Cognição, de forma simplificada, diz respeito ao processo segundo o qual percebemos as coisas ao nosso redor e com elas aprendemos. Metacognição, por sua vez, se refere àquilo que transcende a cognição, permitindo refletir sobre o que aprendemos, como aprendemos, para que e em que contexto. Tal aprofundamento envolve refletir sobre a própria reflexão, ou seja, aprender como aprendemos.
Nós, homo sapiens, aprendemos o tempo todo, característica marcante da nossa espécie. E quanto mais intensas as experiências vivenciadas, em tese, aprendemos mais e mais rápido.
Entender sistemas complexos, como é o caso das relações entre humanos e o meio ambiente, demanda explorar, no limite superior, as habilidades especiais conferidas à nossa espécie. As simplificações não somente são incapazes de elucidar, como, de fato, podem prejudicar, iludindo e promovendo falsas compreensões e induzindo a conclusões e ações equivocadas.
Os eventos extremos que geraram a tragédia rio-grandense estão sendo, apropriadamente, analisados pelos especialistas de diversas áreas que convergem na produção de conhecimento transversal e compatível com a complexidade da situação. Nada tenho a acrescentar ao que já tem sido exposto. Por outro lado, interessa-me, em especial, entender os processos segundo os quais se aprende, em suas múltiplas camadas de percepção, a partir de problemas com complexas dimensões.
Um olhar cognitivo imediatista pode diagnosticar que raramente choveu tanto em um intervalo tão curto em uma mesma região. Ou seja, é tentador concluir que a natureza, por vezes, gera mesmo fatalidades. Como se fora inevitável. Seguindo essa percepção rasa, bastaria então torcer, e rezar, para que não ocorram mais.
Uma visão mais sistêmica, profunda e adequada da complexidade dos dados, por sua vez, evidencia que já existiam sinais e alertas claros. Mais relevante ainda, a sinalização é que, nada sendo feito, esses eventos tendem, no futuro, a ser cada vez mais frequentes, repetindo-se em intervalos de tempo, progressivamente, mais curtos.
Isolar uma variável, ao tratar complexidades, em geral, induz a raciocínios frágeis. Unicamente a título ilustrativo, a redução abrupta das matas ciliares e de áreas verdes ao redor de rios e riachos favorece o fluxo imediato de chuvas torrenciais (solos pouco permeáveis), produzindo maior escoamento superficial na forma de enxurradas que trazem sedimentos e consequentes assoreamentos dos fundos de vales e dos cursos d’água. Isso tudo ao lado de outros fenômenos interligados, tais como o aquecimento global, o El Niño e a La Niña e os afrouxamentos da legislação ambiental.
No exemplo citado, as motivações para o desmatamento e os conflitos associados são evidentes. A exigência de mais áreas verdes, especialmente de matas ciliares, aparenta prejudicar a produtividade dos proprietários rurais. O desafio pedagógico é como evidenciar a todos (especialmente aos produtores) que, às vezes, interesses de curto prazo encomendam prejuízos (bem) maiores de médio prazo.
Entre tantos desafios que temos, penso que, entre os mais relevantes, está aprender a entender e a respeitar a complexidade dos fenômenos naturais, dimensionando as ações humanas. Para tanto, há que se explorar nossa capacidade, fazendo uso de todo o conhecimento que herdamos e construímos, para encontrarmos, coletivamente, soluções de um convívio mais harmônico e sustentável com a natureza.
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