O “vem aí” não é tão rápido assim, mas os avanços recentes têm encurtado as perspectivas. Portanto, é sim possível que as primeiras máquinas comecem a operar em escala em torno da virada desta década. Se isso ocorrer, ainda que somente uma hipótese por enquanto, teremos grandes mudanças adiante.
A diferença essencial é que, ao invés de bit (a unidade básica da computação clássica, correspondente ao estado binário 0 ou 1, ligado ou desligado), temos o bit quântico, qubit (unidade básica da computação quântica, onde é possível estados intermediários, estando simultaneamente parte ligado e parte desligado, estados quânticos esses descritos como “emaranhamento”).
Esses estados quânticos intermediários permitem, em tese, realizar operações computacionais antes consideradas impossíveis, agora tornadas factíveis. Além disso, viabiliza processar o que já se faz hoje em tempos e com custos computacionais muito menores.
Mas, nada é tão simples e, no caso, é bastante complexo. O maior desafio é estabilizar os estados quânticos. Ou seja, é preciso que aqueles estados quânticos intermediários sejam perenes por um tempo suficiente para que sejam operacionais, com segurança e úteis. Além disso, a computação quântica demanda algoritmos quânticos ainda em desenvolvimento.
Em outras palavras, os qubits dependem de estados de partículas subatômicas, temporalmente instáveis, dado que são facilmente perturbados por ruídos do ambiente externo (movimento, calor, ondas eletromagnéticas, raios cósmicos etc.). Por isso, os atuais protótipos de computadores quânticos (eles já existem e já são operacionais, em pequena escala) operam, necessariamente, em temperaturas muito baixas, da ordem de zero Kelvin, -273oC.
Os investimentos das grandes empresas (Google, IBM, Microsoft, Honeywell etc.) e das maiores potências (China, USA, União Europeia etc.) têm sido grandes e crescentes. Todos sabem que quem obtiver o primeiro computador quântico, operacional e em grande escala, ganhará trilhões de dólares.
A inédita capacidade computacional permitirá desenvolver fármacos e medicamentos inimagináveis, produzir materiais até aqui impensáveis e, adicionalmente, quebrar todas as criptografias existentes (incluindo a metodologia mais adotada atualmente, a RSA). Portanto, imaginemos o que significará trocar, a curto prazo, toda a segurança cibernética das redes de todo o planeta (sistema financeiro, segredos militares, patentes industriais, internet das coisas, proteção de dados individuais etc.).
Em resumo, a chance é quase nula de termos impactos diretos na vida privada individual a curto prazo (meses, anos, esta década...). No entanto, é certo que em um horizonte visível (virada desta década, próxima década...) teremos uma nova revolução adiante. Além disso, aconselhável estarmos preparados para surpresas, incluindo o calendário ser adiantado (vide ChatGPT etc.) por talentos humanos/máquinas e investimentos secretos de grandes empresas e nações.
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