"A mudança é inevitável, é uma questão de sobrevivência da instituição de ensino superior/curso/professor... É inútil resistir às mudanças, pois elas virão, queiramos ou não... Existem oportunidades e riscos para aqueles que se dispuserem ou não a participarem das mudanças..." (Nério Amboni)*Manuel Castells Oliván, sociólogo espanhol, professor que domina os aspectos relacionais da internet, instigador por excelência, consegue reunir em suas plateias nunca menos de mil pessoas. No encontro Fronteiras do Pensamento, realizado em 2013, em Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi aplaudido de pé ao finalizar a sua conferência sobre o tema “Ocupação dos espaços públicos como parte fundamental das redes de indignação e esperança que nascem na Internet”. Os movimentos populares que vêm ocorrendo no Brasil desde junho de 2013 – com grande repercussão graças à força das redes sociais -- têm muitas similaridades com os que surgiram ao redor do mundo, tais como a Revolução do Panelaço (2008) na Islândia, a Revolução de Jasmim (2010) na Tunísia, o Indignados (2011) na Espanha e o Occupy Wall Street (2011) nos Estados Unidos. Sobre esse aspecto, Castells observou que, apesar dos contextos distintos, esses movimentos têm mais semelhanças do que diferenças. Para ele, há um padrão em todos esses movimentos, orientado para a ocupação dos espaços públicos como é o caso da materialização da revolta. Há interação constante entre o físico e a internet. Provocador por princípio, carrega forte nas tintas ideológicas, desfruta de imensa aceitação quando fala e escreve sobre o mundo virtual. Como hispânico da gema, gosta de afrontar e desafiar públicos. Entre acadêmicos e estudantes, granjeia simpatia graças a sua formação e a sua trajetória profissional dedicada à educação. Sem dúvida alguma é o intelectual mais conectado com a realidade da web. No Brasil, foi entrevistado por diversas revistas de circulação nacional. No programa Roda Viva, ao analisar o sistema de ensino na era das redes, destacou a preocupação que deve existir quanto à obsolescência da educação. Em recente vídeo-documentário-depoimento exibido pelo YouTube, Castells enuncia um ponto pacífico: as escolas em todos os níveis, incluindo as universidades, têm uma função percebida que todos conhecem: a aprendizagem de habilidades. Porém têm outra intrínseca, não visível, que é a transmissão dos valores dominantes e das formas de poder – que não têm nada a ver com a pedagogia, mas sim com as normas e processos de se conviver em sociedade. Ele é firme ao dizer que as escolas hoje são obsoletas porque insistem numa pedagogia baseada na transmissão da informação, mas que inexiste tal necessidade, pois toda a informação está na internet. Ele destaca que a revista Science quantificou toda a informação existente no planeta – 97% delas estão digitalizadas e 80% estão na web – e diz onde, como, de que forma e em que plataforma estão esses dados. Diante dos números, Castells enfatiza que as escolas precisam ser capazes de dar poder intelectual e critérios próprios aos alunos, mas que, antes de tudo precisam transmitir critérios de buscas e combinações das informações, mediante projetos intelectuais pessoais e profissionais de cada aluno. Castells é taxativo ao afirmar que todo o sistema educacional hoje é retrógrado, pois não dá poder ao aluno, tornando-o objeto submisso, sujeito a aprender só o que o professor transmite. A observação cai como um petardo, pois hoje os alunos competem com os professores, não porque leem mais, mas porque passam mais tempo na internet e dominam as tecnologias e as redes sociais. Todo mundo tem acesso à informação, que não é escassa nem restrita como no passado, por isso, a função do professor muda completamente. Muitas escolas/professores proíbem o uso do computador/tablet/smartphone durante a aula, justificando serem distração, quando, na verdade, há a preocupação do desafio constante: o confronto do que o professor está falando versus as informações obtidas na internet, que podem facilmente ser confirmadas, confrontadas ou apresentar nova versão daquela a que o professor se referiu. O educador, nesse cenário, precisa habilitar-se para ajudar o aluno a refletir, o que é muito mais difícil do que simplesmente passar o mesmo conteúdo todo semestre. É nessa transformação que muitas escolas estão interessadas. Se nas redes o bullying é cada vez mais presente e devastador (por seu alcance), se nos trabalhos escolares o plágio é cada vez mais presente, se os alunos estão cada vez mais viciados em jogos eletrônicos, se o multitasking (fazer várias coisas ao mesmo tempo) é cada vez mais frequente, acrescido do fato de que hoje, de acordo com alguns estudos, troca-se de telas no computador 37 vezes por hora, a escola não pode ficar indiferente a essa realidade. Se, por um lado, o estudante tem mais fluência digital, por outro, ainda não sabe conectar informações, não sabe separar o joio do trigo, e compra gato por lebre. É nesse contexto que novos procedimentos didáticos devem privilegiar a construção coletiva de conhecimentos mediada pela tecnologia, tendo o professor como partícipe proativo e agente intermediador do processo ensino-aprendizagem. Segundo Castells, mudança nesse patamar significa romper com as relações verticais de poder da escola, romper com o magister dixit e instaurar um espaço colaborativo e não hierárquico para o qual, infelizmente, na maioria esmagadora dos casos, no Brasil, a capacitação de professores ainda é um sério problema a superar. * Professor do curso de graduaçãoo e do mestrado profissional em Administração da Escola Superior de Administração e Gerência da Universidade do Estado de Santa Catarina (CCA/Esag/Udesc)