Valmor Bolan
Doutor em Sociologia
Especialista em Gestão Universitária pelo IGLU (Instituto de Gestão e Liderança Interamericano) da OUI (Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal, Canadá
***Estudos recentes tem apontado uma tendência mundial de falta de concentração nos estudos, isso de modo geral, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. O fato é que os adolescentes e jovens não conseguem se concentrar para estudar, a não ser aqueles mais dedicados e interessados, geralmente os que decidem estudar em casa e se tornam os clássicos auto-didatas, porque o ambiente escolar não tem favorecido isso. É interessante observar que muito do melhor conhecimento da humanidade, tanto na Antiguidade quanto na própria Idade Média, tempo inclusive do surgimento das Universidades, estudava-se em ambientes de recolhimento, nos mosteiros, pois o estudo exige reflexão e meditação. No corre-corre de hoje, o máximo que os alunos conseguem fazer, com o programa altamente tecnicista atual, é decorar mesmo algumas informações básicas, pensando apenas no vestibular ou em algum concurso que queira fazer. E para por aí. Os que desejam realmente fazer uma pesquisa mais séria, pode levar anos de estudo, porque não dá para produzir conhecimento apenas com leituras rápidas e superficiais, mesmo na Internet.
Isso tem gerado um enorme desafio para os pedagogos modernos, que encontram dificuldades em conciliar a concentração com o ritmo frenético do mundo pós-moderno, bastante informatizado. O avanço das tecnologias, especialmente as de comunicação, deveriam propiciar uma elevação na produção de conhecimento e pesquisa, mas não o que acontece. Pesquisas baseadas na experimentação, como, por exemplo, na fabricação de remédios, ainda avançam, porque estão voltadas a questões práticas. Pesquisas também para produção de máquinas e artefatos tecnológicos se evidenciam no plano nacional e mundial, mas aquelas pesquisas do conhecimento humano que requerem um pensamento mais abstrato e apurado, as dificuldades começam a surgir, pois o processo exige mais. Isso quer dizer que não teríamos hoje condições de produzir filósofos como tivemos na Antiguidade, e enganam-se os que acham que isso não tem nenhuma importância, porque toda a civilização humana, inclusive a ciência, dependeu e dependerá sempre de suas fundamentações filosóficas.
Daí que os pedagogos modernos não sabem como lidar com essa questão por deficiências na pesquisa e o resultado concreto disso está visível em toda a parte: falta de concentração, indisciplina em sala de aula, desatenção, analfabetismo funcional, empobrecimento cultural. Este é um desafio para o nosso tempo, se quisermos realmente elevar os níveis de educação.




