mas não suficiente, era preciso atender ao segundo “R”, e se Reinventar.
Os desafios da avaliação, acompanhamento e supervisão dos estudantes, das atividades práticas, que impactam diferentes áreas do conhecimento de forma distinta, do engajamento dos estudantes, da inclusão digital, do efeito psicológico da pandemia em estudantes, professores e funcionários, levou as IES a uma Reinvenção de seus processos de ensino aprendizagem. As que obtiveram melhor resultados foram aquelas que não se ativeram em simplesmente migrar atividades presenciais para online, mas Reinventaram, dentro do possível, as suas práticas, principalmente nas atividades avaliativas e no engajamento dos estudantes.
AS IES estão vivendo agora o desafio do terceiro “R”, o Retorno, tão ou mais importante quanto os outros dois. Esperamos que em 2022, os estudantes estejam retornando de forma presencial para o campus das IES de nosso país. Além de atender a todos protocolos sanitários, pois infelizmente a pandemia ainda não acabou, é necessário ter todo o cuidado em receber, ou melhor acolher, os estudantes, professores e funcionários em nossos campus, considerando os efeitos psicológicos da pandemia e as necessidades de readaptação. Mas, o que considero mais importante, é que as lições da pandemia sobre a eficácia e eficiência do uso da tecnologia na educação, e mais relevante, sobre o que realmente precisa ser ensinado aos nossos estudantes e como ele devem ser avaliados, não sejam esquecidas. A avaliação não pode se limitar a ser uma cobrança de se repetir o que foi ensinado, mas ao entendimento do conceito e sua aplicação. Em minha opinião essa foi uma das grandes lições da pandemia para aquelas IES que se reinventaram.
Encerrando gostaria de destacar alguns aspectos. A demanda dos estudantes por atividades a distância vai aumentar devido as experiências que tiveram durante o período da pandemia, ou seja, as IES devem se preparar, de forma adequada, para que as suas atividades não sejam exclusivamente presencias. Outra lição importante é que as IES que tiveram mais dificuldades na migração para o online foram as com inadequada estrutura de TI e pouca experiência no ensino a distância. Permitam-me citar, que uma das razões do sucesso do IESB na migração do presencial para o online, foi a experiência de cerca de 20 anos da Instituição com o Blackboard, uma excelente LMS (Learning Management System). A pandemia foi uma aceleradora de caminho para as universidades se tornarem cada vez mais digitais.
Assim, as IES devem se preparar, em seus planejamentos de retorno, para utilizar todo o potencial do ensino a distância, oferecendo treinamento e capacitação aos seus professores, elaborando material de qualidade e utilizando as tecnologias adequadas, ao mesmo tempo em que fortalecem todo os fundamentos da experiência presencial dos estudantes, esse é o futuro que foi antecipado pela pandemia, a IES digital.