Pelo menos em um aspecto os seres humanos são radicalmente diferentes das restantes criaturas do planeta: o que nos distingue é a capacidade de imaginar. Em consequência, contamos com poderes ilimitados de criatividade. (Ken Robinson) [1]Passou totalmente despercebida pelos meios de comunicação especializados, por outros veículos em geral e por grande parte da comunidade educacional e universitária a publicação pelo Ministério da Educação (MEC) da Portaria nº 751, de 21 de julho de 2015. Com este ato, foi constituído o Grupo de Trabalho (GT) “responsável pela orientação e acompanhamento da Iniciativa para Inovação e Criatividade na Educação Básica do Ministério da Educação – MEC”. A Portaria chega em boa hora, pois o mundo desenvolvido já vem se preocupando com a perenidade de seus sistemas educacionais e, para tanto, busca adequá-lo constantemente às transformações que ocorrem nas empresas e no mundo do trabalho, em que a cultura da criatividade, da inovação e do empreendedorismo desponta como uma das mais importantes alternativas à sua sustentabilidade. Neste nosso planeta perplexo, a criatividade é uma estratégia poderosa para transformar as organizações, especialmente a “modorrenta” universidade. O Brasil vive hoje um cenário de grande turbulência política, econômica e social, que vem prejudicando o progresso e o bem-estar da nação e que abre espaços para o pessimismo hoje presente no inconsciente coletivo da população. Os problemas são velhos conhecidos, como é o caso da indústria nacional, que não possui, de fato, um desenvolvimento tecnológico de ponta para fazer frente ao alto nível da competitividade globalizada. Quando muito, alguma multinacional traz uma planta fabril de um produto global, quase sempre com tecnologia estrangeira, cujos produtos, na maioria das vezes, é produzido apenas para atender a demanda do mercado local e, no máximo, as do Mercosul. As exportações para outras regiões geram divisas insuficientes e pouco significativas para o país. Outro problema antigo é que o Brasil tem dificuldades de vencer a balança comercial e, mesmo quando consegue equilibrar os patamares de exportação e importação, fica constatado que somos a nação que exporta comodities para importar produtos de alta tecnologia. Em meio a toda esta problemática, o governo convoca o país para produzir pesquisas voltadas para gerar inovação, patentes e tecnologias de ponta por meio dos centros de tecnologia e inovação, de pesquisa e desenvolvimento, das universidades públicas e das empresas. Os resultados, no entanto, continuam pífios, muito aquém das necessidades quantitativas e qualitativas para fazer frente à situação delicada pela qual o país está passando. Pouquíssimas patentes são geradas se comparadas com aquelas das nações desenvolvidas. Com raríssimas exceções, saem dos laboratórios brasileiros e das teses acadêmicas protótipos e/ou modelos de produtos para atender as necessidades empresariais e as demandas do mercado. A maior parte da nossa população está acomodada numa zona de conforto, sem vontade, sem tomar atitudes ou, até mesmo, sem forças para arregaçar as mangas e enfrentar a crise de frente em busca de soluções para os problemas que já são larga e historicamente conhecidos. Para agravar ainda mais a situação, o Brasil depara com uma de suas maiores incoerências: a de ser formado por uma população muito criativa, sem conseguir, porém, que tal criatividade gere desenvolvimento econômico relevante e suficiente para estabelecer uma distribuição de renda mais justa, com inclusão social e com acesso a benefícios básicos de alimentação, educação, saúde e transporte, entre outros. Como é sabido – tal como já afirmei muitas vezes em artigos neste blog – os Estados Unidos (EUA) fez muito bom uso da criatividade como estratégia de desenvolvimento econômico nos períodos pós primeira e segunda Guerras Mundiais, por meio da importação de cérebros, especialmente da Europa. Com tal medida, construiu um país criativo e inovador e conquistou a liderança mundial em Produto Interno Bruto (PIB), exportações e patentes de produtos de alta tecnologia. O Japão também se utilizou de estratégia semelhante para se reconstruir no pós-guerra. A China está terminando de reverter sua condição de fabricar produtos de baixa qualidade, por meio da importação de talentos profissionais de outros países, principalmente da Alemanha. A Coreia do Sul mais recentemente revolucionou o setor educacional focando em pesquisa e desenvolvimento para gerar inovação e deu, nos últimos dez anos, um salto quantitativo na geração de patentes com resultados relevantes no cenário mundial. Assim, é louvável a iniciativa do ministro da Educação, Renato Janine, em atacar o mal pela raiz. Ou seja, vamos discutir o que é criatividade e como ela pode efetivamente gerar inovação que resulte em desenvolvimento econômico para o país e vamos implantá-la na educação. Pois, salvo engano, é a primeira vez, que o Ministério da Educação cria um GT para estudar o assunto. Esperamos que o trabalho do MEC tenha como foco descobrir formas de transformar a criatividade brasileira em um ativo de desenvolvimento econômico para o país. Reafirmamos que a criatividade surge como um instrumento da maior importância na definição de políticas públicas para o país. Para vencermos as adversidades, as agitações políticas e econômicas e derrotarmos a crise, precisamos sair de casa para entender melhor a situação, diagnosticar acertadamente os problemas e usar a criatividade para resolvê-los com um propósito pré-estabelecido de melhorar a qualidade de vida da população. Robinson menciona no livro Libertando o Poder Criativo o discurso de Abraham Lincoln ao Congresso americano, sobre a necessidade de mudar o país:
Os dogmas de um passado tranquilo, não são adequados ao presente tumultuado. O momento agora é marcado pela dificuldade. Como a nossa realidade é inédita, precisamos pensar de maneira nova e agir de modo igualmente novo. Precisamos nos libertar primeiro e depois salvar o nosso país.Coincidência ou não, a assertiva de Lincoln aplica-se integralmente à situação em que estamos vivendo. Finalmente, temos a esperança de que a Portaria nº 751/2015 do MEC possa ser um marco histórico, e que o "gigante pela própria natureza” acorde de seu “berço esplêndido" para transformar o país em um Brasil criativo, capaz de tornar melhor a vida de todos os brasileiros. Esta esperança parece ser, nesse delicado momento, a única luz no final do túnel a iluminar a cabeça e a mente daqueles responsáveis pelos destinos do Brasil. [1] Libertando o Poder Criativo – a chave para o crescimento pessoal e das organizações.