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Demências tipográficas: surrealismo na poesia de Álvares de Azevedo

Notícias na Mídia

17/08/2013 05:31:15

Antonio Carlos Secchin Poeta, ensaísta e crítico literário brasileiro Membro da Academia Brasileira de Letras ***
"A junção substantivo/adjetivo, em nosso Ultrarromantismo, pautou-se por um escasso teor de inventividade: a virgem era pura, a lua era pálida, a saudade, infinda, os lábios, ardentes e o céu, azul ou brilhante". "Um número excessivo de erros sugere displicência ou, pior ainda, ignorância gramatical (...) Quanto mais arrevesado o vocabulário do autor, maiores as chances de falha na passagem do manuscrito à impressão".
O Arcadismo no Brasil iniciou-se com as "Obras" (1768), de Cláudio Manuel da Costa, certo? Errado. Basta verificar a folha de rosto do volume: devido a um erro tipográfico, o livro denomina-se "Orbas". Portanto, a poesia brasileira do século 18 já nasceu nomeada com defeito de fábrica. É incrível como erros dessa monta puderam passar despercebidos a autores, tipógrafos e revisores, quando, uma vez dados a lume, eles se tornam, exatamente, aquilo que primeiro se enxerga num livro. Existe, para combatê-los, o recurso da errata, repertório dos cochilos corrigidos à última hora: antes de o volume chegar à mão do leitor, mas já depois de haver sido impresso. Uma alternativa intermediária entre manter o lapso ou redimi-lo com a errata consiste na intervenção manuscrita e direta do autor (ou de colaboradores) nas letras ou palavras errôneas, no próprio miolo do livro. Entre nós, o caso mais famoso, sem dúvida, remonta à edição das "Poesias Completas" (1902), de Machado de Assis, em cuja "Advertência" a palavra "cegara" teve o "e" transformado em "a". Pressurosas mãos trataram de remover, em quase todos os exemplares da tiragem, a inoportuna letra adventícia e de reconstituir a forma original. Convenhamos que tal atitude revelou-se mais adequada do que estampar uma constrangedora errata, sobretudo considerando-se os, digamos, pudibundos padrões morais da época. Contradição Quase contemporânea, uma outra errata revelava antes a imperícia do narrador do que propriamente um deslize linguístico. Quando publicou "Flor de Sangue" (1897), Valentim Magalhães percebeu, tarde demais, que a morte de um personagem havia sido atribuída a causas diferentes, em dois momentos da narrativa. Ocorreu-lhe, então, a ideia de eliminar a contradição por meio da errata, que, afinal, acabou tornando mais notório o grosseiro engano: "À página 285, quarta linha, em vez de 'estourar os miolos', leia-se cortar o pescoço". A ironia é que hoje, no mercado dos livros raros, a errata, de tão inopinada, elevou a cotação do próprio romance, pois foi graças a ela que "Flor de Sangue" alcançou (se é que alcançou) alguma sobrevida. Um número excessivo de erros sugere displicência ou, pior ainda, ignorância gramatical. O escritor que desejasse restringir na errata o montante dos enganos optava, em geral, por advertir que lapsos evidentes seriam facilmente corrigidos pela "inteligência do leitor"; seguiam-se, então, apenas as palavras, truncadas ou trocadas, passíveis de comprometer a compreensão do texto. Quanto mais arrevesado o vocabulário do autor, maiores as chances de falha na passagem do manuscrito à impressão. Daí, talvez, que, impotente para sanar as numerosas gralhas perpetradas na impressão de seu romance "Mocidade Morta" (1899), Gonzaga Duque, em dedicatória a Mário Pederneiras, tenha definido o volume como "monstro tipográfico". Demência  Bem problemático no que tange à observância da vontade autoral é o legado de Álvares de Azevedo (1831-52). De nossos principais poetas românticos, foi o único que morreu sem ter livro publicado. Assim, sua obra literária, póstuma, foi inicialmente editada em dois volumes (1853 e 1855) pelo primo Domingos Jaci Monteiro, responsável pela decifração da intrincada caligrafia do poeta. A quase totalidade dos manuscritos perdeu-se-ão que tudo indica, irreversivelmente. A partir de então, proliferaram as reedições, sem que se atentasse para um provável erro, localizado no quarto verso de um de seus mais famosos poemas, "Lembrança de Morrer". É curioso que a nenhum dos exegetas ou antologistas de Álvares tenha causado estranheza o verso "Em pálpebra demente". Sabemos que a junção substantivo/adjetivo, em nosso Ultrarromantismo, pautou-se por um escasso teor de inventividade: a virgem era pura, a lua era pálida, a saudade, infinda, os lábios, ardentes e o céu, azul ou brilhante. Como, em meio a tão previsíveis consórcios lexicais, entender uma pálpebra enlouquecida? Mediante certa imaginação, poder-se-ia conjecturar um processo metonímico: demente não seria a pálpebra, mas a pessoa, o todo de que ela faz parte. Impasse de tal interpretação: ao narrar premonitoriamente as circunstâncias de seu velório e enterro (daí a "Lembrança de Morrer"), o poeta, no decorrer do texto, atribui apenas a si mesmo o campo semântico da insensatez -logo, o adjetivo "demente" se revela inapropriado para qualificar outrem, ao contrário do que o verso 4 está afirmando. Outro pormenor: na "Lira dos Vinte Anos", sempre que se utiliza desse vocábulo, Álvares o faz em combinações rotineiras, ao lado de substantivos com teor abstrato ou etéreo: "amor", "alma", "sonho" e "anjo" demente(s). Mas "pálpebra"? Não seria razoável, então, aventar a hipótese de um descuido na transcrição do manuscrito? Já dissemos que Álvares, bem cedo falecido, não pôde chancelar a edição do livro. Monteiro, o primeiro transcritor, alçou-se assim, no mesmo passo, ao papel de leitor-intérprete da obra, estabelecendo a lição textual até hoje soberana, inclusive no que toca a trechos eventualmente mais duvidosos do original. Tremor  Desviando-nos, aqui, de tal lição, por que não considerarmos a possibilidade de que, em vez de uma enigmática demência, a pálpebra estivesse acometida, apenas, de um reles tremor? "Não derramem por mim nem uma lágrima/ Em pálpebra demente": onde se lê "demente", leia-se "tremente". Febres, desmaios, tremores e palpitações são hóspedes costumeiros dos sintomas líricos de Azevedo. A expressão "pálpebra tremente" foi utilizada por mais de um poeta do período. Em "Lembrança de Morrer", é lícito supor que, frente à morte, o choro convulso de amigos desencadeasse um involuntário descontrole fisiológico, responsável pelo tremor, sem que as faculdades mentais de uma pálpebra estivessem em questão. Na ausência do manuscrito, nunca chegaremos a uma verdade inconteste, nesse e em casos semelhantes. Isso não impede que se dê especial atenção a erros & erratas, para que as obras de nossos autores sejam reeditadas o menos imperfeitamente possível. Trabalhando com textos criteriosos, o pesquisador e o professor não mais terão de gastar em vão suas pestanas e pálpebras docentes.
 
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