“Insensivelmente começamos a alterar os fatos para provar as teorias ao invés de alterar as teorias para provar os fatos.” (Sherlock Holmes)Na semana passada, neste espaço, escrevi sobre “Os desafios da aplicação das novas tecnologias na educação” com o intuito de mostrar aos leitores o que está revolucionando o ambiente do ensino aprendizagem. Recebi e-mail expressando que deveria abordar com mais profundidade os aplicativos educacionais, que existem não só para facilitar a gestão acadêmica como para melhorar o desempenho da sala de aula, a pesquisa e todas as áreas de formação profissional. Não sou especialista no assunto, procuro apenas estar a par do que ocorre no setor educacional. É um tema apaixonante, que sugiro, inclusive, ser abordado em um seminário da ABMES específico sobre isso. Mas a questão traz também controvérsias. Uma delas foi publicada na Folha de S.Paulo, na segunda-feira (21/11), pelo excelente articulista Luiz Felipe Pondé, sob o título “Sonho dos gurus da tecnologia é fazer da humanidade um parque de idiotas”.
“Sou um animal da academia. Adoro seu cotidiano. Dar aulas, para mim, é um pequeno pedaço do paraíso. Sim, critico muito a academia porque ela virou, em grande parte, um espaço para gente fazer (apenas) ascensão social via manipulação dos colegiados a favor de grupos de poder institucional, portanto, um antro da mais baixa política”.Seu artigo é uma crítica amarga aos modismos da tecnologia e a seus arautos do Vale do Silício que a todo o momento inventam soluções de autoajuda para serem usadas pelas escolas e mostram que a universidade como conhecemos hoje acabou. Na outra ponta, numa guinada de 180 graus, o Porvir mostra no especial Mãos na massa propostas, práticas e aplicações inovadoras na educação:
A experiência mão na massa, prazerosa e lúdica, deve sobrepor-se à transmissão de conteúdo à medida que a primeira etapa de ensino é superada, e provavelmente as principais lembranças da escola das aulas teóricas, seguidas de provas são esquecidas. Uma das tendências na educação hoje é tornar o aprendizado mais significativo, propondo o retorno ao fazer, esquecido no jardim da infância. Em escolas do mundo inteiro, ganha força um movimento que valoriza a prática e a experimentação. Para investigar a fundo o que é e como acontece a educação mão na massa, também chamada de educação maker, ou hands-on, o Porvir e o Instituto Inspirare testaram um novo processo de práticas escolares. Em tarde de agosto deste ano, o conceito de experimentação foi colocado à prova em um workshop com professores e especialistas em educação em um ambiente propício ao tema, o MundoMaker, espaço de aprendizado e desenvolvimento de projetos. Na ocasião, surgiram convergências e divergências sobre o que é uma educação mão na massa. ‘Experimentação é uma metodologia ou um processo?’, ‘Desenvolve conhecimentos ou habilidades?’, "A prática deve estimular ou desafiar os alunos?", e por aí vai.Foi consenso que as atividades práticas devem envolver trabalho coletivo, estimular criatividade e desenvolver empatia, além de obedecer a princípios que estimulam a autonomia e o potencial inventivo, colocando o aluno no centro de seu processo de aprendizado.” Como negar, hoje, o Aprendizado baseado em projetos, Aprendizagem colaborativa, Aprendizagem maker, Avaliação digital, Base Comum Nacional, Big Data, Cidade Digital, Competências para o século XXI, Conectividade, Desescolarização, Educação Integral, Educomunicação? Como manter sob amarras uma juventude ansiosa por empreendedorismo, sustentabilidade e tantas outras atividades que os colocam expostos a todo tipo de inovação tecnológica? Não sem razão, estamos ensaiando decolar para a nova era, a da educação de vanguarda, que aposentará um sem-número de propostas obsoletas, com prazo de validade vencido. Inimaginável, anos atrás, que veríamos universidades sem professores e currículos que contemplavam quase 15 disciplinas no ciclo básico e hoje contam apenas com três. Impensável também o volume de estudantes em EAD que já ultrapassam milhões e, desses, muitos já concluíram algum tipo de curso, com sucesso e empregabilidade garantida. Com a mesma proposta analítica, no último sábado (26/11), a Folha de S. Paulo, em caderno especial, tratou do Seminário Inovação Educativa, realizado por ela nos dias 22 e 23 de novembro, onde foi discutido por estudiosos o papel da escola. A síntese final foi dar mais voz aos alunos, investir na formação de professores, ambientar o espaço educacional às novas realidades e, principalmente, alavancar a escola do século 19 à realidade do século 21. Apesar do seminário ter como foco a educação básica, as questões discutidas aplicam-se totalmente ao ensino superior, pois o desafio a ser vencido é o mesmo:
- A educação inovadora deve ter a participação ativa dos estudantes.
- A passividade ficou nos séculos passados.
- O modelo de ensino centralizado no professor está superado.
- Os novos métodos exigem Aprendizado por Projetos.
- As atividades práticas devem prevalecer sobre a sala de aula tradicional.
- E, mais do que nunca, a preocupação do aluno está direcionada para o futuro, que é enfrentar o mercado de trabalho.