Maria Carmen Tavares Christóvão
Mestre em Gestão da Inovação e Gestora Educacional
Consultora em Inovação Educacional da Revista Linha Direta
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De 18 a 23 de setembro a ABMES comemora a Semana da Responsabilidade Social, iniciativa que pretende evidenciar a importância da responsabilidade social no contexto do ensino superior particular.
Para a Profa. Adriane Drummond Ciodaro, Mestre em Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local, para a constituição de empreendimentos solidários várias instituições apostam na estruturação de um arranjo educativo, na forma de uma sequência de oficinas e vivências, contendo estratégias a serem adotadas estreitamente articuladas com os contextos das comunidades vizinhas. Em sua experiência com projetos dessa natureza, o objetivo das instituições é desenvolver nos jovens e adolescentes a cultura de um trabalho cooperativo, solidário, criativo e prazeroso, que contribua com a sua comunidade, no sentido de despertar lideranças para o desenvolvimento, com a capacidade de dar início a empreendimentos de acordo com os princípios da economia solidária, entendidos, então, como empreendimentos solidários.
Geralmente as famílias se envolvem e os empreendimentos tornam-se fonte de geração de renda, embora poucas instituições realizem esse mapeamento que nos permitiria conhecer, de fato, os frutos do projeto, pois desenvolvem os eventos de forma pontual, não dando sequência ao que é desenvolvido num determinado momento.
Desde 2005, venho acompanhando o resultado dos projetos de responsabilidade social desenvolvidos pelas IES participantes da proposta da ABMES e acredito que a maior parte desses projetos estão ancorados numa visão de empreendimento solidário. Refletiremos a seguir sobre o processo de evolução do conceito de empreendedorismo que aborda uma visão mais sustentável de empreendedorismo social, fortemente ligado à inovação social.
São duas vertentes de conceituação, uma delas definida pelos teóricos humanistas, em que o empreendedorismo está diretamente relacionado ao comportamento humano – entre os teóricos humanistas estão Weber, McClelland, Collins, Moore, Drucker, Ray, Timmons, Filon, Dolabela e Paiva Junior. Outra linha é ligada aos economistas, como Schumpeter que conceitua empreendedorismo como sendo "o que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços pela criação de novas formas de organização e pela exploração de novos recursos e materiais". Entre os economistas, além de Schumpeter, possuem destaque também Cantillon, Smith, Say e Knight.
Empreendimentos solidários, humanistas ou economistas não possuem fundamentações excludentes, mas complementares em relação ao empreendedorismo social. Roger L. Martin e Sally R. Osberg citam numa das edições da Harvard Business Review que o empreendimento social é capaz de tratar problemas cujo âmbito é estreito demais para instigar o ativismo legislativo ou para atrair capital privado.
Para pesquisadores e instituições que possuem uma visão mais contemporânea do assunto, o empreendedorismo social é a habilidade de se construir uma proposta em que a responsabilidade social está no Core do negócio, mas possui fins lucrativos, é autossustentável e atuam na resolução de problemas sociais através da comercialização de serviços ou produtos, como se pode observar no quadro abaixo.
Fonte: Harvard Business Review.
O mundo está repleto de iniciativas emocionantes de empresários que com criatividade, visão e espírito empreendedor fizeram algo extraordinário acontecer. Citando resumidamente alguns exemplos apresentados no livro Inovação e Empreendedorismo dos autores Tidd e Bessant:- Aravind Eye Care System - Fundada por Dr. G. Venkataswamy é hoje um dos maiores centros oftalmológicos do mundo, com sede em Madurai, na Índia. Realiza mais de 200 mil operações de catarata por ano, onde 60% dos pacientes são atendidos de graça, e o custo médio é de US$ 25. Possui tecnologia de ponta e a empresa é altamente rentável.
- Em Bangladesh, Muhammad Yunus revolucionou a economia com a criação do Grameen Bank, ou Village Bank, disponibilizado a indivíduos de baixa renda com o objetivo de levá-los à autossuficiência econômica.
- Amitabha Sadangi, da International Development Enterprises (Índia) - desenvolve tecnologias de irrigação de baixo custo para ajudar a agricultura familiar a sobreviver em períodos de seca.
- Victoria Hale, do Institute for One Word Health – recorre a pesquisas farmacêuticas existentes, mas abandonadas, para trazer novos medicamentos às pessoas mais carentes no mundo.
- Willian Foote – promove um modelo mais justo e sustentável de comércio internacional para uma gama de produtos, incluindo o café.
- Gillian Caldwell, do Witness – utiliza tecnologia de vídeo e comunicações para documentar abusos com relação aos direitos humanos.
Fonte: Adaptação de Tidd e Bessant (2009).
A Semana de Responsabilidade Social é uma excelente oportunidade para que as instituições exercitem durante o ano letivo a busca por oportunidades de construção de projetos que tenham relevância e impacto. Contudo, para que projetos de empreendedorismo social e inovação aconteçam, exige-se um processo de aprendizagem e absorção de um conjunto de habilidades, além da mudança de paradigmas na forma de pensarmos e administrarmos a inovação nos ambientes onde estamos inseridos.




