“Perguntar qual o efeito da tecnologia na escola é o mesmo que perguntar qual o efeito do quadro negro na sala de aula. Depende do que se escreve nele." Christopher DedePadre Antônio Vieira, pregando um de seus sermões mais famosos, o da Sexagésima, na Capela Real de Lisboa na semana santa do ano de 1655, discorria o sofrimento de Cristo com pormenores, procurando mostrar com toda a emoção de suas palavras os últimos momentos de Cristo. Usava como último recurso a oratória e ao perceber o auditório indiferente, recorre ao exemplo de uma cortina que pudesse ser lançada do teto com a Imagem de Cristo tendo o peito transpassado pela lança de um dos soldados. Padre Vieira tinha consciência absoluta do valor do recurso de uma imagem. Uma história contada é uma coisa e um fato ilustrado é outra. A imagem nos mostra a realidade escondida entre palavras, nos faz entender a história, o presente, passado e futuro com mais facilidade, nos traz discernimento. Na virada do século XIX, com aparecimento do ensino a distância, com o suporte pelos correios, acreditou-se que as salas de aula estariam com os dias contados. Mais para frente, Thomas Edson profetizou que o cinema iria revolucionar a educação em 10 anos. Durante todo o século XX, a cada novidade tecnológica de comunicação, os futurologista da educação previam que eles seriam os caminhos pelos quais a educação seria revolucionada, fosse o rádio, a TV, o gravador K7, o gravador de fitas de vídeo, os computadores pessoais, os CDs educativos, a internet e, mais recentemente, o móbile permitido pelos tablets e celulares. Em uma recente entrevista, Christopher Dede, da Faculdade de Educação UNIVERSIDADE HARVARD, colocou que “É preciso, em primeiro lugar, ter um propósito educacional e só depois escolher que tecnologia melhor se adéqua a esse plano"[1]. E o que estamos a ver com a ideia de 700 mil tablets na rede pública é de novo a inversão das prioridades educacionais. No início dos anos trinta do século XX, o Manifesto da Educação Nova conclamava a sociedade em relação aos rumos de modernidade que devia alcançar a educação primária da época. As escolas precisavam de bibliotecas e se beneficiavam dos recursos do cinematógrafo, a última novidade daqueles tempos. Para atender a esta demanda, o governo enviou livros para todas as escolas e investiu na aquisição de 250 projetores de cinema para serem distribuídos entre elas. Isto pois o ministro da época pensava ser a maior inovação pedagógica, tornou-se um retumbante fracasso. Uma vez faltava eletricidade na escola, outra, não tinha alguém que soubesse operar o projetor e nunca existia um filme para ser passado. Estamos prestes a transcorrer as histórias do passado e recordarmos de nossas lembranças remotas do sermão do Padre Vieira. Vivenciaremos a revolução tecnológica dentro do ano de 2012 sem resultados efetivos e satisfatórios. Esse caos antecipado tem nome e chama-se tablet ou falta de planejamento. A revolução tecnológica dos últimos 20 anos ainda não proporcionou grandes resultados efetivos e satisfatórios. E agora tablets e sua mobile aparecem como uma nova panaceia para revolucionar a educação e de novo vemos a falta de planejamento, pois o problema não é uma nova ferramenta, mas o que fazer com ela. Os 700 mil tablets destinados ao ensino médio não surtirão efeito caso não exista um perfeito planejamento, conteúdo para serem transmitidos aos alunos, profissionais adequados e especializados para exercer a função de orientador tecnológico e educador. Estes profissionais precisam dominar completamente os aparelhos e todas as ferramentas que neles constam. A estrutura da escola deve estar em perfeito estado de funcionamento e adequada para receber toda a tecnologia que será inserida através dos tablets ou através de qualquer outro meio tecnológico. É necessário que cada órgão competente esteja completamente ligado a essas estratégias. Recentemente num programa da Fundação QATAR Education - WISE[2], difundida pela rede Euronews, chamado de “Livros digitais: o futuro?”, um jovem aluno de 12 anos de uma escola francesa relata de forma bem franca como vê o uso dos tablets na escola: “é uma espécie de brinquedo que nos deram gratuitamente que raramente usamos em sala de aula e quando usamos é para acessar a internet, foi uma decepção”. Essa fala de um aluno de primeiro mundo já nos coloca diante do perigo que isso por ter numa realidade como a brasileira. Não podemos confundir a ferramenta com a metodologia! O quadro negro e o giz foram um grande avanço tecnológico, pois permitiram apagar e reescrever, o que no papel era extremamente difícil. O que temos diante de nos é, sobretudo, o maior desafio da educação: formar professores capacitados para darem conta das mudanças tecnológicas e do mundo lhe municiando com novas metodologias e didáticas para fazer bons planos de aula que permitam que as novas ferramentas possam ser usadas em seu mais alto potencial. O problema não está na implantação de novas ferramentas tecnológicas, mas no efetivo preparo do professor para o seu uso! Assim é possível detectar falhas no sistema de planejamento do governo, que além de não se preocupar com a formação docente, também não investiu ainda adequadamente no sistema de acesso a banda larga. Pois, segundo Ethevaldo Siqueira, apesar da senhora Presidenta da República dizer que “o Governo Federal está trabalhando a todo vapor para levar a internet em banda larga a todos os municípios ate 2014”[3], e prometer elevar a penetração da banda larga dos atuais 27 % para 60% do total das casas com acesso rápido, o governo não investe o suficiente e ainda confisca anualmente os recursos de 6 bilhões por ano dos fundos de telecomunicações. Afirma também que a iniciativa privada toma conta desse processo neste momento e diz ainda que a contribuição da Telebrás não chega a 2% dos acessos de banda larga levando em consideração o ano de 2011. Volto a enfatizar que o problema está no como usar a ferramenta e não em qual ferramenta usar. Provavelmente estamos criando mais um problema e não dando uma solução. Levando em consideração todos estes dados, a falta de reformas estruturais para o recebimento de toda essa tecnologia, a privação de professores capacitados e que tenham o discernimento de saber trabalhar com todas as ferramentas disponíveis nos tablets e a partir daí elaborar projetos escolares eficientes, estruturarem suas aulas e torná-las mais dinâmicas e interessantes, o necessário é fazer um planejamento estratégico, pedagógico e tecnológico, integrados e em perfeita harmonia, pois “uma andorinha só não faz verão”. Caso contrário a utilização dos tablets será banalizada e nossos alunos terão acesso fácil ao mundo dos jogos e redes sociais patrocinados pelo governo.