A mente intuitiva é uma dádiva sagrada e a mente racional é um servo fiel. Nós criamos uma sociedade que honra o servo e se esquece da dádiva. (Albert Einstein[1])O homem ao longo de toda a história vem utilizando sua inteligência, curiosidade e criatividade para descobrir, inventar, transformar e aperfeiçoar materiais e recursos visando melhorar sua qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento da sociedade e, com isso, garantir sua sobrevivência e realização. A partir de sua própria fragilidade, o homem passou a buscar novas formas de vencer os inimigos que o ameaçavam, tais como andar somente sobre duas pernas, liberar as mãos para outras tarefas, trabalhar em conjunto o cérebro, os olhos e as mãos e manter a posição livre do polegar. Essas mudanças contribuíram para a fabricação dos instrumentos com o objetivo de aumentar a força dos seus braços e aperfeiçoar as armas e as ferramentas. A inteligência do homem logo o ensinou que se ele tivesse uma pedra nas mãos seu golpe teria mais força. Se essa pedra tivesse um cabo, seria melhor ainda. E se fosse afiada, poderia cortar a caça e ajudar a raspar as peles dos animais mortos. Enfim com a pedra poderia polir, quebrar, furar, cortar e fazer quase tudo. Mais tarde, por volta de 4.000 A.C., ele percebeu que poderia fazer o mesmo com os metais, começando com o cobre, depois passando para o bronze e, finalmente, o ferro. Martelando a massa aquecida, dava ao metal a forma desejada, o que era impossível de se obter com a pedra. Aplicando as técnicas que sua inteligência ia aprimorando, o homem já dominava, por volta dos anos 500 A. C., uma variedade de ferramentas que — aperfeiçoadas a cada momento, em função dos desafios que ele deveria vencer — chegaram aos nossos dias e foram a matriz do nosso progresso. Das ferramentas se originaram as máquinas, depois veio a industrialização e hoje vive-se a era das tecnologias de informação e comunicação que são aplicadas a todas as áreas das atividades humanas. Mas a rota do progresso sempre esteve atrelada à necessidade do homem em vencer os desafios usando sua inteligência e criatividade. Fazemos esta introdução para abordar neste artigo duas palavras — “criatividade” e “inovação” – que a nosso ver são siamesas e citadas a todo instante, em todos os setores. No entanto seus conceitos precisam ser bem definidos. As dificuldades com as conceituações, incluindo a da qualidade, ocorrem em todas as áreas. Perguntamos certa vez a um coordenador de curso a diferença entre Aritmética e Matemática. Saímos sem entender nada e, desmotivados com as respostas, ficamos na mesma. Fomos então aos dicionários. Segundo Houaiss, Aritmética é a parte da matemática que estuda as operações numéricas: soma, subtração, multiplicação, divisão e outras. A Matemática é a ciência que estuda, por método dedutivo, objetos abstratos (números, figuras, funções) e as relações existentes entre eles. E, conforme os eruditos, a aritmética vem da palavra grega arithmos (número), enquanto que a mathema é a ciência do raciocínio lógico e abstrato que estuda quantidades, medidas, espaços, estruturas e variações. São conceitos claros que todo professor deveria conhecer e saber explicar. Da mesma forma, há centenas de trabalhos teóricos tentando conceituar o termo “criatividade” com uma sucessão de adjetivações e predicações como sendo algo mirabolante, quase desconcertante. É assunto de reflexão de muitos cientistas e escritores. Para Lev Vygotsky[2], a criatividade é a atividade que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente. Enfim a humanidade chegou até aqui devido a sua criatividade. Já Antonio Damásio, no seu livro “O erro de Descartes”[3], diz que criar é fazer combinações de ideias que se unem para solucionar um problema e não a junção de ideias que não se relacionam e que não contribuem para resolver determinadas questões. Mais significativa ainda é a observação de Philip Kotler que cita em sua “Bíblia da Inovação” escrita em conjunto com Fernando Trías De Bes[4]: “É verdade que a criatividade — o mais humano dos talentos — quando aplicada ao negócio, leva à inovação. No entanto, uma organização repleta de pessoas criativas, não é necessariamente uma organização inovadora”. Criar só é possível quando o cérebro detém uma grande variedade de conhecimentos e informações, fazendo com que as associações de ideias ocorram de forma fluida e direcionada. Portanto, é nas instituições de ensino que deveria crescer a importância da criatividade. Duailibi e Simonsen Jr.[5] propõem a distinção: a “criatividade” é a faísca, a “inovação” é a mistura gasosa. A primeira dura um pequeno instante, a segunda perdura e realiza-se no tempo. É a diferença entre inspiração e transpiração, descoberta e trabalho. Mas de forma mais clara podemos dizer que a criatividade está associada à intuição e a inovação à racionalidade. Não existe inovação sem criatividade, pois a inovação é a aplicação prática da criatividade. Uma ideia resultante de um processo criativo só será considerada inovação caso seja realmente aplicada. Do contrário, é apenas uma invenção. Assim, invenção é transformar dinheiro em ideias, enquanto inovação é transformar ideias em dinheiro. Inovação pode ser também tratada da seguinte forma: “fazer mais com menos recursos”, por permitir ganhos de eficiência em processos produtivos, administrativos, financeiros, prestação de serviços, além de potencializar e ser motor de competitividade. A inovação quando cria aumentos de competitividade pode ser considerada um fator fundamental no crescimento econômico de uma sociedade. O mais importante de tudo é que a inovação tem uma tipologia diferenciada, que deve ser adotada ao ensino da seguinte forma:
- Inovação do produto (de cursos). Introdução no mercado de novos ou significativamente melhorados produtos ou serviços. Inclui alterações profundas em suas especificações técnicas, componentes, materiais, software incorporado, interface com o utilizador ou outras características funcionais;
2. Inovação do processo (currículos). Implementação de novos ou melhorados, processos de produção ou logística de bens ou serviços. Inclui alterações significativas de técnicas, equipamentos ou software;
3. Inovação organizacional. Implementação de novos métodos organizacionais na prática do negócio, organização do trabalho e/ou relações externas;
4. Inovação em marketing. Implementação de novos métodos de marketing, envolvendo melhorias significativas no design do produto ou embalagem, preço, distribuição e promoção, até criar-se um novo mercado.
Mas se fôssemos pensar em ensino, a criatividade e a inovação deveriam estar orientadas com o objetivo de permitir maior desempenho em ações que privilegiem diferentes alternativas. Estas, enumeradas seguir, são provocativas e buscam despertar a reflexão de nossos leitores:- novas metodologias de ensino-aprendizagem;
- modelos de ensino baseados no mundo virtual;
- estruturas curriculares inovadoras;
- conteúdos ancorados em atividades práticas;
- atividades complementares diferenciadas;
- pesquisas - laboratório de ideias;
- atividades de interesse comunitário;
- técnicas de pensamento crítico;
- aprendizado por problemas;
- ensino baseado no trabalho;
- oferta de cursos para áreas emergentes;
- seminários sobre temas instigantes;
- eventos com características inusitadas;
- projetos colaborativos;
- busca dos maiores talentos da instituição;
- flexibilização curricular no ensino em articulação com a educação a distância;
- integração social mediada pela www;
- inovações premiadas pela instituição de ensino;
- inteligência coletiva pelo aprendizado colaborativo;
- motivação pela autoaprendizagem em projetos especiais, além de outras dezenas de possibilidades