As melhores universidades do mundo abrem as portas da excelência ao oferecer na rede cursos inteiros de graça.[1]No final da década de 1960 um controvertido personagem mundial vivia fazendo previsões apocalípticas sobre o destino da humanidade: um mundo populoso sem reservas naturais e ambientais seria destroçado por meio de choques entre pobres esfomeados e ricos enjaulados em suas moradias. A mídia propagava a visão dessa estranha figura, Herman Khan, um americano com corpanzil de 150 quilos, porém carismático com raciocínio arguto e extremamente inteligente. Com sólida formação matemática e física, QI igual a 200, capaz de falar doze horas seguidas sem apontamentos, Khan era consultor e assessor de presidentes de nações e de empresas. Quando esteve no Brasil sofreu críticas assoberbadas pela tese que defendia sobre a internacionalização da Amazônia e pela predição infausta de que continuaríamos a ser nação pobre nos anos 2000. Ainda bem que nem todos os seus palpites se confirmaram e principalmente os relativos à nossa realidade. Lembrei-me dele ao refletir sobre o futuro que nos espera, durante o 15.º Fnesp – “Competitividade e mudanças no DNA institucional”– promovido pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), nos dias 26 e 27 de setembro. Vivemos duas realidades distintas: a da permanente presença atávica do sistema universitário ultrapassado e o desafio dos novos tempos digitais e da interconectividade. Não é preciso ter muita argúcia para perceber que, de modo geral, o sistema de ensino está cercado por cursos envelhecidos com currículos antiquados, corpo docente “cansado-acomodado”, laboratórios ultrapassados, ambiente tradicional, bibliotecas desatualizadas e gestores desmotivados. Os estudantes com formação básica deficiente se mostram desinteressados, preocupados unicamente com um diploma que lhes sirva para futura atuação profissional, porém antenados com seus tablets e gagets. O conjunto desses fatores explica outro problema grave: a evasão. Assim, a universidade brasileira é ineficiente e ineficaz. Não se transforma, não inova e não muda. É rançosa e medrosa. Enquanto os estudantes demandam mais recursos para as aulas presenciais com teleconferências, redes inteligentes sem fio e ambientes diferenciados, a maioria das intuições de ensino superior (IES) continua presa ao modelo de aula tradicional. Além disso, estão subjugadas às normas restritivas dos órgãos e autoridades educacionais que ficam com picuinhas atazanando a vida de quem quer inovar. Por outro lado, universidades internacionais estão oferecendo palestras online em massa. A Universidade de Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) se uniram para criar conteúdos adaptados para a web. A Udacity[2] deu o pontapé inicial na oferta de aulas online exclusivamente com professores renomados. Há também cursos promovidos pelo Coursera, Tedx e Veduca à disposição dos estudantes de todas as partes do mundo. Os diversos formatos desse novo cenário na transmissão do conhecimento, baseados na colaboração entre pessoas, na interatividade das redes e na inteligência coletiva, foram tratados pela jornalista Anna Penido, diretora executiva do Instituto Inspirare, numa das palestras do 15º Fnesp. Para ela, um número significativo de atividades educacionais pode ser realizado de forma diferente das atuais para permitir que estudantes vocacionados aprendam mais e melhor. E olha que alguns conferencistas participantes de edições do Fórum do Semesp sempre acertam com suas previsões. Cito Luiz de Almeida Marins Filho, presidente da Anthropos Consulting, em 2001, que não era visionário como Khan, ao tratar dos desafios do Brasil no século XXI:
“Vivemos numa sociedade em transformação. Num planeta em extrema mudança quem não acompanhar este ritmo sucumbirá. De qualquer lugar do planeta, graças ao comércio eletrônico, as facilidades da logística e da distribuição, uma empresa poderá dominar mercados mundiais. Nada ficará fora da competição global. Nem mesmo a educação. Não competimos mais com nossos vizinhos ou com concorrentes de outro estado. A competição é global mesmo. Num mundo como este, a única certeza que temos é que tudo vai mudar. Ficamos completamente obsoletos. Viramos fósseis rapidamente! A Internet, novos produtos, novas tecnologias exigem de nós uma acelerada busca de atualização A tendência é de nos acomodarmos por termos medo do novo, do desconhecido. O mundo exige de nós uma grande determinação para uma constante aprendizagem. E apesar de todos os problemas com os quais nos defrontamos, e segundo prognósticos feitos pelos organismos econômicos internacionais, o Brasil continuará sendo uma das melhores opções para o capitalismo ocidental.”E, parafraseando Anna Penido, sei que não dá para mudar tudo abruptamente, de uma hora para a outra. Mas é preciso começar. Aos poucos, porém, rompendo com a inércia, se não quisermos ficar para trás.
[1] A revista Veja desta semana (Edição 2.341) trás na sua reportagem de capa a revolução do ensino online no mundo.
[2] Organização educacional sem fins lucrativos fundada por Sebastian Thrun, David Stavens, e Mike Sokolsky. https://www.udacity.com/us. “Nossa missão é trazer acessível, acessível, cativante e altamente eficaz de ensino superior para o mundo. Acreditamos que a educação superior é um direito humano básico, e buscamos capacitar nossos alunos para promover a sua educação e carreiras.”