Lioudmila Batourina
Consultora de parceria internacional da ABMES
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Em maio de 2017, o Banco Mundial emitiu o relatório "Em uma encruzilhada. Ensino superior na América Latina e Caribe". Trata-se de um grande documento com muitos dados estatísticos e gráficos sobre educação na região, abrangendo o período até 2013. O relatório é muito interessante e deve ser lido por formuladores de políticas e promotores da educação superior. Há algumas coisas que eu gostaria de salientar, especialmente:
1) O relatório comprova a conexão entre o ensino superior e o PIB de uma nação. No entanto, não se deve esperar uma reação instantânea, pois a educação deve se tornar uma norma na sociedade e a qualidade da educação deve ter padrões elevados. Nessa linha, movimento semelhante deve ser verificado com relação ao desenvolvimento das instituições sociais, já que o incremento delas não pode se dar sem a melhoria do padrão educacional. No gráfico, é possível ver os dados de quatro países: Noruega, Suécia, França e Chile. Para os países europeus, a relação “educação-PIB” é bem vista. Para o Chile, vemos uma expansão sem grandes mudanças no PIB. A educação é um investimento de longa data. Somente com o tempo, o capital acumulado de recursos educados faz uma transição de fase com impacto no PIB.
2) O relatório do Banco Mundial fez simulações para o Brasil ver como ficará a situação do país caso aumente a quantidade de estudantes na educação superior, em condições favoráveis, sem levar em conta nenhuma crise econômica e política, mas considerando a demografia natural. O cálculo mostrou que, mesmo que o número de graduados da universidade aumente em 50% a cada ano, a proporção de profissionais qualificados em relação aos que possuem o ensino médio aumentaria de seus atuais 25% para 30% apenas em 2040.
3) A política de aposentadoria, que está sendo muito debatida no Brasil agora, é também uma questão de educação superior: os indivíduos com ensino superior têm maior probabilidade de continuar trabalhando após a aposentadoria (39% com ensino superior e 31% com ensino médio).
O programa de educação deve ser permanente e prioritário na agenda de governo. Não se pode permitir que funcione como uma “torneira” de investimento que seja aberta quando interessa e fechada segundo outros interesses. O problema da educação deve ser abordado com cuidado e urgência absoluta porque, mesmo em um bom ambiente político, levará uma ou duas gerações para que o impacto seja efetivamente sentido no desenvolvimento do país.
As mudanças e os desafios do Brasil estão, definitivamente, focados na atenção do mundo: grande país, muito potencial, muitos recursos. Muito já foi alcançado, mas há ainda mais a ser feito. Como os desafios serão enfrentados? O Brasil sairá como vencedor? Em qual direção irá? Eu acredito neste país, acredito em suas pessoas cultas, acredito na educação.




