Vivemos uma era em que o conhecimento e a inovação não conhecem fronteiras. As grandes transformações tecnológicas, econômicas e culturais que moldam o século XXI exigem profissionais capazes de atuar em ambientes diversos, multiculturais e em constante mudança. Nesse contexto, a internacionalização do ensino superior deixou de ser um diferencial para se tornar condição essencial na formação integral dos estudantes. Falo aqui não apenas de oportunidades acadêmicas fora do país, mas de uma mentalidade global que deve permear nossas instituições, currículos e projetos educacionais.
Quando pensamos na formação do futuro profissional brasileiro, é impossível ignorar que as maiores inovações científicas e tecnológicas emergem de ecossistemas interconectados, como universidades, empresas e centros de pesquisa que compartilham experiências, metodologias e soluções em escala global. A internacionalização amplia a capacidade de inserção do Brasil nesse circuito, fortalecendo nossa produção de conhecimento e, ao mesmo tempo, preparando nossos jovens para competir e colaborar em um mercado de trabalho que já é, por natureza, globalizado.
Há algum tempo venho refletindo sobre como aproximar nossas instituições de educação superior dessa realidade. Essa reflexão ganhou força durante a 7ª Delegação ABMES Internacional – Silicon Valley Experience, realizada na semana passada. Foram dias de intenso trabalho e aprendizado, em que educadores, gestores e empreendedores educacionais brasileiros puderam mergulhar em um dos ambientes mais inovadores do planeta. Em cada visita ficou evidente que o sucesso das universidades e empresas que prosperam no Vale do Silício não se deve apenas à tecnologia, mas à abertura para o mundo, à cooperação internacional e à disposição permanente para aprender.
A experiência reforçou algo no qual sempre acreditei: internacionalização não é sinônimo de “mandar estudantes para fora”, mas de trazer o mundo para dentro das nossas instituições. Isso envolve ações concretas como criar redes de pesquisa com parceiros estrangeiros, estimular programas de dupla diplomação e, claro, fomentar o intercâmbio de docentes e estudantes. É um processo que começa na sala de aula e se estende à gestão, à cultura organizacional e à própria visão de país que queremos construir.
Contudo, esse ainda é um desafio por aqui. Nem na concepção mais básica de internacionalização temos números consistentes. Estimativas da Unesco indicam que, em 2022, havia cerca de 88 mil brasileiros cursando uma graduação no exterior, frente a 9,44 milhões de matrículas no país no mesmo ano, o que equivale a cerca de 0,9% do nosso contingente de estudantes. Entre os países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a participação média de estudantes matriculados fora do país de origem gira em torno de 6% a 7% (2021/2022).
Ao mesmo tempo, o número de estudantes estrangeiros em nossas instituições também é baixo, o que limita as trocas culturais e científicas que poderiam enriquecer a formação de todos. É preciso criar políticas públicas e incentivos institucionais que revertam esse cenário, reconhecendo a internacionalização como estratégia nacional de desenvolvimento.
Quando um estudante participa de um projeto de pesquisa com uma universidade estrangeira, faz estágio em outro país ou interage com colegas de diferentes culturas em um ambiente acadêmico conectado, ele desenvolve não apenas competências técnicas, mas também habilidades humanas como empatia, comunicação intercultural, criatividade e resiliência.
Essas competências são as mesmas exigidas por um mundo que atravessa desafios globais: das mudanças climáticas à transição energética, das novas tecnologias à saúde planetária. E é justamente por isso que a internacionalização deve ser vista como um investimento estratégico, e não como um luxo.
Durante a ABMES Silicon Valley Experience, percebi que o diferencial das universidades que lideram o cenário mundial está em sua capacidade de integrar o local e o global. Elas formam cidadãos com raízes sólidas em suas comunidades, mas com mentalidade aberta, capazes de dialogar com o mundo e de traduzir conhecimento em impacto social e econômico. É esse espírito que precisamos cultivar em nossas instituições.
A internacionalização é, em última instância, um projeto de nação. É por meio dela que formaremos profissionais aptos a inovar, empreender e transformar o Brasil em um país mais competitivo, conectado e humano. Ao abrir as portas para o mundo, abrimos também as portas de um futuro que começa dentro das nossas universidades e que se realiza plenamente quando nossos estudantes compreendem que o conhecimento é, acima de tudo, universal.




