“Não há problema das pessoas usarem humor, esperteza, dramaticidade e outros truques do entretenimento para passar a informação que julgam importante.” Michael Schudson, professor de Comunicação da Universidade de Columbia“Senhor Presidente, Pelo setor diplomático estamos acompanhando o desenrolar da crise brasileira, que teve como consequência o afastamento temporário da presidente da República e a instalação de um novo governo que ficou sob sua responsabilidade. Desejar entender de longe o ocorrido é difícil para se ter uma avaliação sensata e objetiva dos acontecimentos. A meu ver, tudo leva a crer que se trata das dores de parto de uma jovem democracia em crescimento, onde há um imenso desafio a se resolver, maior do que o de trocar toda a tripulação de uma aeronave em pleno voo. (Na minha língua, “you have a lemon on your hands”) O Brasil (como qualquer país) tem problemas de toda ordem a serem enfrentados: na economia, na política, na sua estrutura social e, principalmente, no sistema de governança de todas as esferas de poder constituído. E eles mostram enormes lacunas comportamentais do executivo, do legislativo e do judiciário. O que está claro é que o presente modelo de governança do estado brasileiro exauriu-se porque está viciado por uma cultura onde os dirigentes não estão preocupados com a sustentabilidade do país e com a melhor qualidade de vida de suas populações, mas sim com seu benefício próprio e permanência no poder de forma ilimitada. Eles se veem donos do poder e não servidores da sociedade. Inegavelmente, o primeiro obstáculo de seu governo é começar a controlar as despesas de casa, porque as contas federais estão uma lástima, devastadas que foram por uma sequência de erros e desatinos. É uma crise sem precedentes que, vista sob a ótica da oportunidade, se for resolvida, dar-lhe-á ensejo de consagrá-lo na história como o governante que solucionou os problemas de um país em destruição. Como não vai dar tempo de aconselhá-lo pessoalmente, faço-o por e-mail, indicando a primeira regra básica das decisões: os grandes problemas só são resolvidos por gente competente, entusiasmada, focada e com espírito público, que, segundo li, não é a característica do quadro de colaboradores escolhidos para seus ministérios. E um dos problemas é que se o presidente não for “rápido no gatilho”, não sobreviverá. Sei que é uma tarefa complicada armar uma equipe às pressas e atender a todas as demandas políticas, mas, com raras exceções, os nomes escolhidos são velhos fregueses da estratégia cartorial e de arranjos vantajosos para si e para os seus e só por isto já frustraram àqueles que vislumbram uma vida mais digna para os brasileiros. Presidente, logo que fui eleito para o Governo dos Estados Unidos, um dos primeiros discursos que proferi foi no Colégio Wakefield, em Arlington, Virginia, com transmissão pela TV e pelo rádio para todas as escolas americanas de ensino fundamental e médio e para todo o país. O meu propósito foi destacar a educação como única forma de preparar gente competente para desenvolver o país. Dei meu exemplo de estudante pobre, filho de mãe solteira que não tinha recursos nem condições de me colocar em escola paga e que me acordava às quatro e meia da manhã para me dar aulas extras. Falei das responsabilidades dos professores, que precisam ser os principais motivadores para o sucesso educacional dos seus alunos, e das mensagens de otimismo e de autoconfiança que precisam impregnar nas crianças para que elas possam vencer seus desafios e para que saibam que errar faz parte da aprendizagem. Destaquei também o papel dos pais e das famílias para o sucesso educacional e também da sociedade como um todo, colaborando nas iniciativas que visam o desenvolvimento educacional. E é lógico que considerei toda a responsabilidade do meu governo de valorizar o papel dos diretores e professores para que os estudantes de todos os níveis alcancem seus objetivos de se tornarem ótimos cidadãos. Com sinceridade e com toda a franqueza, uma coisa que me intrigou outro dia mostrada pelos meus assistentes foi um vídeo da Rede Globo do Brasil (Estudantes de Bom Jardim sofrem com situação precária de escolas) revelando o calamitoso estado das escolas do Maranhão, sem as mínimas condições de infraestrutura, na cidade de Bom Jardim, a 280 quilômetros de São Luís, capital do estado. O teto é de palha, as paredes são de barro e as duas únicas salas são divididas apenas por uma lona. Ali estão alunos da 6ª à 9ª séries do ensino fundamental, estudando juntos. O piso é de terra batida. Também não há energia elétrica, refeitório ou cozinha para preparar e servir o lanche das crianças. A escola não tem sequer banheiro de verdade: o que tem é um cercado de palha. O pior de tudo isto, senhor presidente, é que me disseram que o Maranhão é um estado dominado por um ex-presidente da República e sua família por mais de quarenta anos. Digo mais para o amigo: se as condições e o tempo não permitirem que se faça um estupendo plano de educação para seu país, reforme pelo menos as escolas em situação iguais a essa, que será lembrado eternamente como o governante mais atinado com a educação. Isso me faz refletir e aconselhar que o alicerce do desenvolvimento sócio-cultural-político-econômico necessário para transformar o Brasil num país com solidez em seu desenvolvimento global sustentável contínuo é a Educação. É esse o grande desafio que você tem pela frente, uma vez que não há um sistema educacional em consonância com a realidade brasileira. Educação como processo de mudanças através do conhecimento, da criatividade e da inovação, acessível a todo e qualquer cidadão, de qualquer faixa etária. Pensar em Educação desde o Ensino Básico, acolhendo crianças de dois a cinco anos, dará os subsídios necessários para a qualidade tão esperada nos demais níveis de ensino. Nessa fase, entre o lúdico e o aprender a fazer, as descobertas são incríveis e as respostas rápidas, alimentando a curiosidade pelo novo. A escola tem que ter o olhar para o tempo real e o imaginário infantil, pois é nesse universo que vivem as crianças. Uma das maiores responsabilidades de um líder é a de motivar e proporcionar as melhores condições para que todos aqueles a quem lidera possam evoluir para melhorarem e vencerem na vida. O seu maior desafio será contribuir significativamente para melhorar as condições de vida dos brasileiros, permitindo que possam vencer essa árdua e dura luta. Sua maior responsabilidade é envidar os máximos esforços para proporcionar o melhor nível de Educação para que o país possa ter progresso. Eu mesmo, e certamente você também, para chegarmos até aqui, estudamos muito e tenho convicção de que o conhecimento adquirido, da escola primária até a universidade, foi a principal razão para estarmos hoje ocupando o maior posto dos nossos países. E é essa competência educacional que você precisará propiciar aos seus estudantes. As famílias brasileiras devem ter certeza de que o maior legado que podem deixar é a Educação. E, por isso, é preciso que, em cada lar desse país, mães e pais tenham como principal compromisso a responsabilidade de prestar toda e qualquer assistência para que seus filhos e seus descendentes recebam a melhor Educação que for possível. Essa luta você tem que liderar porque vivemos em pleno século 21, onde o conhecimento é o recurso mais importante para o desenvolvimento econômico, humano e social. Quem sabe um dia o Brasil possa se tornar o país dos estudantes, formado por cidadãos com alta capacidade de análise e pensamento crítico a partir do estudo aprofundado da língua portuguesa e da leitura e interpretação de textos. Alinhados à habilidade de resolver problemas aprendidos em ciências e em matemática para curar doenças como o câncer e a Aids e para desenvolver novas tecnologias de energia e de proteção ao meio ambiente. O Brasil precisa das ideias e do pensamento crítico gerados a partir do estudo da história e estudos sociais, para ajudar a combater a pobreza, a miséria, o crime e a discriminação, possibilitando a criar um país mais justo e mais livre. Vai precisar da criatividade e da inventividade dos brasileiros para desenvolver e abrir novas empresas que gerem empregos e impulsionem sua economia de forma consistente e sustentável. Com boa Educação, o Brasil dará goleada em todos os países do mundo na geração de descobertas científicas, curas de doenças, patentes e novas tecnologias que revolucionem para o bem a vida de milhões ou bilhões de pessoas no planeta, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais colaborativa, inclusiva e justa. O Brasil precisa deixar de ser um país de futuro, para ser um país protagonista em construir o mundo do futuro, melhor, mais equilibrado, sem fome, miséria e pobreza, sendo assim um país da Educação. E meu desejo é, sem dúvida, que o presidente seja o timoneiro seguro para isto acontecer.” Usei a ficção para mostrar que só a educação salva o Brasil. Boa sorte e que Deus o ilumine a abraçar esta causa e que Deus abençoe o Brasil.