Ao iniciarmos um novo ciclo, reconhecemos que o ambiente da educação superior exigirá de nós atenção redobrada, decisões ágeis e capacidade analítica realista. O tempo que se aproxima não permitirá improvisos nem estratégias baseadas em intuição. Cada escolha precisará ser fundamentada em dados, cenários e projeções sólidas. A margem de erro continuará estreita e, por isso, planejamento e execução precisarão caminhar de maneira rigorosamente alinhada.
Um dos primeiros desafios será a reorganização das ofertas acadêmicas conforme as exigências regulatórias vigentes. A distribuição entre presencialidade, atividades síncronas e assíncronas tornará explícita a diferença entre projetos pedagógicos consistentes e matrizes adaptadas de forma superficial. O impacto financeiro de decisões curriculares será ainda mais evidente, exigindo cálculos precisos, revisões internas e clareza sobre o real custo de cada curso. Seremos obrigados a fazer escolhas que privilegiam sustentabilidade e aderência às demandas do território, mesmo quando estas escolhas não forem confortáveis.
Teremos também de enfrentar uma revisão profunda dos portfólios. A permanência de cursos com baixa atratividade ou que operam com margens insuficientes não poderá ser vista como ato de prudência, mas como risco estratégico. A pergunta central será menos sobre tamanho do portfólio e mais sobre a coerência entre identidade institucional, demanda real e capacidade operacional. Esse trabalho exigirá análise de dados de longo prazo, leitura de tendências e uma visão clara do papel que a instituição deseja ocupar no ecossistema regional.
A disputa por território educacional continuará intensa. Acreditamos que a diferenciação virá da precisão com que compreendermos a realidade de cada praça, evitando modelos replicados de maneira mecânica. O desenho de preço, o modelo curricular, a modalidade predominante e o tipo de relacionamento com o mercado local precisarão refletir particularidades socioculturais, econômicas e produtivas. As IES que adotarem posturas homogêneas ou descoladas do contexto perderão competitividade. Por outro lado, instituições capazes de interpretar seus territórios com profundidade terão condições de consolidar posições mais robustas.
Outro foco decisivo será a permanência estudantil. Continuaremos convivendo com evasão elevada, e isso nos obrigará a reforçar nossas práticas de apoio, orientação acadêmica, flexibilização de itinerários, uso inteligente de dados e integração curricular. A permanência não será resultado apenas de ações motivacionais, mas da capacidade da IES de oferecer trajetórias coerentes com o tempo disponível do estudante, suas exigências de trabalho, suas expectativas de empregabilidade e seu nível de preparação prévia.
Precisaremos enfrentar também a revisão dos modelos docentes. A presença qualificada na mediação pedagógica, o domínio das tecnologias de ensino, a capacidade de atuar em diferentes formatos e a compreensão das novas dinâmicas curriculares serão condições essenciais para o funcionamento institucional. Não será suficiente reposicionar cargas ou ajustar horários. Seremos levados a repensar carreiras, processos formativos internos, critérios de alocação e concepção de comunidades acadêmicas integradas. A distância entre o modelo presencial tradicional e o modelo digital precisará ser reduzida, com foco na qualidade e na consistência pedagógica.
Outro eixo crítico será o fortalecimento das relações com o mercado e com os arranjos produtivos locais. Projetos aplicados, experiências práticas, extensão territorializada e parcerias institucionais deixarão de ser complementos e se tornarão elementos estruturantes da formação. Quanto maior a conexão entre o que se ensina e o que o território exige, maior será a capacidade de atrair, manter e diplomar estudantes com trajetórias relevantes para comunidades e setores produtivos.
Por fim, será indispensável aprimorar nossa governança. Estruturas internas desalinhadas, processos que não conversam entre si, indicadores desconectados da tomada de decisão e estratégias fragmentadas comprometerão diretamente nossa capacidade de resposta. A coerência entre o planejamento financeiro, acadêmico e comercial precisará deixar de ser objetivo desejado para tornar-se prática efetiva. Isso envolverá revisão de fluxos, definição clara de responsabilidades e maturidade institucional para operar com transparência e evidências.
O próximo ciclo nos exigirá menos retórica e mais coerência entre intenção e execução. Não avançaremos por inércia e tampouco por expectativas otimistas. Avançaremos na medida em que formos capazes de tomar decisões difíceis no tempo certo, rever modelos que já não respondem ao contexto e alinhar nossas estruturas ao que realmente sustenta a instituição. O futuro imediato não se imporá como promessa. Ele será consequência direta de escolhas bem fundamentadas, feitas com responsabilidade e clareza de propósito. E será essa postura, firme, pragmática e tecnicamente orientada, que definirá nossa capacidade de permanecer relevantes e de continuar cumprindo a função educacional que a sociedade espera de nós.
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