Escrevo para Édson Franco, o amigo.
Dele enquanto educador e empreendedor muitos ainda irão dizer, pelas tantas páginas que brilhantemente escreveu, na História da Educação no Pará.
Nos anos 60 publiquei “Carta àquela que se foi”, em homenagem à insigne mestra Poranga Jucá, que acabara de falecer. Em 90, também escrevi “Carta àquele que se (es) vai...”, para meu melhor amigo e também educador Davi Mufarrej, dias antes de sua partida.
Desta vez, este texto cumpre um acordo firmado, há anos, em Brasília, entre Édson e Américo, de que pela partida de um, o sobrevivente se manifestaria sobre o falecido. Aqui, portanto, cumpro tristemente esse acordo.
Agora, que ele se foi vivenciaremos um luto por conta de sua ausência física e seremos sufocados por uma grande saudade... ah a saudade! – “Aquilo que fica daquilo que não ficou...” Se tivermos sabido assimilar as competências que nos disponibilizou não sentiremos saudades, porque ele ficará num canto qualquer do coração de quantos nos fizemos seus aprendizes. Quanto tenhamos desperdiçado de sua companhia é o que nos causará saudades.
De minha parte meu amigo desejo compartilhar com os que lamentam tua partida, pelo menos quatro imagens que me deixaste como referências: O Édson, homem de fé; o feitor exemplar; o persuasivo e o visionário.
- Como homens de fé, nos encontrávamos, ainda jovens, nas igrejas. Tu, congregado mariano, portando larga fita azul que identificava os “Filhos de Maria”. Assim, acolitaste meu casamento realizado por Ápio Campos, nosso amigo comum com uma de tuas colegas de faculdade. Eras devoto da Senhora de Nazaré, tanto que ela te agraciou dando-te como senhora a tua Nazaré. Creditavas tua vida exitosa também a uma bolsinha de couro que permanentemente carregavas escondida num dos bolsos, guardando o teu terço do rosário.
- O Édson feitor exemplar, era aquele que sabia fazer bem feito tudo quanto delegasse alguém para fazê- lo. Lembro-me de tê-lo visto, certa vez, agachado ao lado de uma faxineira, demonstrando-lhe com as próprias mãos, como limpar melhor os degraus de uma escada.
- O Édson persuasivo, era aquele que como ninguém sabia dar aos outros a sensação de haverem escolhido por si mesmos, opções que, anteriormente, ele próprio já as havia definido. Um executivo da CVRD, numa das muitas negociações que tivemos que enfrentar defendendo os interesses do nosso CETEP-CARAJÁS, disse-me certa vez, com todo respeito, que o admirava pelo poder que tinha de mover as pessoas a favor de seus argumentos... dizendo que “...se o Dr. Édson tentasse persuadir, comovendo um carroceiro à satisfazer seus interesses, seria capaz de fazer até o burro chorar...”
- Finalmente o Édson visionário. Várias vezes falávamos de um antigo sonho, avivado em seus últimos tempos como reitor, de ver a Unama expandindo para muito além do Pará uma rede difusora de EAD. Infelizmente ao final de 2009, encerrou o seu mandato.
Agora é o momento de te agradecer por algumas das muitas oportunidades que me impuseste como desafio para me fazer crescer.
- Era 1964. Tu acabaras de assumir a Secretaria de Educação do Pará e eu, desde 63, continuava como Secretário de Educação de Roraima. Foi então, quando me convenceste que (me farias Diretor de Ensino em Belém), era melhor ser segundo em Belém de que primeiro em Boa Vista. Eu aceitei.
- De outra feita, (1981), o CETEP acabara de ganhar a concorrência realizada pela CVRD, para montar o Sistema Educacional do Projeto Carajás. Enquanto isso, eu retornara da Colombia tendo relatado, em Congresso Internacional da OMEP, o êxito de minha escola em Manaus. Lembraste meu nome e foste me buscar para dirigir, por três anos, o CETEP-CARAJÁS.
- Ainda por uma terceira vez, já estando eu radicado em Brasília, fostes me convidar para comandar o Sistema Educacional de Tucuruí, para a Eletronorte. Desta vez, tive que te dizer não, para não por em risco meu casamento.
Finalmente, amigo, por tudo isso quero te dizer que serei sempre grato por teres acreditado e confiado neste teu amigo, mercê de suas limitações.
Ensinaste-me que “a glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso; nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você.”
Obrigado Édson. Fica em paz. Adeus, até sempre.
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