Adolfo Ignacio Calderón
Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Campinas
Pesquisador produtividade científica do CNPq
Consultor da ABMES
adolfo.ignacio@puc-campinas.edu.br
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A Semana da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular é um grande momento de comemoração para as mais de 800 instituições que de 18 a 23 de setembro estarão participando na edição de 2017. Trata-se de uma grande mobilização nacional de alunos, professores, funcionários e parceiros para a realização de um conjunto de atividades e iniciativas que revelam a riqueza de conhecimentos e valores que são disseminados no processo de formação dos alunos de graduação e pós-graduação.
Passaram-se mais de 12 anos da criação da semana e pode-se afirmar que se consolidou na agenda das Instituições de Educação Superior (IES) brasileiras do setor particular, tornou-se um espaço de reflexão e ação sobre o papel das IES como efetivos espaços irradiadores de valores de cidadania.
Para além das pressões governamentais, com o intuito de atender aos indicadores de avaliação institucional na dimensão Responsabilidade Social, a Semana evidencia o desafio e o compromisso contínuos e permanentes, por parte dos gestores e professores, para a construção de uma educação socialmente responsável, isto é, processos formativos em valores que acenem para o desenvolvimento sustentável, equidade social, apreço da diversidade e multiculturalidade, compromisso com a verdade, solidariedade, dignidade humana e cultura de paz. São valores não somente direcionados aos alunos e aos membros da comunidade acadêmica, mas também aos parceiros, aos stakeholders e às múltiplas comunidades na quais as IES estão inseridas. Valores estes que devem servir de faróis que orientem o comportamento humano e das organizações.
A tese de doutorado em Educação Socialmente Responsável defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul pela pesquisadora Inês Amaro da Silva (2014), a qual tive o prazer de arguir na sua defesa pública, destaca precisamente, como uma das vertentes da responsabilidade social nas instituições de ensino, os processos acadêmicos de formação humanística e profissional, sobretudo, na formação ética e cidadã, fundamentada em princípios e valores éticos, morais e sociais sintonizados com as demandas de seu tempo e que, na contemporaneidade, se relacionam na amplitude dos direitos humanos, na democracia e na sustentabilidade do desenvolvimento global.
A tese destaca como um dos principais referenciais teóricos o sociólogo francês Edgar Morin, que apresenta como um desafio na formação dos jovens a conscientização de uma cidadania planetária que permita pensar a dignidade humana a partir de uma única identidade, isto é, a identidade humana dentro da perspectiva da sustentabilidade. Nesse contexto, enquadra-se a ideia de repensar o desenvolvimento humano que ultrapasse o sentido unicamente técnico e econômico e coloque a ética no centro das discussões, possibilitando o diálogo permanente entre técnica e economia, solidariedade e responsabilidade (CALDERÓN, 2006).
O desafio da educação socialmente responsável permite questionar e aprimorar continuamente os projetos pedagógicos, as estratégias didáticas e as políticas institucionais na formação de valores no campo de temas transversais cada vez mais caros para a humanidade: direitos humanos e sustentabilidade. Esses desafios assumem uma dimensão maior a partir das novas oportunidades que se abrem para pensar estratégias pedagógicas, aliando ensino e extensão universitária, como parte da chamada curricularização da extensão universitária.
O Plano Nacional de Educação de 2014-2023, especificamente na meta 12, estratégia sete, é contundente ao “assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para as áreas de grande pertinência social”.
Estudos que tenho realizado (CALDERÓN, et al. 2016) revelam que as práticas de curricularização da extensão universitária é realidade em muitos cursos e em diversas áreas, não somente naquelas voltadas para a formação de profissionais da saúde, mas também de outras áreas, como os cursos focados na gestão das organizações. Aliar ensino e extensão, por meio da busca de soluções para problemas sociais das comunidades, tem se revelado eficiente estratégia de aprendizagem de formação de valores e desenvolvimento de habilidades profissionais, portanto, potencializa-la traz muitas vantagens no campo formativo, é o aprender fazendo.
Nesse sentido, a curricularização da extensão deve ser vista como uma grande oportunidade para dar concretude a uma formação em valores que conjugue estratégias de aprendizagem com metodologias ativas que quebrem os muros de sala de aula. Nessa perspectiva, romper os muros hoje é possível por meio de uma aprendizagem significativa que supere o ensino tradicional e dialogue com os novos tempos de globalização, os avanços tecnológicos e os desafios da consciência planetária.
REFERÊNCIAS
CALDERÓN, A. I.; GOMES, C. F.; BORGES, R. M. Responsabilidade social da educação superior: mapeamento e tendências temáticas da produção científica brasileira (1990-2011). Revista Brasileira de Educação, v. 21, p. 653-679, 2016.
CALDERÓN, A. I. Responsabilidade Social Universitária: Contribuições para o fortalecimento do debate no Brasil. Estudos (Brasília), Brasília, v. 36, n.36, p. 7-22, 2006.
SILVA, I. A. Educação Socialmente Responsável: Expressões no Ensino de Graduação em Universidade Comunitária. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS, Brasil. 2014.




