O principal objetivo da educação é formar pessoas capazes de criar coisas novas e não repetir simplesmente o que as outras gerações já fizeram. (Jean Piaget)Leo Buscaglia, pedagogo e renomado escritor americano do século passado, lembra em seu livro “Amando, Vivendo e Aprendendo”, a sua vida difícil de filho de imigrantes italianos e o esforço dos pais para educá-lo. Ele conta que o pai, operário sem muita qualificação e que mudava de emprego toda semana, tinha o costume de, na hora do jantar, quando os quatro filhos estavam juntos, fazer a cada um a mesma pergunta: “O que vocês aprenderam hoje?”. Não importava onde fosse – na escola, na rua ou nas bancas de jornais. O hábito do pai obrigava os filhos a prestar atenção às aulas, aos relatos dos professores, às conversas com amigos ou às notícia de jornais encontrados na rua. Com o passar do tempo, o pai conseguiu um emprego estável e a família foi melhorando de vida. A aquisição de uma enciclopédia usada tornou as coisas mais fáceis. Antes de jantar, cada um dos irmãos escolhia e decorava uma informação sobre os mais diversos e inusitados temas – Abissínia, Sócrates, ilhas da Polinésia, dança rítmica, dentre outros – e a repetia para o pai. O importante era “dar trela” a ele que sempre, por curiosidade, queria saber de tudo. Buscaglia concluiu relatando que este costume se incorporou e se enraizou em sua mente pela vida afora. Quando ele ia dormir, sempre se perguntava: “O que eu aprendi hoje?”. Logicamente que os fatos narrados pelo escritor aconteceram num mundo ainda sem televisão, época em que as pessoas tinham mais tempo de trocar, oralmente, ideias e informações. Lembro-me desta história porque acabo de ler um artigo de Liz Evans – “25 maneiras de como perguntar aos seus filhos 'Como foi a escola hoje?' sem perguntar 'como foi a escola hoje'”. Cansada de ouvir a resposta de seus filhos –“legal mãe” e “tudo bem” – ela resolveu provocá-los, não só para obter informações sobre a escola, como também para forçá-los a juntar palavras e a criar um raciocínio lógico para argumentar e responder. A partir de um questionamento inicial – “Qual foi o tema de hoje que vocês mais gostaram?”, “O que vocês ouviram de mais interessante do professor?”–, Evans relacionou 25 perguntas que os pais devem fazer a seus filhos para estimular o diálogo e conhecer o dia a dia deles na escola. Paula Bittar, por sua vez, afirma que a tecnologia também pode ajudar os pais a participarem da vida escolar de seus filhos (Escolas usam tecnologia para que pais participem da vida escolar dos filhos). Ela conta que inúmeras escolas, além de terem seu Portal exclusivo com notícias e informações sobre as suas atividades, disponibilizam os boletins para serem acessados pelos pais. E mais: dão acesso a câmaras instaladas em locais estratégicos para que eles possam acompanhar, em tempo real o que acontece. Isso é outra novidade que vem sendo posta em prática pelas escolas. Pesquisas feitas nos setores de recursos humanos das maiores e melhores empresas que contratam egressos dos cursos de Marketing, Administração, Economia e Engenharia das instituições de nível “A” de São Paulo, e que recebem alunos dos estratos mais altos da sociedade, mostram um resultado pouco animador. Os recrutadores das empresas salientam que, apesar dos profissionais se mostrarem preparados, eles entram na empresa de “nariz empinado”, se consideram conhecedores de todas as estratégias e dizem saber mais do que o chefe. “Contam grandeza por todos os lados”. No entanto, na primeira dificuldade, contradição, desafio ou derrota, desabam e caem em depressão. Os recrutadores afirmam que preferem egressos oriundos de classes menos favorecidas que, apesar de terem sonhos de acesso social, estão acostumados aos infortúnios e aos desafios que a vida lhes apresenta. Quero dizer com isto que os jovens de hoje se ressentem de um diálogo mais aprofundado com seus familiares e de uma formação acadêmica capaz de prepará-los adequada e profissionalmente e de agregar valores importantes para a vida que é feita não só de sonhos, de projetos, de vitórias como também de derrotas. Com estas, os jovens têm de conviver e aprender. A propósito, cito as “10 Qualidades Profissionais indispensáveis para o Século XXI”, de José Miguel Bolívar:
1- Ter consciência da importância do domínio da capacidade de adaptação ao ambiente e da necessidade de manter-se atualizado e de saber que o mundo mudou;
2- Compreender que o futuro será diferente e que será preciso preparar-se para correr riscos e enfrentar incertezas;
3- Saber que ninguém vai trabalhar mais em um só lugar e que por isso as pessoas devem estar prontas para participar de diversos projetos e para atender clientes diversos;
4- Reconhecer que a mobilidade será uma das referências atuais e saber que o trabalho pode ser realizado em qualquer parte, seja de forma presencial ou remotamente;
5- Buscar autonomia e soluções próprias, isto é, não depender dos outros para solucionar problemas, seja trabalhando na empresa seja por conta própria;
6- Estar conectado em múltiplas redes tanto para ampliar seu conhecimento quanto para ter contatos universais e conquistar clientes diferenciados;
7- Ser curioso. Na época do conhecimento, quem não tem curiosidade pelo que é relevante corre o risco da obsolescência;
8- Ter marca pessoal. No mundo em rede a boa comunicação é importante. Todos precisam saber “quem” você é, o “que” faz, “como” faz, “quem” são seus clientes e colaboradores. A credibilidade é a maior propagadora da personalidade das pessoas;
9- Ter consciência do desenvolvimento tecnológico. Não adianta ignorá-lo pois que é o prolongamento do cérebro e das nossas mãos;
10- Buscar produtividade pessoal. Para tanto, é necessário observar as etapas: planejamento, ação e avaliação de resultados.
Por minha conta e risco, acrescento mais duas indispensáveis qualidades profissionais:1- Obter o equilíbrio entre trabalho, lazer e qualidade de vida. Sustentabilidade é essencial, enquanto que a busca descontrolada pelos bens materiais não pode ser objetivo de vida;
2- Ter consciência espiritual. Independentemente das nossas opiniões e credos, as respostas aos nossos anseios estão dentro de nós mesmos.
Ninguém mais vive hoje sem estas habilidades emocionais que devem ser treinadas nas escolas de todos os níveis e graus e que constituem o grande diferencial que os recrutadores requisitam em suas contratações. De seu lado, as famílias devem buscar tempo, no espaço de suas vidas atribuladas e de muitos afazeres, para discutir com seus membros estes atributos vitais para os profissionais de hoje. Andei bisbilhotando os sites das nossas instituições e não vi em nenhum deles qualquer tipo de proposta, quer seja curricular quer seja de extensão, que reforce os atributos e valores tratados neste artigo. Na verdade, poucas aproveitam as tecnologias de comunicação para estreitar as relações de boa convivência com os estudantes e com suas famílias. Nesse contexto, as escolas e as famílias passam a ter também como missão dar relevância a esses temas. Mas este é tema para um próximo artigo.