Na discussão sobre terras-raras, é importante destacar que a complexidade do tema vai muito além do ciclo de extração, refino e empacotamento desses elementos, que são essenciais para a indústria eletrônica. A produção de chips semicondutores, por exemplo, depende desse grupo de 17 elementos químicos, que possuem propriedades magnéticas, luminescentes ou catalíticas indispensáveis na fabricação de componentes eletrônicos avançados. Durante o processo de fabricação de chips, as terras-raras são utilizadas em diversas etapas, como o neodímio na produção de ímãs poderosos e em filmes finos e componentes ópticos presentes em telas de dispositivos eletrônicos.
Esses elementos estão distribuídos por várias regiões do mundo. A China lidera a produção global, detendo cerca de 60% das reservas e quase 100% da capacidade de processamento. Outros países com reservas relevantes incluem o Brasil, com aproximadamente 20% a 30%. A mineração de terras-raras é um processo complexo, caro e ambientalmente desafiador, uma vez que a separação e purificação exigem tecnologia avançada, muitas vezes indisponível em países como o Brasil, exceto na China.
Por outro lado, a cadeia de produção de chips semicondutores envolve múltiplos países, cada um com suas especialidades. Entre os principais atores estão Taiwan, que lidera na fabricação de wafers de silício e produção de chips avançados, com destaque para a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company); e a Coreia do Sul, especializada em memórias (DRAM e NAND flash) e chips de processamento, com empresas como Samsung e SK Hynix. Os Estados Unidos também têm papel fundamental, voltados ao design de chips, desenvolvimento de tecnologia, fabricação de equipamentos e produção de chips finais, com empresas relevantes como Intel, AMD, Qualcomm, Apple, NVIDIA e Texas Instruments.
Além disso, a cadeia depende fortemente da Holanda, especialmente da fornecedora de ferramentas de litografia ultrarrápidas, a ASML, indispensável na fabricação de chips avançados. A China busca ampliar sua capacidade de fabricação de chips, produzindo componentes, testando e desenvolvendo tecnologia própria, com destaque para a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corporation). O Japão, por sua vez, fornece materiais avançados, como gases e metais raros, além de equipamentos especializados. Complementando o ciclo, países como Malásia, Cingapura e Filipinas são responsáveis pela montagem, embalagem e testes finais dos chips.
Essa cadeia globalizada exige coordenação internacional rigorosa, logística complexa e investimentos contínuos em pesquisa e inovação para avançar na tecnologia de semicondutores. Qualquer tentativa de desestabilizar esse sistema por meio de guerras comerciais ou motivações políticas pode desencadear uma crise mundial sem precedentes.
3




