“Levando-se em consideração o que os demógrafos denominam de ‘janela de oportunidade demográfica’ – temos hoje uma potencialidade única (o país com população ainda majoritariamente jovem) para acelerar o crescimento econômico e conduzir o país para um desenvolvimento sustentado, E isto só pode ser conseguido pela boa educação.” (Prof. Raulino Tramontim)O Brasil tem apresentado nas últimas décadas um crescimento exponencial na área educacional, tanto quantitativo quanto qualitativo, por meio da universalização do ensino fundamental, acompanhado da preocupação efetiva de romper o gargalo do ensino médio e de fazer crescer a oferta de ensino superior tanto público quanto privado. As políticas públicas de fomento – que no setor privado estão representadas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) – trouxeram para os bancos escolares uma parcela significativa das classes menos favorecidas que vêm mostrando um bom desempenho nas avaliações das instituições de ensino superior (IES). Somos hábeis na construção de diagnósticos que demonstram, de forma clara, a grande encruzilhada em que nos encontramos, tendo em vista uma série de graves problemas para os quais precisamos encontrar saídas. A baixa qualificação da nossa mão de obra – principalmente na População Economicamente Ativa (PEA) – para atuar no setor produtivo de modo geral e nas indústrias de ponta revela o déficit de profissionais qualificados em setores localizados e retarda ainda mais nosso desenvolvimento. Agravado pela crise externa, este quadro expõe mais ainda a fragilidade de recursos humanos qualificados do país, considerando que precisamos inovar, produzir para crescer. Agregada à falta de competências e habilidades de nossa população economicamente ativa, a baixa escolaridade nos coloca em posição nada confortável na comparação com outros países com o mesmo grau de desenvolvimento. Tais fatores nos tornam menos competitivos e vulneráveis quantitativa e qualitativamente, em termos de nossa produção e reduz nossas exportações praticamente focadas em commodities – que perderam preço e espaço sem que tenhamos reagido e tomado medidas para colocar outros produtos no lugar. A falta de inovação e de tecnologia está limitando os avanços no setor industrial, hoje ocioso, nos tornando pouco competitivos e perigosamente dependentes no mercado mundial. No entanto – levando-se em consideração o que os demógrafos denominam de “janela de oportunidade demográfica” – temos hoje uma potencialidade única (o país com população ainda majoritariamente jovem) para acelerar o crescimento econômico e conduzir o país para um desenvolvimento sustentado, como comprovam as análises das relações entre o processo de transição demográfica pelo qual o Brasil está passando e o crescimento econômico. Esta “janela de oportunidade demográfica” vai ao encontro do lema mobilizador do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, pronunciado no seu discurso de posse – “Brasil, Pátria Educadora” –, que precisará sair do campo das intenções e se transformar em políticas públicas para vencer os nossos estrangulamentos educacionais. Se o governo tiver a coragem de investir de forma decisiva na educação superior e na inovação, com aportes de recursos suficientes, o Brasil poderá dar um salto tecnológico, dado o celeiro de talentos que abriga e que não pode ser desperdiçado, ao lado das condições favoráveis em termos de insumos e condições geopolíticas. Desse modo, a Presidente terá a chance de efetivamente deixar a sua marca que possibilitará maior avanço nos indicadores de educação do país, visando situá-lo no seleto grupo de nações que desenvolve e exporta tecnologia, inovação, e que buscou tornar a qualidade de vida da população mais efetiva em termos de infraestrutura, saúde, educação e segurança. No contexto atual, a nossa competitividade e o nosso lugar no “concerto das nações” estão seriamente comprometidos, pela ausência de políticas concretas com investimentos nos setores estratégicos, no ensino superior e no mercado da inovação, para não perdermos “o bonde da história”. Os países asiáticos são o melhor exemplo para demonstrar que a educação de qualidade representa a alavanca necessária para aproveitar a oportunidade de ganhar espaço no mercado competitivo internacional. E o Brasil não pode esperar para dar esse salto qualitativo. Sabemos que a demanda por educação superior se encontra segmentada considerando a composição de nossa população que, nos últimos anos, teve forte inclusão social e econômica e se tornou desejosa de galgar novos horizontes. A classificação por classes “A”, “B”, “C” e “D” mostra claramente uma classe emergente exigente que quer, e que precisa, acessar o ensino superior majoritariamente ofertado pelo segmento particular. Nesse sentido, a parceria governo e iniciativa privada precisa por meio da definição de políticas públicas claras, específicas, determinará o aumento da oferta de oportunidades diversificadas, em conformidade com: a) as necessidades do crescimento do país; b) a permanência do alunado no sistema; c) a qualificação docente responsável pela condução da população em processo de formação. Esta parceria é urgente e necessária para que tenhamos como saída uma qualidade exigida pelo mercado e que responda às necessidades atuais e futuras da sociedade. Para tanto, sabemos que nosso poder de compra ainda é precário, apesar dos avanços ocorridos nos últimos anos. Políticas de fomento precisam se tornar permanentes, institucionalizadas, efetivas e garantidoras da continuidade de acesso aos recursos financeiros, para permitir projeções confiáveis em termos quantitativos e dos avanços requeridos. A inclusão social e econômica da população – preconizada nos governos Lula e Dilma está contida na meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) que prevê um salto nos indicadores de acesso e permanência no ensino superior colocando o país no primeiro mundo. Mas isso é um desafio que necessita provocar a reação política de nossos dirigentes. Investir em educação não representa risco, mas determinação política e ousadia de acreditar que somente a pátria será educada se tivermos a coragem de investir sem olhar os números como gastos momentâneos que ficam ao sabor das complexas condições estruturais do país. O exemplo da Coreia do Sul, já citado, ousou sair da miséria para o topo tecnológico apostando tudo na educação de seu povo de forma consciente, firme, responsável e exigente investindo pesadamente no setor. Hoje os resultados em menos de uma década apareceram. E por que não o Brasil? Cobrar resultados qualitativos se tornou premente. Cobrar avanços e queimar etapas é questão de uma verdadeira cruzada para reagir de forma construtiva ao status quo atual. Mas para isso precisa a coragem de transformar o lema da presidente Dilma em realidade concreta e efetiva deixando de lado questões ideológicas – todos marchando juntos em defesa de uma pátria política, tecnológica e socialmente independente. Para tanto, sabemos que nosso poder de compra ainda é precário, apesar dos avanços ocorridos nos últimos anos. Políticas de fomento precisam se tornar permanentes, institucionalizadas, efetivas com garantias de continuidade de acesso aos recursos financeiros, para permitir projeções confiáveis em termos quantitativos e dos avanços requeridos. Políticas restritivas agora em educação em termos de investimento e bloqueio de recursos significam retrocesso, falta de visão e nos torna responsáveis perante a história pela perda da grande oportunidade que se oferece ainda ao Brasil de aproveitar as condições demográficas favoráveis hoje existentes.