Insanidade é continuar fazendo sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. (Albert Einstein)Embora não percebido pela maioria dos políticos de todos os partidos, com exceção de alguns como o senador Cristovam Buarque, a educação é a maior estratégia para o país conquistar seu desenvolvimento pleno. E melhorar a qualidade do ensino básico das escolas públicas brasileiras é o maior desafio desse cenário. Por isso, a participação de empresários em institutos que colaboram com o estado para a solução desta questão sempre deve ser enaltecida, como os movimentos “Parceiros da Educação” e “Todos pela Educação” e outros que têm esta mesma finalidade. Nesse sentido, é importante destacar também o papel desempenhado pela Fundação Lemann. Dentre suas diversas iniciativas, além de oferecer cursos para aprimorar o desempenho dos professores e dos gestores das escolas públicas, preocupa-se em investigar as melhores práticas daquelas que possuem maior desempenho. Esse é o objetivo de seu relatório “Excelência com Equidade”, realizado em parceria com o ItauBba. O estudo, baseado no Qedu, procurou identificar as razões do sucesso das escolas com boa pontuação no Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. São escolas que ofereceram as melhores condições no relacionamento com os pais; deram maior apoio para que as mudanças na sala de aula acontecessem; administraram bem seus recursos e propiciaram, acima de tudo, uma gestão escolar focada na aprendizagem dos alunos. Há um estudo qualitativo e outro quantitativo sobre o desempenho das escolas que conseguem mostrar bons resultados com alunos de baixo nível socioeconômico. O primeiro mostra a conjunção de quatro práticas comuns às escolas que conseguem garantir o aprendizado de todos os alunos que são:
a-Definir metas e ter claro o que se quer alcançar;
b-Avaliar continuadamente o aprendizado dos alunos;
c-Utilizar dados sobre o aprendizado para renovar ações pedagógicas;
d-Criar na escola ambiente agradável e propício ao aprendizado.
Os eixos estabelecidos são de enorme importância nas atividades educacionais, não só no ensino básico, público ou privado, mas, por extensão, até mesmo no ensino superior ou em qualquer outra atividade empresarial. Inexistindo metas a alcançar, o que se tem é um resultado (produto) que pode até ter validade, mas que se presta a quê? É a velha história de Alice no país das maravilhas, quando a menina encontra o gato e lhe pergunta: “Para onde vai essa estrada?”. O gato retruca: “para onde você quer ir?”. Alice diz: “Não sei, estou perdida!”. E a máxima do sábio gato é lapidar: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Meta é intenção, é objetivo e tem finalidade, tem determinação. Definir metas é ter claro o que se quer obter, e o combustível da mudança é desenhar e estabelecer o objetivo que se almeja. A decisão de estabelecer metas cria a necessidade de definir parâmetros claros sobre o que se espera no aprendizado. Mas isso não é tudo porque, uma vez definidas as metas, é preciso focar no planejamento que deriva em estratégias e ações para conseguir atingi-las. Não ter meta é, entre outros descaminhos, perda de tempo e dinheiro, preciosos em época de concorrência acirrada. Por metas se entendem propósitos que se buscam alcançar, interiorizando resultados. O Relatório Lemann visa identificar quais escolas com alunos de baixo nível socioeconômico, dentre as milhares no país, alcançaram resultados extraordinários de aprendizado. O acompanhamento, a avaliação sistêmica do aprendizado dos alunos e a utilização dos dados dessa avaliação ensejarão fundamentar inovações e novas atitudes pedagógicas. De certa forma, o projeto pedagógico, de larga abrangência por tudo o que significa na escola, descreve o produto que, finalizado ao longo do curso, deve atender demandas de formação exigidas pelo mercado. Essa é a meta, o propósito. Entretanto, quase sempre ocorrem os gaps entre a proposta do projeto, sua consecução e sua finalização. Muitas vezes uma avaliação mostra que de fato o que foi programado não aconteceu. Foram descaminhos, mudanças de rotas, instabilidade administrativa, mas, sobretudo, incúria profissional. O descuido de baixar a guarda, confiar e deixar-se levar por confortos e comodismos corporativos. Ampliando a leitura do processo, na outra ponta, o aluno ingressante em curso superior está dotado ou está desprovido dos pré-requisitos mínimos para acompanhar os conteúdos e seguir em frente? A necessidade cada vez mais premente de cursos de nivelamento oferecidos pelas instituições de ensino superior (IES) expõe essa falta de meta do ensino básico. O andar do processo cobra verificação constante para a correção de rota. E como isso é realizado? Acompanhando se o docente deu a aula, se o aluno aprendeu? Ninguém consegue desvendar a caixa preta da sala de aula. O acompanhamento permanente do processo de aprendizado é uma prática que deve ser contínua e consistente, feita diariamente e não apenas por ocasião das provas. Dessa iniciativa surgem os resultados que ajudam a diagnosticar quem precisa de reforço, além da utilidade de reflexão sobre os conteúdos que os alunos não dominaram e sobre soluções para garantir o aprendizado. Quando tudo isso acontece, com certeza, todos os atores da escola estão criando ambiência favorabilíssima para o aprendizado. E mais, tudo permitindo eventuais correções de rotas, pois, pela avaliação, levada com proximidade e frequência, seguramente é possível a observação que ditará mudanças e alterações na pedagogia. O feedback para os professores, dado o aproveitamento das avaliações e o uso dos resultados, servirá para guiar o ensino. Obtidos pelas avaliações frequentes e o acompanhamento contínuo, o uso de dados sobre o aprendizado embasa com segurança as ações pedagógicas, resultando em riqueza sem igual para planejar, desenhar e implementar essas práticas. Por último, um bom clima escolar está positivamente relacionado ao aprendizado, daí a necessidade de fazer da escola um ambiente agradável e propício ao desenvolvimento dos alunos. Em dias tão conturbados, uma preocupação com questões básicas e fundamentais vão da segurança à limpeza, mas também passam pela coexistência pacífica entre os próprios alunos e funcionários, via monitoramento constante para inibir conflitos, buscando soluções imediatas. Nesse sentido, fica claro que a meta é manter um ambiente prazeroso de convivência, seja pela prática de esportes, festas e apresentações estudantis para a socialização dos alunos. O segundo estudo, o quantitativo, traz a preocupação de dar continuidade às quatro estratégias-chave usadas por escolas que obtiveram sucesso ao aplicar mudanças:a-Criar um fluxo aberto e transparente de comunicações;
b-Respeitar a experiência do professor e apoiá-lo em seu trabalho;
c-Enfrentar resistências com o apoio de grupos comprometidos;
d-Ganhar o apoio das comunidades interna e externa à escola.
O cuidado com a comunicação ao introduzir políticas educacionais é imperativo, pois, para que uma nova ação ou medida dê certo, é preciso que as pessoas da equipe “comprem a ideia”. Para isso, é fundamental haver um fluxo de informação transparente e constante entre as pessoas. Ou seja, levar ao máximo todo o esforço de comunicação, a ser observado em todas as esferas de relacionamento. Isso é fundamental para vencer incertezas e resistências em relação às mudanças. E em momento de novas políticas e práticas é ainda mais importante a preocupação em manter comunicação clara e direta, buscando a legitimidade. É claro que sem o apoio dos docentes é impossível fazer transformações nas escolas e é sempre difícil entender como conquistar esse reforço. Aliás, uma reforma educacional para valer consiste justamente em fazer com que os professores saiam de suas zonas de conforto e mudem métodos e hábitos empedernidos, o que é comuníssimo em qualquer instituição. A solução é fazer com que o docente veja que, além dele, também a Direção e Coordenação Pedagógica querem que os alunos aprendam. É difícil pôr à prova experiências dos dois lados. O mais importante nessa queda de braço é dar protagonismo aos professores que fazem um bom trabalho. Resistências, acomodação, sectarismo; nem todos os indivíduos “compram” de imediato as novas ideias. Enfrentar resistências é inerente ao processo, mas, verdade seja dita, o que a experiência dessas pessoas mostra, no entanto, é que algumas poucas comprometidas com o projeto são capazes de multiplicar as ideias e puxar o grupo na direção das mudanças. A questão é saber quem são elas, identificar quem pode incomodar ou ajudar. O fluxo aberto e transparente de comunicação e as políticas meritocráticas ajudam para isso acontecer. Somadas, essas estratégias vão minando as resistências. Por fim, obter o apoio de gente de fora da escola, o entorno social, desde o clube de futebol à associação comercial. Enfim, dezenas de entidades que podem se apresentar colaborativamente. E, o mais importante, assumindo responsabilidades pelo aprendizado dos alunos, ajudando a dar legitimidade às reformas na escola e outras atitudes colaborativas. Esses procedimentos são fundamentais para o ensino básico, mas o mais racional de tudo isto é que todas as ações podem ser aplicadas ao ensino universitário. São oito práticas ditadas pela experiência e bom senso, que bem direcionadas traçam o caminho do sucesso. Por que sem metas definidas de formação não se vai a lugar algum e não adianta propalar a excelência da qualidade quando não temos modelos de avaliação confiáveis e nem metas formativas.