A era digital pode parecer revolucionária, mas baseou-se em ideias legadas por gerações anteriores. A colaboração não ocorreu meramente entre contemporâneos, mas também entre gerações. Os melhores inovadores foram os que entenderam a trajetória das mudanças tecnológicas e pegaram o bastão de inovadores que os precederam. (Walter Isaacson)Na antevéspera do Natal, no aeroporto de Congonhas, após longa espera, eu e mais de dois mil passageiros fomos surpreendidos com o cancelamento de nossos voos, em razão da chuva torrencial que caía sobre a cidade de São Paulo. Nada de especial e surpreendente: culpa de São Pedro e plenamente previsível nesse período do ano. Penso que se as máquinas e os humanos tivessem trabalhado de forma colaborativa o problema não teria acontecido. Durante esse tempo, fiz algumas reflexões e concluí que mentes humanas e inteligência artificial irão se unir no futuro para solucionar os problemas do bem-estar e do progresso da humanidade. Relato esse fato porque entre os passageiros atingidos não deveria ter nenhum parente de ministros, de deputados, de juízes do Supremo e/ou de alguém importante da mídia. Se fosse o caso, o Diretor de Atendimento da TAM teria sido demitido no dia seguinte pela falta de consideração demonstrada com os usuários. Pela maneira revoltante e desrespeitosa com a qual nos trataram, estou certo de que o comandante Rolim Amaro, fundador da companhia, revirou-se na sua sepultura. Ocorre que a própria TAM, assim como a burocracia empresarial, não está preparada para resolver adequadamente os problemas que fogem à rotina, em que pese o tempo ruim ser fato previsto no transporte aéreo. Apesar da boa vontade e do esforço extraordinário de alguns atendentes, ficou clara a falta de treinamento deles para atuar, de forma competente, em situações-problema. Assim, eu e os demais passageiros – entre nós havia mulheres com crianças no colo, pessoas em cadeiras de rodas, idosos – enfrentamos longas filas e levamos, em média, duas horas para apanhar de volta as nossas bagagens e renovar nossos bilhetes de viagem para o dia seguinte. Não há desculpas, porque qualquer “computador burrinho”, se bem instruído, seria capaz de conceber um plano de emergência para situações como estas e resolver o imprevisto em meia hora. Fica claro e lógico também que os executivos de alto escalão da TAM não estão preocupados em encontrar soluções para emergências como esta, porque priorizam seus bônus anuais e não o conforto de quem lhes paga o salário. No nosso caso específico, faltaram informações tranquilizadoras, atenção ao cliente e sobrou descaso, como se o problema tivesse sido causado pelos passageiros. Se homens e máquinas se entendessem, a situação seria satisfatoriamente resolvida e os passageiros, bem atendidos. No livro que estou lendo – "Os Inovadores: uma revolução digital” de Walter Isaacson – encontro os principais argumentos para justificar a afirmação de que a parceria homem e máquina será benéfica para o desenvolvimento da humanidade. Este, porém, é um tema controverso entre os cientistas, na literatura e no cinema. Isaac Asimov, autor americano de origem russa de ficção científica, deixou seus leitores atônitos com o seu livro, “Eu Robô”, escrito em 1950 e revisado em 1977, época em que mal se falava em computador. As revolucionárias inovações tecnológicas introduzidas pelo personagem Lanning na obra de Asimov deram origem a uma sociedade extremamente automatizada na qual os serviços e as atividades cotidianas eram executadas e comandadas por cérebros eletrônicos dotados de inteligência artificial – os robôs. Estes, apesar de poderosos, eram regidos por leis idealizadas por Lanning que os impediam de agir contra interesses humanos. No decorrer da história, uma das máquinas inteligentes aprimora as leis por iniciativa própria, revolta-se contra seu criador e decide o que é melhor para os seres humanos. Lanning se suicida e é implantado um regime de poder comandado pelas máquinas. No filme do cineasta americano Stanley Kubrick “2001, Uma Odisseia no Espaço” há um personagem maldoso e intrigante, o computador HALL 9.000. Inteligentí¬ssimo e com voz calma, Hall exibe atributos humanos – capacidade de falar, raciocinar, reconhecer rostos, apreciar a beleza e demonstrar emoções. Ele, porém, comete uma falha e, por isso, ao perceber que poderia ser desligado assassina toda a equipe da aeronave, à exceção de um astronauta. Depois de um luta alucinante entre os dois, o humano consegue desligar os fios do computador e Hall é derrotado. As duas histórias estão baseadas no conflito existente entre correntes antagônicas de cientistas cibernéticos. A primeira defende que a inteligência artificial sobrepujará a humana em plena era da “singularidade” e, a segunda, que os humanos e as máquinas conviverão harmoniosamente para vencer todos os desafios da humanidade. O termo singularidade – criado por Von Neuman, popularizado pelo inventor e futurista Raymond Kurzweil e pelo escritor Vermon Vinge – significa que os computadores serão mais inteligentes que os seres humanos, por serem capazes de se projetarem a si mesmos para serem superpoderosos, prescindindo dos mortais. Outros cientistas, porém, defendem a simbiose entre o homem e o computador. Este é o caso do psicólogo e cientista da computação americano Joseph Carl Robnett Licklider que afirmou:
Cérebros e máquinas de computar serão ligados de maneira muito forte e a parceria resultante pensará como nenhum cérebro humano jamais pensou e processará dados e informações de modo que desconhecemos até hoje.Em outras palavras, o futuro do universo dependerá da viabilização da parceria homem e máquina. O exemplo vem do computador Watson da IBM que mostrou em 2010 toda a sua sagacidade num programa de perguntas da TV americana – o “Concurso Jeopardy” . A máquina comportava 200 milhões de páginas de informação – das quais a Wikipedia corresponde a menos que 0,2% – e era capaz de avaliar o equivalente a 1 milhão de livros por segundo. Por outro lado, sabemos que os computadores podem responder brilhantemente que a profundidade máxima do Mar Vermelho é de 2.211 metros e não saberem, por exemplo, se um jacaré sabe jogar futebol. David Ferrucci diretor do Projeto Watson salienta que seu objetivo maior será colaborar com os seres humanos para a solução dos problemas do mundo, como é o caso da parceria com médicos para o tratamento do câncer. Para tanto, o sistema Watson foi alimentado com mais de 2 milhões de páginas de informações médicas e 600 mil dados de evidências clínicas com capacidade para fazer buscas em ate 1,5 milhões de prontuários de pacientes. Quando um médico digita os sintomas e as informações vitais do paciente, o computador fornece uma lista de recomendações, em ordem decrescente de confiança. O vice-presidente de Software da IBM, David MacQueneey, ao relatar este fato, salienta que tomará todos os cuidados para não melindrar os médicos, tendo em vista que muitos deles afirmaram terem cumprido rigorosamente seus estudos, obtido credenciamento legal para exercer a profissão e que, por essas razões, se recusam a receber orientações de uma máquina. Retornando à realidade do aeroporto de Congonhas, acredito que as companhias aéreas deveriam ter planos emergenciais para resolver os imprevistos com os voos. O controle aéreo das condições atmosféricas deve ter centenas de dados para informar se uma aeronave vai conseguir ou não pousar e, com isso permitir que a Companhia avise os passageiros e tome as providências necessárias. Por que devolver as bagagens se no dia seguinte todos retomam suas viagens? Se toda a operação emergencial fosse bem concebida, bastaria enviar uma mensagem para os celulares dos passageiros com informações sobre os voos, vale-taxis, hotéis e horas de retorno para o aeroporto. E por falar no dia seguinte, as surpresas continuaram: um voo extra, com horários e eventuais atrasos, se for o caso, não aparece no painel de avisos da Infraero. Certamente, por falta de informações, muitas pessoas perderam o voo. Por esta e outras razões, almejo que os homens e as máquinas se entendam e se unam também para resolver os problemas do dia a dia. Deixo claro, no entanto, que as máquinas não podem ser “abelhudas” e se meterem em problemas que envolvam os “Três Poderes” e a “Petrobras”. 2