Tão logo os resultados do Enade 2022 foram divulgados, na última terça-feira (31), o setor privado de educação superior foi duramente cobrado pelo desempenho das suas instituições. Isso porque, como acontece todos os anos, as universidades públicas tiveram rendimentos superiores.
O que a maioria das pessoas desconhece é que o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes consiste em apenas uma das três etapas que compõem o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Portanto, ele, por si só, não pode ser tomado como o fiel da balança no que se refere à qualidade do serviço oferecido por uma instituição de educação superior.
Além disso, existem inúmeras variáveis que incidem nos resultados obtidos por cada instituição. Questões como curso, características regionais, perfil dos estudantes e até mesmo o humor da pessoa no dia do exame, por exemplo, impactam na maneira como cada grupo ou indivíduo se apresenta diante da prova.
Mas, se isso vale tanto para instituições públicas quanto para as privadas, o que justificaria a diferença no desempenho? Existem diversas explicações, mas aqui vou destacar apenas uma: apesar de todos os esforços empenhados nos últimos anos, a universidade pública ainda é um locus ocupado por pessoas privilegiadas. Indivíduos que, em sua maioria, são oriundos de escolas privadas de altíssimo nível e que podem se dedicar integralmente aos estudos durante a graduação.
Na outra ponta, os estudantes das instituições particulares são, na sua maioria, egressos de escolas públicas. Também são pessoas que precisam conciliar a graduação com trabalho, tanto para arcar com as mensalidades quanto para ajudar nas despesas de casa. Hoje, mais de 70% estudantes das IES privadas pertencem a famílias com renda per capita de até R$ 3,2 mil (classes C e D).
Não estou dizendo que uns são melhores ou mais esforçados do que outros, mas essa é uma realidade que o Enade não capta. Assim como não registra os esforços de nivelamento feitos por muitas instituições particulares e nem a evolução do indivíduo entre as etapas inicial e final do curso.
Fato é que o setor privado, por meio da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), tem participado ativamente dos grupos de trabalho e demais discussões do Ministério da Educação voltadas para o aperfeiçoamento dos processos de avaliação, regulação e supervisão dos cursos de graduação, bem como para a melhoria do desempenho dos seus estudantes.
O setor privado de educação superior é fundamental para o país. Há décadas somos responsáveis por preparar uma parcela significativa dos profissionais que estão no mercado de trabalho. Assim como a educação como um todo, temos muito o que melhorar. Contudo, desacreditar o nosso trabalho e minimizar a nossa relevância por conta dos resultados do Enade não é justo e interessa somente a quem não está comprometido com o progresso do Brasil.
Seguiremos trabalhando arduamente e firmes no nosso compromisso de formar profissionais e cidadãos conscientes dos seus direitos, deveres e responsabilidades. Um novo país surgirá a partir da educação, e nós somos peça fundamental nessa engrenagem.
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