Pesquisa mostra que diplomados por universidades particulares brasileiras têm melhor desempenho nas empresas do que os diplomados em suas congêneres públicas. [1]
Década de 1980. Dona Maria, empregada diarista paraibana, morava num dos casebres da então célebre "Favela do Buraco Quente" por onde passa hoje a Avenida Jornalista Roberto Marinho, nas proximidades do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Por trabalhar duas vezes na semana em casa, conhecíamos sua árdua luta pelo sustento da família em lar coalhado de crianças. Num fim de ano ela nos procurou para entregar o convite de formatura em administração de sua penúltima filha, a Gislene, dizendo: "Tive onze filhos e ela foi a que conseguiu estudar até o fim com meia bolsa da faculdade".
É pena que não tenhamos estatísticas para demonstrar expressivamente o que representam os subsídios do setor particular de ensino às mensalidades dos alunos, visando a facilitar o acesso social de dezenas de milhares deles. Certamente os estudantes fizeram a sua parte para ultrapassar os seus desafios diários e conseguir melhores condições de vida, mas sem dúvida a ajuda do setor foi valiosa. Com o tempo, Gislene ascendeu profissionalmente na hierarquia superior de empresa exportadora onde trabalhava e a família pôde adquirir uma boa casa de classe média.
O reconhecimento pelo estudo como indutor de progresso individual está muito mais enraizado hoje nas famílias de menor renda, e a mídia sempre mostra exemplos de superação e de sucesso. Tal fato comprovou-se, mais uma vez, no domingo passado, pela chegada ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de pessoas que no passado não conseguiriam essa façanha: Éllon Bernardes, filho de pedreiro, residente em Altamira no Pará, que deseja fazer engenharia na Universidade Federal do Pará (UFPA); Rosineide de Souza, de 35 anos, doméstica, moradora em Maracanaú, perto de Fortaleza, que quer cursar Enfermagem (o Ceará foi o terceiro com maior número de inscritos no Enem); João Batista de Souza, de 72 anos, aposentado, residente no Rio Grande do Sul, que, incentivado pelo filho formado, pretende cursar faculdade.
Todos eles têm em mira matricular-se numa universidade pública gratuita, mas normalmente nela não conseguem entrar, porque os classificados quase sempre são jovens oriundos de famílias de maior poder aquisitivo, que tiveram chance de cursar os melhores colégios particulares. Esse descompasso é explicitado mais claramente em estudo dos economistas Andrea Curi (EESP/FGV) e Naércio Menezes Filho (Insper): aluno de colégio que cobra R$ 2 mil mensais faz 875 pontos no Enem e aluno de escola que cobra R$ 1 mil faz 700. (Folha de S. Paulo, 26/10).
Ainda bem que existem hoje as possibilidades do ProUni e do Fies para abrirem as portas do sistema universitário particular aos alunos. Diga-se de passagem que o sistema privado, ainda que desprestigiado pelo MEC nas equivocadas avaliações externas, é um grande parceiro na oferta do ensino superior – está aonde o Estado não chega.
E como tudo na vida que é de graça não é valorizado, são justamente egressos do sistema particular universitário, aqueles que mostram melhor desempenho no mercado de trabalho. Como possuem sonhos e projetos de vida mais arrojados, quase sempre vencem os mais abonados, que estão acomodados, porque "a cama já está feita".
É o que nos mostram otimisticamente, pela quarta vez, os resultados da pesquisa "Formação Acadêmica dos Profissionais”, realizada em 2012, sobre participação no mercado, na empregabilidade, frente aos egressos do ensino público superior. A pesquisa encomendada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) foi feita pela Toledo&Associados, empresa competentemente qualificada no ramo.
Os resultados apontam o recorde de que 93% dos que ocupam cargos nos diversos escalões de empresas são formados pelo setor privado, com especial destaque para gerências, diretorias e presidências.
Ponto alto da pesquisa, que tem caráter muito positivo, é a constatação de que 99% dos profissionais empregados na faixa de 20 a 24 anos se formaram em instituições de ensino superior (IES) particulares, mesmo considerando que no estado de São Paulo 60% dos alunos chegam das escolas de ensino básico da rede pública. Este é o conhecido momento do “fogo cruzado”, quando concluintes do ensino médio cruzam do setor particular para o público e vice-versa.
Considerando os resultados das pesquisas anteriores, a evolução foi muito significativa: em 2001 a taxa de profissionais empregados era de 77%; em 2004, de 76%; em 2008, de 88% para agora atingir 93%, o que pode representar elevação do grau de satisfação dos empregadores em relação às competências e habilidades dos profissionais que contratam.
Dentre as informações contidas na pesquisa – afora as numéricas/quantitativas – as que espelham melhor a realidade de dedicação no preparo para o mercado de trabalho estão as de natureza qualitativa, fato que comprova a seriedade da formação desses profissionais. Senão, vejamos: 86% ocupam presidências de empresas; 87% em diretorias e 95% em gerências. Isso sem contar os extraordinários índices de participação em outros setores: serviços, 93%; comércio, 96% e indústria, 94%.
A pesquisa mostra ainda que a maioria dos profissionais formados nas escolas particulares é considerada capaz de transferir, com êxito, os conhecimentos adquiridos nos cursos para atuar no mercado de trabalho, como é o caso das engenharias, administração, direito, finanças, biomedicina, arquitetura e comunicação, focos principais da pesquisa.
Com todos os dados coletados e demonstrados, o setor ganha mais um ponto favorável no acerto às críticas que vêm sendo feitas ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), cujos resultados não convencem, exatamente pelos desvios na formulação dos dados que o Inep/MEC insiste em adotar – num desvario estatístico – que acaba por desacreditar um trabalho comprovadamente sério realizado pelas IES particulares.
[1] “Pesquisa Semesp: Formação Acadêmica dos Profissionais”. Toledo & Associados. 2012.