Gabriel Mario Rodrigues
Presidente da ABMES e Secretário Executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular***Com a aproximação das festas de fim de ano, lembro-me de citação do Dr. Guido, dentista de minha infância, sobre a vida. “Se pesarmos nos pratos de uma balança, de um lado, os momentos felizes e, de outro, os infaustos, nós veremos que o prato dos momentos desfavoráveis, estará sempre embaixo.”
Essa visão pessimista aplica-se, de uma forma geral, a toda a humanidade. É só darmos uma olhada no que a mídia tem noticiado neste Advento do Natal para comprovar o desencontro das pessoas. As notícias ruins brotam de todos os lados. Senão vejamos alguns exemplos. No maior ataque da história recente do Paquistão, integrantes do grupo Taliban daquele país invadiram uma escola de filhos de militares em Peshawar e mataram com tiros e granadas 141 pessoas, sendo 132 estudantes. Num café em Sidney, um grupo de terroristas islâmicos sequestrou pessoas durante 17 horas e assassinou dois reféns. Nos EUA, cidadãos usam de violência em diferentes cidades para expressar indignação pelo assassinato de dois jovens negros efetuado pela polícia por motivos banais. No Oriente Médio, Israel e Cisjordânia não cessam os morticínios diários. Aqui no Brasil, todos os meios de comunicação repetem em seus noticiários a “Petrocrise da Petrobras”.
O único fato positivo destacado nesses dias foi a retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, depois de longos 53 anos de paralização. Nos bastidores das negociações sigilosas que duraram um ano e meio, o Papa Francisco foi fundamental para a concretização do fato. Tanto que num gesto de gratidão, Barack Obama e Raúl Castro anunciaram o acordo no dia do aniversário de 78 anos do Pontífice.
Sem deixar de lado a constatação do meu dentista, reforçada pela mídia, e ao destacar que o noticiário negativo é o que oferece maior suporte aos veículos de comunicação, a história mostra que todo o progresso da humanidade foi feito pelo domínio dos grupos mais fortes sobre os mais fracos.
Desde os primórdios da civilização, a “guerra total” faz parte do dia a dia.
Eric Hobsbawm, historiador marxista britânico, assinala nos estertores do século XX que o homem viveu o tempo todo em guerra absurda e destrutiva, como jamais houve na história, em torno de ideias, cujas matrizes eram do século anterior.
E a base de tudo é a ambição pessoal da espécie humana que privilegia o poder acima de tudo. A vida virou uma carreira e as pessoas estão focadas o tempo todo no seu sucesso profissional. A esse respeito, o filósofo canadense Barry Stroud, professor da Universidade da Califórnia (Berkeley /USA), em entrevista à Folha de S.Paulo (09.12.2014), faz um diagnóstico da espécie humana. “É preciso, ao mesmo tempo, ganhar o máximo de dinheiro, ter família e morar em uma casa grande. Desse modo, predominam o consumismo, o individualismo, o carreirismo, tornando a vida contemporânea mais pobre, apesar dos avanços materiais.”
A esse respeito, o Papa João Paulo II sabiamente observou:
Num mundo cujos fundamentos morais se desmantelam, e diante do Estado materializado (inimigo comum), da idolatria da riqueza e da degradação do homem, devem os cristãos – não obstante suas diferenças doutrinárias (e esta será a maior defesa do cristianismo perante o mundo moderno) – unir-se para a cruzada do século XX e para o estabelecimento da cooperação fraternal e da paz entre as nações e os indivíduos.No Natal, os cristãos se preparam para comemorar mais uma vez o nascimento de Jesus Cristo. E neste momento todos os homens, mesmo aqueles que não acreditam Nele, vão rememorar os tempos de infância com as festas e as trocas de presentes. Nas cidades, nos bairros mais ricos, nas periferias mais pobres, no interior e nas fazendas, as famílias, segundo as suas possibilidades, sempre se reuniam para festejar a data. A influência latino-europeia nos costumes brasileiros foi sempre importante, caracterizando o Natal como o espaço do “encontro”, da união de todos os parentes na casa dos pais, em torno de uma confraternização capaz de reconciliar todos, de esquecer grandes e pequenas desavenças (qual família que não as têm) e de fazer planos para o ano seguinte. Assim, as festas religiosas eram muito mais comemoradas devido à presença significativa da Igreja Católica com suas ações religiosas e com a “Missa do Galo”. Mas o mundo e as famílias se transformaram. A chegada do fim de ano e das férias motivam as pessoas para a procura de lugares diferentes. A comunicação se faz via Internet, dada a impossibilidade de reunir todos na festa de Natal. Apesar disso, as festas de final de ano continuam acontecendo, com trocas de presentes. Prova disto é a intensa movimentação em shoppings suntuosos e nas regiões de comércio popular repletas de gente. Para mim, o fundamental é que cada um de nós, ao seu modo e de acordo com suas posses e tradições, conceba o Natal como fonte de inspiração para fortalecer a fraternidade e a esperança e para lutar por um mundo melhor no qual as relações humanas possam ser verdadeiras e construtivas. Para transmitir meus votos de Boas Festas, compartilho com todos vocês um Cuadernillo de Arte com belos e inspiradores poemas magnificamente emoldurados por obras de grandes pintores: http://www.abmes.org.br/abmes/public/arquivos/compartilhamentos/o_livro_do_natal.pps




