O Colégio Paulo Gissoni tem como sua dona a batalhadora Vera Gissoni, uma pessoa que nós alunos temos mais que vontade de exaltá-la e de dizer o quanto e o como ela é importante. Essa senhora batalhou tanto que hoje em dia tem uma Universidade com unidades em vários campi, sem contar o Colégio Paulo Gissoni e o Colégio Castelo Branco. (Blog dos alunos do colégio)Em 1960, o Brasil possuía cerca de 100 mil universitários, 340 faculdades e 18 universidades e formava a cada ano 14 mil profissionais. Hoje o país possui 7 milhões e 300 mil universitários, dos quais 5 milhões e 300 mil estão nas instituições de ensino superior (IES) particulares. Existem 2.100 IES privadas e 300 públicas, e, a cada ano, 760 mil profissionais se formam nas particulares e 230 mil nas públicas. Parte expressiva do desenvolvimento do ensino superior brasileiro se deve, certamente, ao espírito empreendedor de educadores pátrios que, nos idos de 1960, ousaram criar escolas por estes “brasis” afora, para atender à demanda por educação superior da nossa juventude. Podemos calcular que cerca de 10 milhões de pessoas se formaram nas escolas particulares, desde aquela época até os dias atuais, graças à visão e obstinação de mantenedores dentre os quais se destacou a professora Vera Costa Gissoni. Este artigo tem como objetivo mostrar a história da destemida, guerreira e entusiasmada Vera, que nos deixou na terça-feira passada (2/12). Com personalidade marcante, projeto na cabeça, mangas arregaçadas e ação pela frente, conseguiu transformar com muito suor e trabalho uma pequena escola da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro em pujante universidade. Além disso, Vera concretizou seu ideal de fundar uma entidade para representar nacionalmente os mantenedores – hoje, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) – e notabilizou-se por sua atuação em outros órgãos nacionais e internacionais, ligados à área da educação. Sabemos, no entanto, que precisaríamos escrever um livro para abarcar todas as atividades desenvolvidas por ela durante sua intensa vida. Trajetória profissional Formada em contabilidade (mais tarde ela completaria a sua formação superior), Vera ocupou seu primeiro emprego no Grupo Escolar Helena Pena, na cidade de Belo Horizonte/MG. No ano de 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ, ocasião em que foi convidada para dirigir uma “escolinha”, na Zona Oeste da cidade. Desta pequena escola, situada no Bairro do Barata, originou-se o Instituto Dr. Paulo Gissoni, criado em 1963, com instalações extremamente modestas, onde Vera fazia de tudo. Ela era ao mesmo tempo secretária, administradora, professora e servente. Com grande poder de persuasão, dedicação, determinação, desembaraço, visão e capacidade administrativa, Vera passou aos poucos a visitar as famílias vizinhas, incentivando-as a enviar os seus filhos para a escola. Assim, o Instituto cresceu e, em 1964, transformou-se no Ginásio Dr. Paulo Gissoni, expandindo seus limites físicos iniciais para um novo local, a Rua Tecobé, nº 347, no mesmo bairro. No ano de 1965, o Ginásio passou a denominar-se Colégio Dr. Paulo Gissoni com a incorporação de dois cursos: científico e técnico em contabilidade. O crescimento da demanda por matrículas exigiu novas instalações para o Colégio que, em 1971, começou a funcionar na Avenida Santa Cruz, nº 1.655, em Realengo. No mesmo ano, foi criado o Centro de Estudos Universitários Paulo Gissoni, etapa preparatória para a abertura dos primeiros cursos superiores. Em 1973, a Entidade Mantenedora passou a denominar-se Centro Educacional de Realengo. Os primeiros cursos superiores foram autorizados a funcionar com a criação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras Marechal Castelo Branco e da Faculdade de Educação Física da Guanabara. Com a autorização dos cursos de Matemática, Pedagogia, Fisioterapia, Serviço Social, Administração e Informática, foram instituídas as Faculdades Integradas Castelo Branco (Ficab) que agregaram os cursos antigos aos novos. Em 1990, o então Conselho Federal de Educação (CFE) aprovou a carta-consulta das Ficab para transformá-las em universidade – a Universidade Castelo Branco (UCB) – cujo efetivo reconhecimento se deu em 29 de dezembro de 1994, tendo sido definitivamente instalada em 4 de Janeiro de 1995. Na condição de primeira reitora da UCB, Vera atuou de forma importante no processo de consolidação de uma instituição que hoje oferece cursos de graduação e de pós-graduação altamente qualificados e que se destaca também na área de extensão, cuja característica principal é o envolvimento com a comunidade por meio de complementação de estudos, atividades extraclasses e programas sociais. Mais tarde, Vera ocupou o cargo de Chanceler da UCB, mantendo sempre com o reconhecimento de toda a comunidade acadêmica. Importante lembrar que o Centro Esportivo Castelo Branco (CECB) era a menina dos seus olhos. Trata-se de um projeto de formação de cidadãos, por meio do esporte e da prática de atividades físicas, realizadas em instalações apropriadas, com campo de futebol oficial, ginásio poliesportivo, piscina olímpica, um centro de levantamento olímpico, sala de musculação e uma sala de estimulação psicomotora. Vera era apaixonada pelo seu CECB que tem como premissa ser referência em esporte e atividade física, sendo um influenciador direto na mudança de pensamentos e hábitos dos moradores do local e comunidades vizinhas. Ela sempre questionava seus colaboradores: “Como temos agido e influenciado a nossa comunidade a mudar os hábitos ruins?”; “O que temos feito pelas pessoas que moram nas redondezas?”; “O que estamos oferecendo de real importância?”; “O esporte deve ser um dos acessos a educação e lembrem-se que o CECB é um grande laboratório e nos fornece grandes possibilidades”, afirmava Vera. Vera sempre demonstrou forte vocação para a questão da Responsabilidade Social Universitária (RSU) e para o desenvolvimento e promoção social da população do entorno da UCB. A universidade já beneficiou, aproximadamente, 240 mil pessoas por meio de seus diferentes programas e projetos sociais. Há atualmente em andamento 18 programas e projetos de extensão. Deve-se registrar também o empenho de Vera no incentivo às práticas de empreendedorismo dos estudantes de baixa renda. Além de ativa participação no Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Rio de Janeiro (Semerj), Vera foi Presidente do Conselho Empresarial de Educação da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Neste exerceu uma importante liderança na discussão dos temas de interesse das instituições do estado. Como dirigente, se posicionava contra programas do governo como o “Bolsa-Família”, por considerá-lo assistencialista. Enfatizava a necessidade da criação de frentes de trabalho como verdadeira solução para a pobreza no país. Dentre as inúmeras honrarias recebidas por Vera, podemos citar o Prêmio “Forbes 2006” na categoria “Educação”, pelo seu destaque entre as mulheres mais influentes do Brasil, e o Prêmio Milton Santos de Educação Superior, outorgado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) pelo conjunto de seu trabalho em prol da educação brasileira. Vera notabilizou-se também por sua importante atuação na Coordenação Nacional do Programa das Escolas Associadas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que tinha como objetivo a realização de projetos ligados à formação de líderes para a promoção da cultura da paz nas comunidades locais e nacional. Neste posto, visitou diversos países para conhecer a realidade educacional de cada um e intercambiar as melhores práticas de gestão escolar. Além disso, ela dizia que essas viagens eram também importantes para desfrutar de momentos de lazer e do descanso que merecia. Da “escolinha” à universidade, deu-se a epopeia de mais de 30 anos de Vera, que só poucos batalhadores conseguiram. E Vera não foi só a empreendedora, a mulher envolvida com as causas sociais e associativas da comunidade do Rio de Janeiro. Ela está entre os pioneiros que na segunda metade do século passado viabilizaram com seus sonhos de “Brasil Grande” e com intenso trabalho, junto ao Ministério da Educação e ao antigo CFE, a consolidação de um sistema universitário capaz de dar vazão às demandas de educação superior do povo brasileiro. Nesse caminho, ela foi, certamente, a principal idealizadora da ABMES, fato sempre reconhecido por todos nós, tendo ocupado, por longos anos, o cargo de vice-presidente da entidade. Por ocasião das comemorações dos 30 anos da Associação, Vera, Candido Mendes, Édson Franco e eu gravamos um vídeo histórico (ABMES 30 anos em 30 minutos) na Universidade Cândido Mendes (UCAM). Foi um encontro descontraído, mediado pelo Édson, onde cada um de nós registrou a história e a atualidade da ABMES. Vera falou emocionada sobre sua participação:
Lembro-me ainda da minha peregrinação pelo Brasil – do Amazonas ao Rio Grande do Sul –, em busca de parceiros dispostos a construir comigo uma associação que unisse e representasse, de forma séria e inovadora, as instituições de ensino superior privadas. Era o início dos anos de 1980, não existiam tantas universidades e precisávamos, naquele momento, ter uma voz forte, única, que falasse em nome dos mantenedores.Ao descrever a sua peregrinação exaustiva, porém gratificante, Vera destacou:
Eu sonhei. Sonhei com uma associação grande, forte, coesa. Em maio de 1982 realizamos o ‘1º Encontro Nacional dos Mantenedores’, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. Foi o primeiro grande passo para a consolidação da ABMES. Meu sonho, finalmente, começava a tomar forma. Após 30 anos, conquistei meu objetivo. Hoje, diante da importância e do tamanho da ABMES, tenho absoluta certeza de que tudo valeu a pena e que o esforço empreendido em prol da Educação não foi em vão. Temos o apoio de profissionais competentes e comprometidos com a missão de representar e apoiar o desenvolvimento das instituições de ensino superior brasileiras.Vera tinha orgulho de fazer parte desse grupo de centenas de instituições e continuava a sonhar com um futuro ainda mais próspero para a ABMES. Ela afirmou:
A universidade brasileira privada cresceu porque realiza constantemente o intercâmbio de informações e de talentos entre si e com outras instituições, tornando-se um referencial de qualidade. Nós fazemos parte disso. É tempo de fortalecer os laços dos nossos mantenedores e preparar os nossos sucessores para levar avante o legado de amor e dedicação à universidade brasileira que construímos.Os que conviveram com Vera são unânimes em reconhecer sua presença carinhosa e incentivadora. Sempre otimista, com a cabeça plena de ideias, conservou a sua crença no mundo e nas pessoas. Apesar dos limites que os problemas graves de saúde lhe impuseram, não parou de lutar, de trabalhar e nunca perdeu o bom humor. Passou por um sequestro, ficou 15 dias num cativeiro e conseguiu ultrapassar aqueles maus momentos, com muita calma e tranquilidade. Depois de libertada, não comentou mais sobre o ocorrido. Era uma pessoa querida, muito querida mesmo. Vera deixou três filhos – Humberto, Marcelo e Ana Paula – netos, familiares. Deixou ainda uma legião de amigos, dentro e fora da academia. Todos nós herdamos dela um legado, um exemplo, para que possamos continuar a enfrentar a difícil tarefa de educar. Os que passaram pelos cursos da UCB e os pequenos que foram encaminhados pela escolinha onde ela iniciou seus passos como educadora também, agradecidos, reverenciam sua memória. Alguém que reúne tantas qualidades e que tem a generosidade da partilha e o coração aberto para as boas emoções e superações merece o nosso eterno reconhecimento. Muito obrigado, Verinha, por ter feito parte de nossas vidas! Valeu!