Por: Carmen Tavares*
Nos últimos tempos, tenho me interessado cada vez mais pela temática da inovação na educação superior, após ter cursado um mestrado em gestão da inovação, com área de pesquisa em inovação educacional, e tido contato com literatura e cases sobre os temas com diferentes abordagens , tais como a utilização de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação na prática docente e na vida acadêmica, a IA no âmbito das instituições de ensino, sociedade 5.0, realidade virtual e aumentada que são temas que venho abordando nessa coluna e que trazem a real possibilidade da substituição das aulas expositivas por práticas e atividades em equipe fundamentados na resolução e problemas e criação de soluções inovadoras com real valor agregado.
Apresentando o conceito de inovação na educação superior, acredito que o Prof. Dr. Guilherme Ary Plonki, da USP defina muito bem o que é inovação: “Inovação é resultado, mas inovação também é processo. Inovação como resultado é uma ideia implantada pela primeira vez que tenha efeito significativo. É também o conjunto de condições e ações que fazem com que tenhamos sistematicamente aprimoramento de processos. É algo que deve ser prioridade para gestão de um a instituição”. Portanto, são processos ou resultados que impactam na organização das universidades, seja na área do negócio ou na organização do ensino universitário.
Um dos instrumentos que pode auxiliar na construção de um ambiente mais inovador é a confecção do próprio PDI (Projeto de Desenvolvimento Institucional) da IES.
O PDI de uma universidade é um elemento-chave para torná-la mais inovadora e relevante no mundo dos negócios. Uma universidade que busca ser inovadora deve ter um projeto pedagógico que inclua uma abordagem multidisciplinar, integrando conhecimentos e habilidades de diversas áreas, e que estimule a criatividade e o pensamento crítico dos alunos.
Uma universidade inovadora também deve ter um currículo flexível e atualizado, que se adapte às mudanças no mundo dos negócios e nas demandas do mercado de trabalho. Isso pode ser alcançado através de parcerias com empresas e organizações, feedback de ex-alunos e especialistas em diversas áreas, e também através de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias de ensino. O trabalho com projetos ou com objetivos de aprendizagem em que as disciplinas orbitam em torno de macro projetos ou objetivos tem se apresentado bastante eficaz, embora tenhamos pouquíssimas universidades que conseguem executar essa prática, geralmente alinhada a uma necessidade de mercado ou demanda social. Interessante ainda o que vem através da colaboração entre IES, professores, alunos e empresas ou governo. O que geralmente tem sido feito como uma abertura inicial para inovação na universidade são projetos diferenciados através de programas de estágio, projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, eventos e competições de empreendedorismo, entre outras iniciativas que incentivem a interação e o networking entre os participantes. Mas, inovação vai além!
A modalidade presencial está cada vez mais sendo substituída pelo ensino a distância (EaD), e percebo uma falta de interesse por parte dos alunos em uma prática em que eles não são protagonistas. No entanto, mesmo no EaD, poucos alunos abrem suas câmeras e interagem durante as aulas. Em ambas as modalidades, é necessário encontrar maneiras de oferecer um espaço de aprendizado interessante para os alunos.
Para abordar esse desafio, um aspecto a ser considerado é a arquitetura curricular, composta por disciplinas que muitas vezes não geram um aprendizado significativo para o aluno. Uma solução seria envolvê-los em projetos ou objetivos de aprendizagem que realmente os interessem, o que poderia mantê-los engajados em sala de aula, independentemente da modalidade de ensino.
Para alcançar esse objetivo, é necessário repensar o papel das disciplinas como componentes curriculares, selecionando-as com base nos projetos ou objetivos formativos pretendidos e como fonte de informações necessárias para a formação profissional dos alunos. Dessa forma, seria possível criar um ambiente de aprendizagem mais interessante e motivador, tanto no ensino presencial quanto no EaD.
Por outro lado, é preciso pensar na criação dos Núcleos de Inovação nas universidades que são criados com o objetivo de incentivar e fomentar a cultura da inovação e empreendedorismo no meio acadêmico, promovendo a transformação do conhecimento em novas soluções e tecnologias, que possam ser aplicadas em diversos setores da sociedade.
Para criar um núcleo de inovação, é necessário seguir algumas etapas, como:
- Identificar os recursos disponíveis na universidade, como professores, pesquisadores, laboratórios, equipamentos e outras infraestruturas que possam ser utilizadas para a criação de novos projetos de inovação. Não podemos nos ater apenas para estruturas físicas, pois muitas inovações não precisam de laboratórios ou mesmo tecnologia de ponta.
- Definir uma equipe responsável pela gestão do núcleo de inovação, que deve ser formada por profissionais capacitados e experientes em gestão de projetos e empreendedorismo;
- Estabelecer parcerias com empresas, instituições governamentais e outras universidades, a fim de fortalecer a rede de contatos e ampliar as possibilidades de colaboração em projetos de inovação;
- Promover a cultura da inovação entre os alunos e professores, por meio de cursos, workshops, palestras e eventos, que possam disseminar o conhecimento e incentivar a participação de todos;
- Selecionar projetos de inovação que possam ser desenvolvidos pelos alunos e pesquisadores, oferecendo suporte técnico, financeiro e de gestão para a execução dos mesmos.
Os benefícios da criação de um núcleo de inovação na universidade são diversos, como:
- Estimular a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, que possam ser aplicadas em diversas áreas da sociedade;
- Promover o empreendedorismo e a criação de novas empresas, a partir dos projetos desenvolvidos na universidade;
- Contribuir para a formação de profissionais mais capacitados e preparados para atuar no mercado de trabalho, com habilidades empreendedoras e inovadoras;
- Fortalecer a imagem e a reputação da universidade, como referência em pesquisa e inovação;
- Gerar impacto social e econômico, por meio da aplicação das tecnologias e soluções desenvolvidas na universidade, em diversos setores da sociedade.
Enfim, a inovação é a criação de novas realidades, afirma Plonski no artigo intitulado Inovação em transformação (PLONSKI, G.A. Inovação em transformação. Estudos Avançados 31 (90), 2017. São Paulo. Brasil). O texto explicita a característica criativa da inovação em trazer a existência algo que não havia. Para tal, precisa “ser compreendida como um conjunto estruturado de ações ou operações visando a um resultado e, portanto, a inovação é propensa a ser estimulada, promovida e gerida”. O autor ainda afirma que a inovação precisa ser objeto de desejo de todos os setores, e isso inclui o educacional. Outro aspecto importante está voltado para o pequeno potencial que as instituições possuem para alavancar inovação através do conhecimento científico. Portanto, a produção de conhecimento, sobretudo no seguimento educacional, a sistematização das ações e o planejamento para inovação é fundamental.
Por: Carmen Tavares*
Um artigo publicado pelo Prof. Msc Nei Grando, me inspirou a escrever sobre Roger Spitz, que trabalhou por 20 anos em bancos de investimento cuidando de aquisições e fusões, o que o levava a viajar o mundo e antever tendências futuras. Agora, mora em São Francisco e comanda a Techistential, uma empresa que une tecnologia e existencialismo. Spitz usa a ficção científica como ferramenta para pensar o futuro em um contexto existencial. Com sua expertise em futurismo, Roger Spitz apresenta uma visão mais realista e pragmática do futuro.
Esse texto é fruto da adaptação e tradução de um dos artigos mais relevantes de Roger Spitz cujo link encontra-se no final do texto.
“A Inteligência Artificial agrega muito na tomada de decisões. Isso torna o processo mais claro, rápido e mais orientado por dados. Com a IA, pequenas decisões podem ser tomadas em movimento, ela facilita a resolução de problemas complexos, permite iniciar mudanças estratégicas, avaliar riscos e avaliar o desempenho de todo o negócio.” |
Nos últimos anos, a Inteligência Artificial tem sido crucial para apoiar e automatizar a tomada de decisões operacionais, táticas e estratégicas nas empresas. O artigo "O Futuro da Tomada de Decisões Estratégicas" é recomendado para pesquisadores e líderes educacionais. É importante ensinar aos alunos de todas as áreas a usar a IA para tomada de decisões. Para lidar com esse desafio, precisamos adotar uma abordagem de aprendizado mais experimental e descoberta, começando cedo na educação e estendendo-se até as salas de reuniões. O acrônimo AAA (Antecipatório, Antifrágil e Ágil) é usado para lidar com a complexidade crescente do mundo. Essas habilidades são essenciais para os seres humanos se manterem relevantes e acompanhar o ritmo acelerado da aprendizagem de máquinas. É crucial que priorizemos o desenvolvimento dessas habilidades na educação e em nossas instituições para garantir decisões eficazes e adaptativas no futuro.
Tomada de decisão: a capacidade não é mais exclusiva dos seres humanos - a ascensão das máquinas na hierarquia da tomada de decisão empresarial
Com o avanço do aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural, a inteligência artificial está aumentando rapidamente sua capacidade de tomada de decisões estratégicas, enquanto as capacidades humanas podem não estar acompanhando esse progresso. A IA pode reduzir as habilidades cognitivas, sociais e de sobrevivência das pessoas. A tomada de decisões segue um processo simples de três etapas, mas muitas falhas podem ocorrer nesse processo. Essas falhas na tomada de decisões podem ter consequências significativas, como perder oportunidades estratégicas e ser ultrapassado pelos concorrentes. É legítimo questionar como podemos aprimorar nossas capacidades de tomada de decisão para enfrentar esses desafios no futuro.
Atualmente, a IA é predominantemente utilizada pelos seres humanos para obter insights, no entanto, em um futuro próximo, é possível que as habilidades da IA ultrapassem as habilidades humanas em todas as fases do processo. A análise preditiva, por exemplo, é uma área em que a IA já está se aprimorando constantemente, caminhando em direção a resultados prescritivos que sugerem opções específicas. Essa evolução contínua pode levar a uma nova era em que a IA terá capacidades que os seres humanos nunca imaginaram serem possíveis.
O avanço da Inteligência Artificial na detecção e coleta de dados em larga escala: o papel da interpretação na análise
A capacidade da inteligência artificial de detectar tendências, sinais e padrões em dados não estruturados em larga escala está ultrapassando a habilidade humana. A prova disso são as empresas inovadoras que estão usando a IA para superar a concorrência em diversas áreas. A Blue Dot usou NLP (Linguagem Natural de Processamento) e ML (Linguagem de Máquina) para detectar a propagação do COVID-19 antes do Centro de Controle de Doenças dos EUA. A Social Standards usa a IA para vasculhar as mídias sociais e detectar marcas e concorrentes emergentes antes que atinjam o auge de visibilidade. Já a Orbital Insight extrai informações de imagens digitais para prever o rendimento das colheitas ou as taxas de construção de edifícios na China.
Desvendando o Futuro: Como Algoritmos Aprimorados Impulsionam a Tomada de Decisões com Insights Preditivos Precisos
A inteligência artificial está transformando a pesquisa médica e farmacêutica, permitindo uma redução significativa nos custos de testes e descoberta de novas soluções e medicamentos. Exemplos notáveis incluem a descoberta do antibiótico Halicina e o medicamento DSP-1181, que entrou na fase 1 dos ensaios clínicos em apenas um ano graças à aplicação de inteligência de ML. A IA está acelerando a inovação e abrindo caminho para novos tratamentos que poderiam transformar a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
A IA está cada vez mais presente na tomada de decisões, mas ainda não é capaz de realizar autonomamente decisões estratégicas complexas. Embora a IA esteja se desenvolvendo rapidamente, existem limitações para o que ela pode fazer hoje, especialmente em sistemas complexos. À medida que a IA continua a evoluir, pode se tornar mais legítima na tomada de decisões estratégicas autônomas. Os líderes devem adotar um modelo experimental e estar dispostos a aprender com a IA e a adaptar-se às mudanças em constante evolução. Os seres humanos e a IA podem trabalhar juntos em projetos conjuntos de interpretação preditiva para obter os melhores resultados possíveis.
Desafiando a obsolescência: Estratégias para a Permanência Humana na Era da Tecnologia Avançada
Para se manter relevante em um mundo em constante mudança, é preciso ser antecipatório e antifrágil, o que envolve estar preparado para os desafios e ser capaz de lidar com mudanças. A liderança desempenha um papel fundamental nesse processo, interpretando sinais flexíveis e evitando confiar em riscos estatísticos. É importante adotar uma abordagem de tentativa e erro e estar sempre preparado para enfrentar ameaças e fraquezas. Ser ágil é crucial para tomar decisões estratégicas e priorizar a inovação e o aprendizado contínuo. Em resumo, permanecer relevante requer antecipação, antifragilidade e agilidade.
O texto aborda sobre a diferença entre sistemas frágeis e antifrágeis. Enquanto os sistemas frágeis são danificados pelos choques, os antifrágeis se fortalecem a partir da desordem. Porém, muitos sistemas econômicos e empresas seguem uma estratégia estereotipada de otimização e hipereficiência, tornando-os frágeis. Para permanecer relevante em um mundo dinâmico, é necessário criar ecossistemas sociais e econômicos inovadores capazes de se fortalecer sob estresse e pressão.
Ágil
À medida que o mundo muda exponencialmente, nossas organizações centralizadas e hierárquicas não são ágeis o suficiente. É preciso adotar uma abordagem mais flexível e adaptável. Compreender o sistema e as interdependências entre as partes é crucial, bem como aproveitar a liminaridade para impulsionar a inovação disruptiva. A descentralização e a fertilização cruzada também são úteis. Criar células enxutas e ágeis é uma estratégia inspirada na natureza para enfrentar desafios futuros.
Vislumbrando Horizontes: Explorando as Possibilidades do Futuro
A inteligência artificial e a automação estão se tornando cada vez mais sofisticadas, o que pode ameaçar a posição de vantagem dos humanos na tomada de decisões. Os algoritmos podem superar a capacidade humana em termos de precisão e velocidade de processamento de informações. É importante considerar como nos adaptar a esse novo mundo e encontrar maneiras de manter nossa relevância na tomada de decisões. A habilidade de tomar decisões inteligentes e informadas é essencial para o sucesso em todas as áreas da vida, e não podemos nos dar ao luxo de sermos superados por máquinas.
Conforme a Inteligência Artificial (IA) continua a evoluir rapidamente, especialmente no campo da Emotion AI, podemos nos deparar com desafios crescentes na gestão de mudanças constantes e imprevisíveis. Isso pode exigir uma mudança significativa na forma como tomamos decisões estratégicas no futuro. Existem várias opções em jogo: podemos nos adaptar e melhorar nossa tomada de decisão, colaborando com as máquinas e utilizando insights fornecidos pela IA para descobrir novas oportunidades.
A alternativa distópica: do C-Suite ao A-Suite?
Eu almejo um mundo onde as escolhas humanas continuem a moldar o futuro da nossa espécie, onde ponderamos sobre o que é necessário para aumentar nossas probabilidades de edificar um mundo melhor. Caso contrário, corremos o risco de presenciar a substituição de nossos líderes da alta cúpula por um conjunto de algoritmos - um cenário conhecido como A-suite.
Por meio do modelo de três horizontes de Curry e Hodgson, podemos vislumbrar nossos possíveis caminhos futuros:
O Presente Incorporado com Bolsos de Futuro: Neste cenário, nosso presente é permeado por "bolsos de futuro", onde inovações e mudanças incrementais são adotadas para moldar nosso futuro de forma progressiva.
Simbiose Homem-Máquina: O segundo horizonte é caracterizado pela hiper-augmentação, em que decisões preditivas são combinadas com a inteligência humana AAA para criar uma parceria simbiótica homem-máquina. Nessa realidade, algoritmos inteligentes trabalham em conjunto com humanos para tomar decisões mais precisas e eficientes.
Futuro da IA: O terceiro horizonte é representado pela IA prescritiva, que avalia autonomamente uma ampla gama de opções potenciais e determina as melhores decisões com base em retornos otimizados, sem envolvimento humano direto. Esse horizonte oferece oportunidades para novos modelos prescritivos de tomada de decisão, como Organizações Autônomas Descentralizadas (DAO) e Swarm AI.
Concluindo: A Inteligência Artificial é uma das mais notáveis criações da humanidade, mas sua governança requer não apenas destreza técnica, mas também sabedoria e discernimento para garantir que ela seja uma força benéfica para a sociedade. É fundamental adotar a inteligência AAA para garantir a agência sobre nossos futuros desejados. Esperar pode nos colocar em uma posição de risco, sendo levados adiante na cadeia de valor sem considerar nossas preferências futuras.
Referência:
Spitz, R. (2020, March 17). Innovation starts when you fall off the edge of the playground. MIT Technology Review. https://insights.techreview.com/innovation-starts-when-you-fall-off-the-edge-of-the-playground/
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br