Organizações de todos os setores da sociedade estão passando por transformações e repensando seus propósitos. Boa parte deste contexto deve-se às novas demandas impostas pela pandemia da Covid-19. A crise sanitária deixou muito evidente como a falta de políticas públicas efetivas sobre questões ambientais e de saúde pública gera impactos negativos para empresas e comunidades de todo mundo. A utilização da tecnologia nas organizações nunca foi tão necessária, não só para a sobrevivência dos negócios, mas como ferramenta para potencializar ações de responsabilidade econômica, social e ambiental.
Os três últimos anos foram determinantes para a compreensão de um dos conceitos mais básicos de sustentabilidade: hoje em dia, um acontecimento em qualquer lugar do mundo pode impactar a vida e a economia de toda a população. Além disso, os acontecimentos recentes incitaram uma espécie de “revolução sustentável”, que fez aumentar a velocidade da disseminação da chamada cultura ESG no dia-a-dia das organizações.
A “Agenda ESG” (cuja sigla significa Environmental, Social and Governance ou, em português: Ambiental, Social e Governança) faz alusão ao estímulo dado a empresas para assumirem e adotarem medidas que gerem impactos sociais, ambientais e de governança cada vez mais positivos.
Apesar de ser um termo antigo, lançado pela primeira vez em uma publicação da ONU de 2004 e emplacado no Plano Global de Desenvolvimento de Povos, a Agenda 2030, essa cultura começou a ganhar força em 2021, justamente por ajudar a construir uma nova visão sobre a economia global.
Implementar o modelo ESG nas empresas traz uma série de benefícios, entre eles: financeiro, com a redução de gastos na automação de alguns serviços e no potencial investimento que essas ações podem atrair; social, com ampliação, retenção e satisfação de talentos; e organizacional, com o fortalecimento da imagem positiva da empresa, assegurando transparência e mitigação de riscos.
Agenda ESG na educação
O setor educacional está fortemente inserido neste contexto e, como todos os outros, vem buscando novos meios e métodos de aprendizagem para acompanhar as novas tendências.
Uma das principais ferramentas para o desenvolvimento sustentável no setor educacional é a utilização correta da tecnologia e para isso é necessário, em primeiro lugar, implementar uma cultura digital dentro das Instituições de Ensino Superior (IES), pois muitos são os resultados atingidos com a utilização da tecnologia na gestão educacional dentro dos princípios ESG.
A tecnologia educacional vem para simplificar e organizar tarefas logísticas, com práticas mais dinâmicas e rápidas, auxiliando na economia de recursos materiais e humanos.
O princípio ESG direciona os gestores das IES rumo ao desafio de estruturar graduações conectadas com esse cenário, ressaltando a importância das práticas sustentáveis para as instituições, bem como para a sociedade e o meio ambiente. A tecnologia permite saber onde está o gargalo de aprendizagem em cada uma das três áreas.
Na área Ambiental (Environment), por exemplo, muitas são as ações que podem ser desenvolvidas, como: a utilização de equipamentos com baixo consumo de energia, priorização de atividades, como questionários on-line para reduzir, ou até mesmo eliminar, o uso de papel. A tecnologia permite o compartilhamento de arquivos e classificação de conteúdos na nuvem, como livros e apostilas, por exemplo, com bibliotecas virtuais, acabando com o limite de uso do material e permitindo maior controle e transparência, além de ampliar a capacidade de abrangência na utilização desses materiais.
Na área Social (Social), o uso de tecnologias e ações que promovam a inclusão (softwares que permitem a inclusão social, por exemplo: PictoTEA), pesquisas e desenvolvimento em inovação, recursos de entretenimento durante a aprendizagem (gamificação), softwares de reconhecimento de sinais (libras), valorização da cultura local são exemplos de boas práticas também gerenciadas com o uso da tecnologia a serviço da ESG no ambiente educacional.
Na área de Governança (Governance), a tecnologia também provém o incentivo a boas práticas de transparência fiscal e de compliance com algumas ações, tais como: treinamentos básicos em tecnologia para a comunidade (implantação de cibercultura), acompanhamento dos indicadores de aprendizagem, automação das atividades administrativas, principalmente nos serviços de atendimento ao cliente, a própria interação entre o professor e o aluno pode ser mais dinâmica, com o uso da tecnologia.
O investimento tecnológico nesta área permite uma análise de dados mais adequada, auxilia no acompanhamento personalizado da performance da equipe técnica de discentes e docentes, facilita a tomada de decisão da gestão das IES ampliando a segurança das informações, trazendo melhorias para todos os níveis do processo educacional.
A tecnologia educacional faz tudo isso de uma maneira mais eficiente sendo, sem dúvida, o maior incentivo à sustentabilidade na instituição educacional. Mas, para isso, é importante que os gestores percebam a importância de reestruturar conceitos arraigados, implementando e potencializando a cultura digital dentro da IES para que as boas práticas do modelo ESG sejam realmente assertivas, pois a tecnologia é ferramenta indispensável para o desenvolvimento sustentável, conectando pilares importantes para a construção de uma educação que realmente resista às intempéries da vida, mostrando sempre a necessidade de trazer o melhor para todos os ecossistemas envolvidos.
Agenda ESG na comunicação corporativa
Neste bojo também entra a importância da comunicação corporativa da instituição estar alinhada às práticas da Agenda ESG. As instituições devem comunicar ao público interno e externo sobre suas ações nesse sentido. Ainda que a Agenda ESG esteja em toda a mídia internacional e nacional, o conhecimento sobre o tema precisa ser aprofundado dentro das organizações. Os funcionários e parceiros precisam saber os objetivos e a importância dela para, especialmente, colaborarem com o sucesso da implementação dessa agenda.
Além disso, as experiências comunicadas permitem que um benchmark aconteça no setor e essa é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de toda a educação superior brasileira. Juntos, observando experiências positivas e tendo em quem se espelhar, a transformação é mais rápida e fácil.
Seja por meio de relatórios de sustentabilidade, redes sociais, comunicados internos, é importante que a instituição inclua a Agenda ESG em sua rotina de comunicação corporativa. A visibilidade a respeito de ações da Agenda ESG está crescendo exponencialmente e quem já está se movimentando sairá na frente. Uma pesquisa realizada pela consultoria Bloomberg aponta que projetos com esse enfoque devem atrair 53 trilhões de dólares, até 2025.
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*Daiana Araújo Martins é Full Stack Designer e coordenadora de Inteligência Digital da ABMES
*Camila Griguc é jornalista e coordenadora de Comunicação e Marketing da ABMES