Desde criança, por meio de suas ilustrações, Leonardo Da Vinci tentava descobrir como as coisas funcionavam. Ele analisava cada detalhe e os desenhava. O mesmo ocorria com suas invenções: desenhava-as e depois fazia anotações no esboço, todas escritas ao contrário. Para decifrá-las, seria preciso colocá-las na frente de um espelho. Certamente, ele queria evitar que “roubassem" suas descobertas e invenções ou as divulgassem antes de estarem totalmente prontas. Esse cuidado de Da Vinci ilustra bem os quatro conceitos que quero esclarecer: descoberta, invenção, criatividade e inovação. A inovação, segundo definição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é a implementação de uma invenção, um produto, bem ou serviço novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou uma estratégia de marketing ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações empresariais. Para simplificar, a inovação é percebida pela sociedade quando adotamos produtos ou serviços que melhoram nossas experiências, nos tornam mais produtivos, agregam alguma dimensão de qualidade às nossas vidas. Isso se relaciona diretamente ao processo criativo, visto que, a criatividade , é o pontapé inicial da inovação. Um exemplo disto é o post-it. Em 1968, Spence Silver, um pesquisador da 3M, inventou um novo adesivo, que não tinha forte aderência quando aplicado às fitas. Durante mais de cinco anos Silver procurou sem êxito uma utilidade para o seu invento. Sua cola era uma invenção, mas não uma inovação. Foi quando Art Fry, que, além de trabalhar na 3M, cantava no coral da sua igreja, resolveu experimentar a cola nos marcadores de páginas de seu livro de cânticos. Surgia o post-it, uma inovação da 3M que reinou sozinha durante longo tempo. O tema criatividade tem sido abordado em diferentes áreas, caracterizando, assim, a natureza inter e transdisciplinar do conceito, que se estabelece como um valor contemporâneo ajustado aos objetivos mais diversos. Vale ressaltar, que o processo criativo é de domínio público, ou seja, todos nós nascemos criativos. Podemos dizer que a criatividade é que nos distingue dos animais. Aliás quem afirma isto é Carl Gustav Jung, que considera a “criatividade um instinto a mais que o ser humano possui em relação aos animais”. O que precisamos é aprender a desenvolver nossas habilidades e nosso “viver criativo” pelos hábitos e processos mentais que favoreçam o exercício da criatividade. É importante observar que o nosso mundo está passando de uma economia industrial a uma economia do conhecimento, mutação reforçada pela revolução digital, definida por muitos como a terceira grande evolução da humanidade, depois do surgimento da escrita e da imprensa. Nesse maravilhoso mundo novo, o valor do indivíduo não está em possuir conhecimento, mas em ser capaz de utilizá-lo, combiná-lo e fazer conexões. Isto quer dizer que quanto mais ideias se tiver, mais probabilidades de iniciativas poderão vingar. Como já tenho feito em alguns artigos, quero relacionar a Criatividade à Educação, atentando para a necessidade atual de valorizar o processo de ensino e aprendizagem voltado ao desenvolvimento de competências e habilidades para atender a esse novo e exigente contexto histórico-social. Essas mudanças cobram que se desenvolvam competências (mobilização dos conhecimentos e dos esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos) e habilidades (que estão relacionadas ao “saber fazer” e são inseparáveis das ações) que permitam aos alunos/profissionais agirem de maneira criativa e inovadora num processo coletivo, colaborativo, aberto, que abrigue diferentes perfis e olhares para situações e problemas reais, que possam melhorar a sociedade e a vida das pessoas, e consequentemente a educação. Boa parte da grande transformação dos processos educacionais não está no que fazer, mas no como fazer. Por tratarem do ensino formal e conteudístico, as escolas repetem o momento cartesiano do modelo científico, a linearidade na construção e resolução de problemas, já o processo criativo, que coloca a humanidade em movimento, está justamente na capacidade de fazer conexões não lineares, como o caso dos breves exemplos citados neste artigo. Por isso, a importância da valorização do ensino e aprendizagem por competências e habilidades. A competência em mobilizar conhecimentos prévios, mas ampliá-los também com novos, construindo a capacidade de estabelecer conexões. As habilidades em colocá-los em movimento, em ação, fazendo as conexões, na resolução de problemas e desafios reais, agregando-lhes valor colaborativo, social, emocional e coletivo. O ensino baseado em problemas permite que o aluno busque o conhecimento nos inúmeros meios de difusão da informação hoje disponíveis e aprenda a utilizar e a pesquisar esses meios. A diversidade, ao contrário da unicidade, é que pouco acrescenta. O desafio é saber quais competências são exigidas por um processo de criatividade e inovação. A brochura Un tableau de bord des compétences essentielles pour la créativité et l’innovation lista seis dimensões que precisam ser dominadas em três grandes áreas:A criatividade é o recurso mais fecundo com que o homem, desde sempre, procura dominar seus inimigos atávicos: a fome, o cansaço, a ignorância, o medo, a feiura, a solidão, a dor e a morte. Em cada esquina do planeta, em cada fase da sua evolução, a criatividade humana consegue atribuir uma forma ao caos e dar um significado as coisas.
Domenico De Masi (do livro “Criatividade e Grupos Criativos”)
- Saber: 1) dominar uma disciplina de base e combiná-la com conhecimentos diversos;
- Saber-Ser: 2) conhecer-se e conhecer suas motivações profundas; 3) possuir um estado criativo; 4) cultivar a inteligência coletiva (uma vez cada indivíduo domina mais uma competência do que outra);
- Saber-Fazer: 5) processos, métodos e técnicas de criatividade e inovação; 6) ferramentas.