“Sabemos tão pouco do que estamos fazendo neste mundo, que eu me pergunto a mim próprio se a própria dúvida não está em dúvida”. (Lord Byron)O tema que vou tratar renderia um livro. Porém, como tenho espaço, limitado vale como introdução. Semana passada, convidado, fui almoçar com diretores de uma das maiores empresas jornalísticas do país. Embora com ambiente propício da Copa e início de campanhas políticas, na refeição falou-se de assunto único: a velocidade com que as tecnologias de informação e comunicação estão transformando as empresas distribuidoras de conhecimento. Um dado intrigante da empresa visitada: a sede definitiva, situada na marginal do Tietê em São Paulo, ao ser construída há 40 anos, foi concebida para comportar instalações para 7.500 colaboradores. Hoje possui cerca de 2.500 que produzem mais do que os da época inicial. Está implícito que um dos desafios dos atuais administradores é dar destino ao espaço vazio. E mais cedo ou mais tarde esse será o desafio dos gestores das instituições de ensino superior (IES), também distribuidores de conhecimento. Com esta questão em mente, pensei na conversa que tive mês atrás com o amigo e colaborador Prof. Maurício Garcia que profetizou que daqui cinco anos não teremos mais, nas grandes cidades, cursos superiores noturnos presenciais. Principalmente nas instituições que lidam com universitários que trabalham. Para estes, o mais lógico no lugar de desperdiçarem as longas horas no transporte para se deslocarem até as escolas, será assistirem as aulas via EAD no local onde estão ou até mesmo em suas próprias casas. O que significa dizer que os ambientes universitários precisarão ser completamente remodelados ou reconstruídos face às novas demandas estudantis. Raciocínio que valerá também para os alunos matutinos com mais disponibilidade de tempo, que precisarão de espaços de convivência, muito mais diferenciados que os das tradicionais salas de aula. Peter Drucker num de seus últimos livros nos estertores do século 20 era categórico ao afirmar que um dos maiores desafios do sistema universitário norte-americano seria o que fazer daqui uns anos com os seus prédios. Mesmo não sendo o objetivo destas linhas, não posso deixar de registrar que, além de deixar de perder tempo com os ineficazes CPCs e IGCs, o Ministério da Educação (MEC) deveria preocupar-se daqui para frente em não mais investir em espaços físicos de dimensões faraônicas para suas universidades. As futuras gerações cobrarão por isso. Preocupado com todas essas questões, indaguei meus companheiros de ofício, fazendo uma enquete sobre o que valeria mais, uma instituição com 1.000 alunos presenciais ou a distância. Pergunta propositadamente aberta que ensejou interpretações diversas, em que cada um trazia a sua experiência de área de atuação. Desde o especialista em Direito Educacional que disse que não poderia existir uma instituição só de Ensino a Distância (EAD) à pedagoga que vaticinou que é aquela que tiver o melhor projeto pedagógico. E respostas mais específicas surgiram, que as transcrevo para analisar o pensamento de cada um. De uma mantenedora: “É uma questão delicada, pois uma IES com 1.000 alunos, a não ser que seja de nicho, seja presencial ou a distância, apresenta dificuldades diferentes. Uma com 1.000 alunos presenciais traz maior rentabilidade que a de ensino a distância com o mesmo número de alunos, uma vez que a logística da mesma flui melhor, na medida em que, mesmo usando recursos de TI, não se apoia exclusivamente neles. Os cursos a distância exigem uma clientela mais envolvida no processo; a evasão é maior que nos presenciais, porque nestas um coordenador pode antever um acadêmico em vias de abandonar o curso. Pode dialogar com o mesmo, perceber suas reais motivações e demove-lo de sua atitude”. Resposta de um filósofo: “Como seres humanos, nos apegamos às materialidades, às coisas corporificadas e concretas, usufruindo da sensação e do prazer do toque, da posse e da propriedade, significando dizer que precisamos “ver” o prédio da escola. Andar pelos seus corredores e sentir a pertença que está nas paredes, no teto e no piso. Pagar uma mensalidade e poder sentar-se numa carteira da escola é pertencimento”. Visão de antigo aluno: “Na minha opinião, vale mais a de 1.000 alunos presenciais. Considero importante o contato acadêmico, não apenas professor-aluno, mas aluno-aluno. A rede de relacionamentos formada durante um curso de graduação é muito interessante. Enriquece não apenas em relação ao conteúdo, como também estabelece uma rede de contatos profissionais e constrói ainda grandes amizades. O plano presencial é utilitário, desfrutante, prazeroso, contagiante nas relações, que têm finalidades indo além dos aprendizados em sala de aula, numa envolvência humana sem igual”. Um consultor responde da mesma forma. “Penso que vale mais uma IES com 1.000 alunos presenciais porque há o envolvimento com o desenvolvimento comunitário, local; há o pertencimento da turma, o relacionamento humano, a troca de informações, de conhecimento, amizades. Na IES com 1.000 alunos em EAD, há a pulverização da turma, a dispersão”. De gestor de EAD: “Nos cursos EAD, a interatividade pode ser muito maior do que nos presenciais. Em qualquer curso (presencial ou a distância) isto deve existir, mas sem interatividade os cursos a distância não sobrevivem. Logo tornam-se seus diferencias no DNA. Desta forma, estes cursos tendem a valer mais. Todos os professores precisam ser treinados e capacitados para atuarem em sala de aula. Todavia, aqueles que são capacitados para serem produtores de material e tutores online, acabam voltando para sala de aula mais atentos às necessidades dos alunos. Entendo que os cursos a distância teriam um valor maior, pois acabam fazendo com que o professor seja mais estimulado, tendo que enfrentar este novo problema: manter um aluno estimulado sem a presença física do professor no mesmo espaço físico”. De uma marqueteira: “O valor depende do que o cliente precisa, quer e/ou pode comprar. Há mercado para as duas modalidades. A massa crítica faz toda diferença na rentabilidade. Com a convergência de presencial com EAD, teremos o desafio de customizar, manter a rentabilidade e a escala”. De consultor econômico: “De antemão posso afirmar que tudo vai depender das estruturas de custos e receitas do EAD e do presencial bem como das características do mercado para cada uma das alternativas, tanto a curto quanto a médio e longo prazos. Normalmente o valor econômico de uma instituição tem a haver com que ela permite de lucro e prazo de recuperação do que foi investido”. De um gestor empresarial: “Não quero ficar em cima do muro, mas não há como responder a essa pergunta. Pensei bem e realmente não existe resposta. O valor de uma empresa depende de sua capacidade de gerar caixa no futuro. Ou seja, o cálculo consiste em trazer para "valor presente" a soma dos fluxos de caixa futuros em um determinado plano de negócio. Assim, o que determina o valor é o plano de negócio, ou seja, o que vai ser feito com a instituição. Uma instituição EAD vale mais que uma presencial para um grupo que não tenha EAD, desde que essa IES tenha autonomia (universidade ou centro). Mas se quem compra já tem EAD, vale menos. Uma instituição presencial vale mais para um grupo que não tenha presença na cidade onde ela se encontra, mas vale menos se já possui uma IES no local. São muitas as variáveis e a pergunta precisaria ser melhor contextualizada para uma resposta efetiva”. Realmente este tema dá uma enciclopédia (se existir ainda...) de respostas e oportunidade de analisar melhor cada ponto de vista, mas sem dúvida quem melhor respondeu foi um analista de mercado que disse que vale mais, e a pergunta era essa, aquela que mais lucro der, embora não visse possibilidade alguma de instituições com 1.000 alunos serem viáveis de forma econômica. Porém a resposta mais racional e direta foi de que sob o ponto de vista educacional as duas valem a mesma coisa, desde que promovam educação de qualidade.