Permanece a esperança de que o governo reconheça a importância do segmento privado de ensino superior para a formação de jovens e de adultos e para contribuir no processo de implantação do Plano Nacional de Educação (PNE). Permanece a esperança de que o governo reconheça também o papel do setor privado como parceiro incansável na busca de um desenvolvimento harmônico e sustentável da sociedade brasileira.A preocupação em saber quais são as tendências do ensino superior para os próximos anos e em conhecer a realidade atual da educação brasileira reuniu mais de quinhentas pessoas – mantenedores, gestores, professores e profissionais da área – no VIII Congresso do Ensino Superior Particular (CBESP) realizado nos dias 14 e 15 de maio na cidade do Rio de Janeiro. O evento foi também acompanhado ao vivo pela internet por mais de 1.100 pessoas em todas as regiões brasileiras e países como Estados Unidos, Holanda, Japão, China, Turquia, Espanha, Suíça, dentre outros. As atividades foram marcadas, de uma forma geral, pelas análises e pelas discussões sobre questões fundamentais tais como a pujança e os desafios do setor em adentrar no mundo da tecnologia, da inovação e criatividade; a consolidação da pós-graduação stricto sensu como o caminho para a pesquisa; o permanente desafio da qualidade; o apoio à qualificação do corpo docente e as tendências para compreender e antever as iniciativas que podem orientar o planejamento das instituições de ensino superior (IES). O jornalista Carlos Alberto Sardenberg, com um olhar crítico, analisou metodologicamente a situação atual do Brasil em seus diversos setores. Apontou a precária situação fiscal do país, fruto de políticas mal conduzidas, bem como seus reflexos nos diferentes campos das atividades, entre os quais o do ensino superior. Observou a precariedade da situação econômica das IES públicas que, tolhidas em seus orçamentos, veem seus planejamentos morrerem de inanição sem perspectivas de solução em curto e médio prazos. Demonstrou que o “arrocho” financeiro chegou de forma avassaladora, indo de encontro aos discursos públicos do executivo de preservar os setores essenciais da área social. Analisou, ainda, os porquês da situação atual, usou de clareza ao afirmar que os programas sociais foram mal planejados e sem previsão de sustentabilidade. Para ele, o Brasil “navegou em mar azul” quando a economia mundial ia bem. Nesse período, o governo queimou dinheiro à vontade, com concessões e subsídios, resultantes de políticas clientelísticas e desacertos, já analisados por economistas de renome, que culminaram na situação atual. Os prognósticos, nada otimistas, segundo Sardenberg, demonstram que o setor público não terá mais condições de fazer investimentos, inclusive em setores sociais considerados prioritários, sem a necessária participação da iniciativa privada. Para ele, o Estado vê-se diante da impossibilidade de concluir as construções das suas quase duas dezenas de universidades novas. Afirmou com convicção que o protagonismo na educação superior, nos próximos anos, está na mão do setor particular para atender os justos anseios da sociedade brasileira. Deixou sobejamente claro que o segmento deverá encontrar outros caminhos para apoiar alunos carentes, pois não vislumbra a recuperação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que apresenta problemas de concepção e de sustentabilidade. Durante todo o evento, a relação professor-aluno mereceu atenção especial. Ficou claro que o aluno de hoje exige um tratamento diferenciado e, principalmente, uma mudança de abordagem na comunicação com os seus mestres para que os resultados do processo de ensino-aprendizagem atinjam as metas e os objetivos programados. Surpreendeu, positivamente, o reconhecimento por parte do Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Gilberto Garcia, dos desafios existentes no órgão, resultantes das tendências conservadoras em relação a diversos aspectos que vão desde as suas competências até os processos de regulação. Os projetos de resolução referentes à pós-graduação lato sensu e à educação a distância (EaD), em fase de discussão, revelam contradições demonstrando que em muitos pontos estão indo na contramão do resto do mundo. Segundo Garcia, a visão distorcida de buscar apoiar a EaD no ensino presencial invalida os esforços regulatórios para evitar amarras e limitações desproporcionais. As novas tecnologias e os modernos aplicativos do mundo virtual se destacam pelas suas inúmeras possibilidades e disponibilidades imediatas. Todavia, se encontram limitadas em sua implantação e nos avanços frente a um sistema regulatório, e também burocrático, que os inviabiliza com grandes prejuízos para o processo ensino-aprendizagem. Tudo isso aumenta o custo Brasil – que alguns ousam chamar de “custo MEC” – e, ao mesmo tempo, demonstra que será preciso repensar o sistema de avaliação e regulação para não comprometer o desenvolvimento do ensino superior brasileiro frente a nossos vizinhos e ao mundo. Nenhuma instituição avança sem a força de alguns elementos fundamentais> lideranças fortes, paixão por educar, persistência, criatividade, inovação e visão de futuro tal como ficou enfatizado nas apresentações de diversos dirigentes e especialistas. O ponto alto do CBESP foi, sem dúvida, o painel que abordou o tema financiamento estudantil, sobre o qual se criou uma grande expectativa. Entre os aspectos abordados sobre o programa, destacam-se: a) concepção sem o devido cuidado com relação a sua sustentabilidade financeira, tendo em vista a estrutura de oferta que cobriu, até 2014, quase dois milhões de alunos; b) mudanças ocorridas de forma abrupta sem consulta e aviso prévios aos setores envolvidos e c) falta de opções para os estudantes que foram obrigados a adiar e/ou abandonar os cursos em andamento. Apesar de sua importância e relevância, o Fies se tornou insustentável, com consequências graves para a inclusão das classes “C”, “D” e “E” e dos que ganham até 1,5 salários mínimos. O Fies, segundo a opinião de especialistas, se reduzirá drasticamente para o setor privado, fato que obrigará a procura de fontes alternativas de financiamento, a exemplo de algumas analisadas durante o Congresso. Novas parcerias e fontes de financiamento se tornam grandes desafios a serem enfrentados, já no próximo ano, tendo em vista não só as restrições do Fies como também as do Programa Universidade para Todos (ProUni). Concluiu-se que, para superar os desafios contemporâneos, o setor privado deverá ver o mundo sob outros olhares, pensar diferente, analisar o custo/benefício de suas ações, ousar, usar a criatividade, a inovação, visando encontrar alternativas que viabilizem seu crescimento e desenvolvimento. Somente assim, poderá assumir o protagonismo no atendimento dos reclamos do mundo do trabalho modificado pelo avanço das tecnologias e pelas novas exigências de qualificação, de competências, atitudes e habilidades. Estamos conscientes de que constituímos um sistema heterogêneo e que para sermos respeitados devemos nos unir para que possamos ser vistos pela sociedade como um conjunto harmonioso formado por grandes, pequenas e médias IES, embora as estratégias e os desafios para a sustentabilidade de cada grupo sejam diferenciados. Cada tipo de instituição tem a sua realidade socioeconômica e regional, porém todas buscam alcançar o mesmo objetivo qual seja o de oferecer serviços educacionais de qualidade. Estamos conscientes também de que devemos somar esforços com o setor público para promover o desenvolvimento pleno do ensino superior brasileiro com o objetivo de contribuir para o fortalecimento de seu papel no protagonismo das nações em franco processo de desenvolvimento. Concluindo, o VIII CBESP superou as expectativas e representou, apesar dos desafios colocados, um sopro de esperança e de renovação baseado no entendimento e na parceria entre os setores público e privado na busca de soluções para os problemas educacionais e para um desenvolvimento harmônico e sustentável da sociedade brasileira.