El que no oye consejos, no llega a viejo. (José Calles Vales)Steven Paul Jobs ("Steve" Jobs) foi inventor, empresário, cofundador, presidente e diretor executivo da Apple. É reverenciado pela transformação que fez na indústria de computadores pessoais, nos filmes de animação, na música, na telefonia, nos tablets e nas publicações digitais. Em 1972, Steven sai de casa, contra a vontade de seus pais, para aventurar-se na vida. No ano seguinte cursa apenas por seis meses a faculdade (Reed College/Portland). Apesar de aluno desistente, faz uma série de cursos livres dentre os quais o de caligrafia, que anos mais tarde o influenciaria na tipologia gráfica do Macintosh. No Brasil também temos muitos empreendedores e empresários que, a exemplo de Jobs, nunca colocaram o pé numa escola, dentre os quais Valentim Tramontina, fundador da Tramontina, e Amador de Aguiar, que começou como simples office boy de banco em Birigui, cidade paulista, e que mais tarde transformou uma casa bancária falida de Marília/SP no maior banco da América Latina, o Bradesco. A propósito, na penúltima edição da revista Exame (O dono da Laureate, quem diria, fugiu da escola), a jornalista Tatiana Bautzer entrevistou o americano Douglas (Dough) Becker, fundador da rede Laureate de universidades, que também não completou a sua formação superior, pois deixou a faculdade aos 19 anos para empreender seus projetos. Todos os citados são exemplos de sucesso empresarial, formados na escola da vida: venceram graças ao seu feeling por negócios. No início dos anos 2000, em Baltimore, conheci Becker, sócio majoritário da Sylvan Learning Systems, uma rede de cursos de reforço espalhada pelos EUA para dar apoio aos alunos das escolas públicas que tinham deficiências de aprendizagem. Convidado, assisti à sua palestra de mais de hora e meia falando com grande entusiasmo sobre a expansão do ensino superior mundial que ocorreria nos próximos 10 anos. Seus vaticínios estavam corretos porque vendeu a Sylvam e criou a Laureate, que hoje oferece cursos superiores para cerca de 800 mil alunos em mais de 75 instituições localizadas em 30 países, da América do Norte, América Latina, Europa, África, Ásia e até do Oriente Médio. Por ter inequívoca experiência do ensino superior mundial, considerei interessante refletir sobre alguns pontos da entrevista de Becker, com destaque para os seguintes aspectos: crescimento do ensino superior brasileiro; avidez por resultados a curto prazo dos fundos que aplicam em educação; comparação entre ensino a distância e o presencial; qualidade dos cursos e aspectos regulatórios da educação brasileira. Todos sabem que, devido o encolhimento demográfico da classe média alta, o crescimento do ensino superior está sendo realizado graças aos incentivos de financiamento propiciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fies). Becker – conhecedor do que aconteceu nos EUA, com a expansão pelo governo do crédito estudantil de maneira assemelhada ao modelo brasileiro – alerta para um ponto ainda não analisado no Brasil. Trata-se do que acontecerá com os possuidores de crédito do Fies que abandonam seus cursos e que não possuem condições de pagar o financiamento. Para não desequilibrar o sistema, não sabemos o que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) previu em relação a esta questão. Outro assunto abordado por Becker diz respeito aos aplicadores de fundos que têm ações nas empresas educacionais e que não sabem que educação não funciona como outro qualquer negócio. A nosso ver, é difícil encontrar a equação justa que contente o investidor e que propicie um bom desempenho institucional. Em educação não é fácil seguir as regras clássicas do negócio com ações, por meio das quais o investidor, ao aplicar recursos num fundo de investimento, visa a obter o maior retorno possível, quando da compra de participação acionária de determinada empresa, pressionado-a na busca de resultados sempre maiores. Becker diz que isto só pode ser evitado se os fundadores possuírem a maioria das ações, quando a pressão por resultados imediatos pode ser contrabalançada. Segundo ele, o Brasil possuidor de 75% de universitários no sistema privado – índice superior ao dos Estados Unidos – é um dos maiores mercados do mundo para investimento em educação superior. Com referência ao ensino a distância, Becker destaca que nos EUA não há diferença de preço em relação aos cursos presenciais. A escolha é feita em função da comodidade do estudante e do renome da instituição e não pelo preço. A concorrência é muito forte com mais de quatro mil universidades oferecendo os dois tipos de cursos aos adultos que trabalham. Ele destaca que "no Brasil o alvo do ensino a distância não é o estudante que pode escolher entre uma universidade tradicional e uma online, mas aquele que não tem escolha alguma". Becker se preocupa com o nível de desempenho destes cursos e considera importante uma regulação rigorosa pelo Ministério da Educação (MEC), principalmente agora em que se está pensando na ampliação do financiamento do Fies para a educação a distância. Reconhece porém que o Brasil tem um dos melhores sistemas reguladores do mundo para avaliar a qualidade de suas instituições. Concluindo – e o pensamento é nosso – nenhuma empresa prospera se não estiver atenta aos desejos de seu consumidor. E no caso educacional, os recursos humanos formados também são importantes para o desenvolvimento do país. Em suma, se não houver equilíbrio entre lucro, estudante satisfeito e desenvolvimento do país, o negócio por si só não se sustentará. Vale, portanto, uma reflexão sobre os “conselhos” de Douglas Becker sobretudo no que diz respeito à regulação do ensino superior feita pelo MEC. Talvez seja um mal necessário, mas suas entidades representativas precisam estar sintonizadas, atentas e unidas para se defenderem do excesso de intervenção da burocracia estatal, principalmente quando seus dirigentes e técnicos conhecem as instituições de ensino apenas por terem um dia sentado em seus bancos.