Max Damas
Assessor da Presidência da ABMES e do SEMERJ
Assessor da Presidência da FOA (Fundação Oswaldo Aranha)
O livro “Uma Breve História da Inteligência”, de Max S. Bennett, recém-publicado no Brasil, investiga a evolução da inteligência humana ao longo de bilhões de anos, identificando os principais avanços que moldaram nossa cognição e destacando a interseção entre o desenvolvimento cerebral e a inteligência artificial. Bennett apresenta uma abordagem que permite compreender como as transformações na maneira como aprendemos impactam não apenas a vida cotidiana, mas também a educação e a forma como o conhecimento é transmitido. A partir dessa perspectiva, este artigo analisa as diferentes inteligências que influenciam a educação superior, considerando os desafios e as oportunidades que surgem com a presença crescente da IA nas instituições de ensino.
A evolução da inteligência humana é um processo que se estende por bilhões de anos, marcado por saltos cognitivos que permitiram a aprendizagem, a adaptação e a inovação. No livro, Max S. Bennett explora como o desenvolvimento do cérebro humano moldou nossa capacidade de raciocínio e como essa evolução se relaciona com o avanço da inteligência artificial (IA). A partir dessa perspectiva, é possível refletir sobre o impacto das diferentes inteligências na educação superior e os desafios que emergem com a crescente presença da IA nesse contexto.
Inteligências Cognitivas e Sociais na Educação Superior
A inteligência cognitiva refere-se à capacidade de compreender, processar e aplicar informações de maneira lógica e analítica. No ensino superior, essa inteligência é tradicionalmente valorizada por meio de métodos de avaliação que exigem memorização, resolução de problemas e análise crítica. No entanto, a cognição não se limita a esses aspectos, abrangendo também a criatividade e a habilidade de desenvolver novas formas de pensar e aprender.
A inteligência social, por sua vez, está relacionada à capacidade de interagir com outras pessoas, compreender diferentes perspectivas e atuar de forma colaborativa. No ambiente acadêmico, ela se manifesta na comunicação eficaz entre docentes e estudantes, no trabalho em equipe e na construção de redes de conhecimento. Essa inteligência influencia diretamente a dinâmica do aprendizado e a capacidade de resolver desafios complexos de forma cooperativa.
Nos últimos anos, a neurociência e a psicologia têm evidenciado a interdependência entre a cognição e a inteligência social. A aprendizagem não ocorre de forma isolada, mas sim dentro de um contexto interativo em que a troca de ideias e a cooperação desempenham papéis fundamentais. Dessa forma, a educação superior precisa ir além do enfoque exclusivamente cognitivo e reconhecer a importância das interações sociais na construção do conhecimento.
Inteligência Artificial e Personalização da Aprendizagem
A inteligência artificial vem se consolidando como uma ferramenta poderosa no ensino superior, proporcionando novas abordagens para a personalização da aprendizagem. Os avanços tecnológicos possibilitam a análise de grandes volumes de dados para adaptar conteúdos, sugerir estratégias educacionais e oferecer feedback em tempo real. Isso permite que cada estudante tenha um percurso educacional ajustado às suas necessidades individuais.
A introdução da IA na educação gera debates sobre os benefícios e desafios dessa tecnologia. Enquanto a personalização do aprendizado pode aumentar o engajamento e a retenção de conhecimento, há preocupações quanto à dependência excessiva das ferramentas digitais e à perda da interação humana no processo de ensino. Além disso, questões éticas relacionadas ao uso de dados estudantis e à privacidade tornam-se cada vez mais relevantes no contexto educacional.
Outro aspecto importante da IA na educação superior é sua influência na redefinição do papel dos docentes. Com o suporte de ferramentas automatizadas, os professores podem concentrar-se em aspectos mais estratégicos do ensino, como o desenvolvimento de habilidades críticas e a mediação de debates. Dessa forma, a tecnologia pode atuar como um complemento à atuação docente, e não como um substituto.
Integração das Inteligências para uma Educação Transformadora
Para que a educação superior evolua de maneira sustentável e eficiente, é necessário integrar diferentes formas de inteligência. A inteligência cognitiva deve ser expandida por meio de metodologias ativas que incentivem o pensamento crítico e a autonomia dos estudantes. A inteligência social precisa ser fortalecida por práticas educacionais que promovam a colaboração, a empatia e o intercâmbio de ideias. Por fim, a inteligência artificial deve ser utilizada como uma aliada na otimização do ensino, sem comprometer a centralidade do fator humano na aprendizagem.
A convergência dessas inteligências pode transformar o ensino superior, tornando-o mais dinâmico e adaptado às exigências do século XXI. A combinação entre cognição, interação social e tecnologia cria um ambiente educacional mais flexível e inclusivo, no qual os estudantes são incentivados a desenvolver habilidades múltiplas para enfrentar desafios complexos e imprevisíveis.
O livro de Bennett reforça que a evolução da inteligência humana não se deu de forma linear, mas por meio de saltos e transformações. Na educação superior, essa perspectiva pode servir de inspiração para um modelo educacional que valorize não apenas a transmissão de conteúdos, mas também a construção de ambientes que favoreçam a inovação e a colaboração entre inteligências diversas.
Considerações Finais
A educação superior enfrenta um momento de transição, impulsionado por novas descobertas sobre a inteligência humana e os avanços tecnológicos. O desafio é equilibrar a inovação com a preservação dos elementos essenciais da formação acadêmica. A integração das inteligências cognitiva, social e artificial pode ser a chave para transformar o ensino superior, preparando os estudantes para os desafios de um mundo em constante mudança.
Diante desse cenário, a formação de professores também precisa ser repensada. Capacitações voltadas para o uso das novas tecnologias, bem como estratégias pedagógicas baseadas na diversidade de inteligências, podem contribuir para um ensino mais eficaz e alinhado às demandas do século XXI. Além disso, políticas públicas voltadas para a inovação educacional devem incentivar o desenvolvimento de ambientes que possibilitem a experimentação e o uso da tecnologia de forma ética e responsável.
À medida que as instituições de ensino superior se adaptam a essa nova realidade, a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento será essencial para garantir que a educação continue evoluindo de forma integrada e humanizada. Dessa forma, o ensino superior poderá não apenas acompanhar as mudanças tecnológicas, mas também potencializar suas oportunidades e impactos positivos na sociedade.
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