Presidente da ABMES e Secretário Executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular
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“Competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Competências e habilidades pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto. Em resumo: a competência só pode ser constituída na prática”. (Guiomar Namo de Mello)[1]Li recentemente declaração de Laszlo Bock, vice-presidente sênior do Google, matriz americana, afirmando que a escolaridade dos candidatos não está entre os requisitos principais na hora de contratar funcionários para a sua empresa. Trata-se de uma opinião genérica sem maiores esclarecimentos, pois ele não informa para qual posição é a demanda e muito menos para que nível funcional (Vice-presidente do Google diz quais são os 5 critérios da empresa para avaliar candidatos). Suas palavras, porém, são contundentes: “as notas obtidas na faculdade pelos candidatos são inúteis, pois não provam absolutamente nada”. Bock revela também que hoje em dia há um percentual cada vez maior de pessoas contratadas pelo Google que não possuem diploma universitário. Cita, no entanto, cinco atributos importantes procurados pela empresa nos candidatos: curiosidade, capacidade de aprender, humildade, motivação e liderança. Sem nos atermos aos vieses semânticos entre as cinco dimensões do Google e as oito citadas no relatório investigativo da "A Curva do Aprendizado" – da Pearson e realizado pelo The Economist Intelligence Unit (EIU) – para que se possa conhecer o que está acontecendo nas escolas mundiais (veja artigo sobre o tema), há necessidade de fazermos uma comparação entre eles e de analisarmos as suas correlações. Segundo o relatório, são oito as habilidades que os jovens devem possuir: domínio digital; liderança; comunicação (informar, persuadir e entreter indivíduos); inteligência emocional (autoconhecimento, controle; motivação, empatia e relacionamento pessoal); empreendedorismo; cidadania global; resolução de problemas e capacidade de trabalhar em equipe. Por outro lado, a colunista da BandNews FM, Vicky Bloch, psicóloga e consultora de carreiras, destaca que as pessoas, com vistas a sua capacidade de empregabilidade, devem ter atributos baseados no tripé conhecimento, competências e rede de relacionamento. E esclarece:
O requisito conhecimento é fundamental para compreender cenários e interpretá-los para fim de negócios; a competência é o conjunto de atributos desenvolvidos na história de cada pessoa, de cada um, independentemente da idade, enquanto a rede (network) dá visibilidade a esses dois primeiros atributos.O Google e o relatório EIU falam em habilidades contidas dentro das competências. Tais aspectos precisam ser esclarecidos. Todos falam em competências, habilidades e atitudes que precisam, para uma linearidade de raciocínio, ser conceituadas e entendidas. Em poucas palavras, competência é a capacidade de transformar conhecimentos, habilidades e atitudes em ações concretas. Habilidade é um talento natural que pode ser aperfeiçoado. E atitude é o processo mental de reação aos acontecimentos que cada um possui. Thereza Bordon aprofunda estes conceitos:
Competência implica mobilização de conhecimentos e esquemas mentais de cada um para desenvolver ações eficazes para resolver problemas novos. As competências pressupõem operações mentais, capacidade para usar habilidades, emprego de atitudes adequadas à realização de tarefas e ações. As habilidades estão relacionadas ao “saber fazer” e são inseparáveis das ações.Vislumbrando as várias acepções de competências, parece-nos mais lógico o conceito relacionado à capacidade de bem realizar uma tarefa, ou seja, de resolver uma situação complexa. Para isso, o sujeito deverá ter disponíveis os recursos necessários para serem mobilizados com vistas a resolver a situação na hora em que ela se apresenta. Educar para competências é, então, ajudar o sujeito a adquirir e desenvolver as condições e/ou recursos para resolver uma situação complexa. Como ensina Marcos Moretto,
Educar alguém para ser um pianista competente é criar as condições para que ele adquira os conhecimentos, as habilidades, as linguagens, os valores culturais e os emocionais relacionados à atividade específica de tocar piano muito bem.Segundo palavras do próprio relatório aqui mencionado, “a comunidade mundial está voltada à educação”. Ou seja, é a comunidade cultuando a educação para a utilidade, para a empregabilidade, para a realização das pessoas e para o próprio desenvolvimento da humanidade. E a mensuração do valor econômico das competências para as sociedades está no uso da força de trabalho na vida adulta. Assim, o retorno econômico sobre a capacitação é maior para indivíduos de meia idade do que para os que estão adentrando no mercado de trabalho. E é importantíssimo saber qual a maneira de usar e manter as competências, além de expandi-las, razão pela qual, diferentemente do século passado, a necessidade do conhecimento nunca se exaure. A grande questão refere-se a um posicionamento muito corajoso, sobretudo para as economias emergentes como o Brasil: para onde levar a educação? E vai nisso um grande desafio para descortinar o futuro, associado às demandas sociais empresariais, considerando-se os novos mercados de novas atividades em contraposição às profissões em extinção. Há necessidade, como propõe o relatório da EIU, “de uma cultura de aprendizado e de entendimento sobre o valor de capacitar-se fomentada no estágio inicial da vida”. Assim, o documento tem uma utilidade inconteste: o entendimento de como os sistemas educacionais podem auxiliar no ensino e a manutenção das competências é, hoje, muito mais evidente. A consequência de todas estas questões é que precisamos estar atentos às transformações ambientais do processo de ensino-aprendizagem, que certamente não será mais o mesmo. Mais do que as horas-carteiras, vale mais o domínio das competências profissionais adquiridas no correr da vida. [1]Guiomar Namo de Mello é diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap) e ex-conselheira do Conselho Nacional de Educação(CNE). http://www.namodemello.com.br/