"Universidade e empresas têm de trabalhar juntas pela inovação. A fórmula, vitoriosa em todo o mundo, ainda não vigora no Brasil. Os alunos já perceberam que há algo errado. Os professores, ainda não."O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), fundado em 1861, tem exemplo alentador. O modelo adotado mostra como uma universidade voltada ao empreendedorismo colabora com para que seu país possa se desenvolver. Vejam estes números:
1-) 30 mil empresas foram fundadas nas últimas décadas;
2-) 4,6 milhões de pessoas trabalham nessas companhias;
3-) 60 cursos ministrados no MIT têm relação com empreendedorismo;
4-) 279 patentes lançadas em 12 meses, até julho;
5-) 25 companhias criadas em 12 meses, até julho.
Evidentemente, Brasil e Estados Unidos são países diferentes, culturas distintas e sociedades civis com outros objetivos e realidades. Para refletir melhor sobre isso, nos apoiamos na excelente matéria publicada na revista Época, de 23 de outubro, de Paula Soprana (Universidades brasileiras falham no ensino de empreendedorismo, e em dados da pesquisa “Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras”, realizada pela Endeavor e pelo Sebrae. Apesar de a pesquisa apontar que uma parte dos universitários brasileiros dos dias atuais demonstram a vontade de empreender, poucos deles têm como objetivo empresas que cresçam rápido em poucos anos. O estudo sinaliza que, embora 58% dos universitários pensem em empreender no futuro, apenas 11% esperam que suas empresas tenham mais de 25 funcionários cinco anos após a abertura. Mesmo entre os pesquisados que já são empreendedores, apenas 17,4% esperam alcançar esse resultado. Não são apenas os sonhos dos universitários que são pequenos. De acordo com a pesquisa, a maioria dos alunos também não se prepara para empreender. Apenas 14,1% indicam que gastam tempo aprendendo a iniciar um novo negócio. E entre os que sinalizam que “pensam muito em empreender”, apenas 22,6% demonstraram ter a mesma dedicação para começar de fato um negócio. A falta de atitude para empreender pode gerar impacto nos resultados sobre a confiança dos alunos para realizarem atividades típicas de um empreendedor, como contratar, gerir as finanças ou definir uma estratégia para um novo produto. Outros números preocupantes da pesquisa: entre os alunos que apontam baixa dedicação para empreender, apenas 20% se sentem muito confiantes para abrir um negócio. Entre os que dizem se dedicar, esse número dobra: cerca de 40% se sentem muito confiantes. A gerente de Pesquisa da Endeavor, Pamella Gonçalves, alerta para importante papel das escolas nesse contexto: “se tivermos mais universidades e professores que estimulem seus alunos a inovar, a se preparar e a sonhar grande, com certeza o Brasil poderá ter no futuro grandes histórias de empreendedores”. Mas, afinal, por que a universidade é tão morosa, demora para reagir, adota um corporativismo medieval, se recusa a inovar, se opõe à criatividade e se fecha em si mesma? Basta acionar o buscador do Google citando o termo “empreendedorismo e universidade” para termos 459 mil publicações sobre o assunto. Segundo Ricardo Schinaider de Aguiar [1], “a aproximação entre o mundo empresarial e o acadêmico pode ser fundamental para a inovação e o desenvolvimento tecnológico do país, e a importância em inovar e gerar novos conhecimentos e tecnologias vem crescendo e mudando a relação entre esses dois núcleos nas últimas décadas. Em todo o mundo, principalmente a partir da segunda metade do século XX, houve a aproximação entre as instituições acadêmicas e o mercado. No Brasil, esse processo ganhou força a partir do início do século XXI e ainda está em expansão. As principais universidades não estão mais apenas empenhadas em produzir conhecimento e formar profissionais, mas também em contribuir com o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Assim, por meio do empreendedorismo estimulado em universidades, está sendo quebrada a barreira cultural que separava o mundo acadêmico das empresas, estabelecendo uma nova e benéfica relação para ambos”. Em realidade, ainda temos poucos profissionais habilitados para incentivar o empreendedorismo no meio acadêmico. Além de termos poucos professores especializados, em virtude de ser uma área recente no nosso país, é uma dificuldade também mostrar ao universitário a importância de se preparar para empreender no futuro. Uma das maneiras de se iniciar esse processo são os estágios nas empresas. Mas não é raro que essa experiência seja conduzida de forma inapropriada, acabando por distanciar ainda mais o aluno do universo empresarial. É comum que, em vez de estimular o empreendedorismo e a troca de experiência, os estudantes sejam colocados para realizar tarefas operacionais apenas e acabarem desmotivados. Em 2004, foi criada a Lei de Inovação com o objetivo de ampliar as parcerias entre universidades e empresas para contribuir com o desenvolvimento tecnológico do país. Nesse âmbito, os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) têm o papel de tentar estabelecer melhores relações entre institutos de pesquisa e o setor produtivo. Os núcleos possibilitam que sejam detectados resultados de pesquisas com potencial para patentes, mas ainda é observada resistência por parte dos pesquisadores, preocupados que alguém os “roube”. E mesmo com os recursos recebidos pelas universidades públicas e os benefícios oferecidos às empresas, existem dificuldades para realizar o empreendedorismo. As relações entre empresas e universidades são motivadas por diversos fatores, mas, ao mesmo tempo, são desestimuladas por outras tantas barreiras. Isso se deve ao fato de que ambas as organizações possuem naturezas distintas, com princípios e valores muitas vezes antagônicos. Por um lado, a universidade pode dar mais valor à pesquisa básica do que à pesquisa aplicada e sua comercialização, e ter docentes que não compreendam as necessidades do setor produtivo. Por outro, as empresas têm, em geral, visão imediatista e normalmente exigem o direito de propriedade intelectual. Além disso, enquanto as universidades visam à publicação de artigos científicos, as empresas objetivam o desenvolvimento de produtos com aplicações imediatas. Nas universidades não se escutam as demandas do mercado de trabalho e o objetivo final esse esvazia com a produção dos Trabalhos de Conclusão de Curso que não atendem nem à sociedade, nem às empresas. E, assim, com orgulhos e vaidades, vamos pondo lenha na fogueira do atraso. ______ [1] Ricardo Schinaider de Aguiar: biólogo formado pela Unicamp, com especialização em Divulgação Científica também pela Unicamp.