Nos novos mundos altamente conectados que estão emergindo, o que chamamos de educação não se parecerá em nada com o que foi até agora. Basta de escola: a escola agora é a rede. (Augusto Franco)Recebi de leitor mensagem criticando que neste espaço venho tratando muito de tecnologia e destaca o utópico Manifesto de Zuckeberg (o criador do Facebook), que não passa de mensagem de marketing e mais nada. Mas o que quero reforçar é como essas ideias podem servir ao mundo da educação, premissa que vou tentar responder neste artigo. Apesar de parecer que está tudo na mesma no sistema educacional, diversas iniciativas existem por toda parte do mundo. E grande parte decorrente da revolução propiciada pelas tecnologias de informação e de comunicação, por meio da qual as pessoas estão conscientes de que agora, em comunidade, elas são capazes de realizar coisas que não poderiam fazer sozinhas. Compartilhando ideias, vivências e saberes as pessoas poderão colaborar para a existência de um mundo melhor e construir em conjunto maior conhecimento, além de usufruir das melhores práticas e experiências profissionais. A primeira vez que ouvi falar de intercâmbio de informações como modelo didático foi há quinze anos, ao trocar ideias com professor de pós-graduação da FGV. Dizia que suas aulas eram baseadas em livro que seus 25 alunos deveriam ler e responder, justificando quais seriam as cinco questões mais importantes. Das 125 respostas escolhia 10 para serem o programa do ano. Cada aluno de grupo de cinco, a cada mês, tinha uma questão a ser discutida entre eles através de chat pela internet. Durante o curso eram sorteados temas para seminários onde todos deviam participar. E os grupos que complementassem com a participação de profissionais do mercado teria nota dobrada. Toda a relação entre eles era discutida via web e ele tinha um encontro presencial mensal com seus alunos. Enfim, usava a estratégia do compartilhamento de experiências de cada um, encorajando-os a expor suas análises e reflexões, dentro de um mote que toda a boa ideia não podia ser desperdiçada, mas sim implementada. Sei que há inúmeras atividades que visam fugir ao padrão clássico da aula tradicional, mas o compartilhamento entre alunos é ainda pouco promovido. Conheço diversos grupos que compartilham suas experiências profissionais, porém na área universitária aqui no Brasil ainda existem poucas referências. Apesar de ser perfeitamente viável criar comunidades de interesse, orientadas a realizar projetos, visando o atendimento de uma necessidade específica ou a resolução de um problema, há mínimas iniciativas. Há poucas comunidades educacionais constituídas por alunos de uma mesma classe, de uma mesma escola ou de instituições geograficamente separadas. O importante é que os estudantes sintam que a comunidade dá acesso ao conhecimento e não somente à informação, se tornando um valioso local para receber feedback de ideias e soluções. O ambiente dinâmico e competitivo atual requer que as organizações aprendam continuamente. Porém, a troca de experiências, apesar de ser estratégica, é pouca usada no mundo universitário. Em razão de poucas iniciativas encontradas no Google e para responder a esta questão, por indicação cheguei à Escola de Redes, que como o próprio nome sugere, é uma comunidade de investigação de redes sociais e criação e transferência de tecnologias de netweaving, lideradas por Augusto Franco. As primeiras linhas de seu livro Multiversidade - Da universidade dos anos 1000 à Multidiversidade dos anos 2000, em colaboração com Nilton Lessa, é de uma menção de Pierry Levy de que “as universidades hoje não detêm mais o monopólio do conhecimento e sim, apenas do Diploma”. A universidade, apesar de ser do início dos anos mil, tem sua genética ancorada em seis mil anos antes das escolas da Suméria. A universidade que chegou até nós é uma instituição europeia medieval que teve a realeza e o papado como instituidores e que disputavam a governança das cidades e a hegemonia sobre os cidadãos. A organização estava nas mãos de uma corporação, caracterizada como qualquer escola religiosa ou laica, onde a transmissão de um ensinamento pre- existente era feita por mão única do professor para o aluno, com separação do corpo discente e docente e a visão do conhecimento, como conteúdo arquivável e transferível e não como de resultado de interação social. As propostas são do livro que enfatiza que o conhecimento não pode ser aprisionado o que decorre com o esvaziamento das corporações de ensino. No mundo do terceiro milênio quem organiza o conhecimento é a busca. Aprisionado ele se estraga, desenvolve-se quando compartilhado e perde valor quando permanece retido. A memorização e a reaplicação vão sendo menos recompensadas que a inovação. As comunidades de aprendizagem em rede vão abandonando a reprodução de conteúdo antigos e dedicando-se a invenção do conhecimento novo a partir da ampla interação. Nada de aprender o que lhe querem ensinar e sim o que cada um precisa desenvolver de uma ideia ou de um emaranhado de relacionamentos, para realizar um projeto realizado por ele e compartilhado com outros participantes. Os ambientes favoráveis à aprendizagem-criação serão outros. Serão abertos, seguindo um padrão de redes diversas e múltiplas. A transformação que vai existir é que não haverá mais currículos, mas apenas roteiros de aprendizagem e criação compartilhados por cada comunidade de projetos e de práticas. A criatividade vai ser a mola mestra dos novos tempos, onde o que vai valer não vão ser as notas, avaliações e diplomas, mas sim o que o estudante produziu, criou ou o desafio que resolveu, interagindo em suas comunidades de aprendizado.