Michele Rossi
Jornalista e Redatora
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Janaúba, Minas Gerais, cidade localizada a quase 560 quilômetros de Belo Horizonte, agora é conhecida como a cidade que chora e lamenta por vidas ceifadas por uma tragédia.
Um desastre causado pelo vigia Damião Soares dos Santos, no último dia 5, no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente. Ainda com o sol incandescente e tantos conhecimentos ou cantigas de roda a serem cantadas para esses pequenos alunos, Damião não enxergou a dor que causaria a tantas famílias, moradores da região ou até a uma legião de pessoas pelo País e ateou fogo em crianças, colaboradores da creche e em si, deixando tanta gente enlutada e horrorizada com tamanha tragédia.
Onze são o número de mortos até o momento, e esperamos que esse número cesse e que os noticiários não deixem nossos corações ainda mais tristes.
Entre tantos rostos com histórias curtas daqueles que se foram, percebemos a grandiosidade de pessoas anônimas que agem em atos heroicos para tentar salvar a vida de outras.
Heróis verdadeiros, e não como aqueles que não têm o peso real da palavra e de seu significado, como a quem Pedro Bial sempre se referia quando conversava com personalidades instantâneas, criadas para reality show da TV. Ou até quando Neymar “salva” os jogos da seleção como se estivesse salvando um país da pobreza e da miséria. Todos esses personagens não são heróis verdadeiros, nunca foram e jamais serão, estes são apenas coadjuvantes que retratam o “Pão e Circo” de centenas de anos atrás.
Uma das tantas heroínas que podemos encontrar pelo caminho é a Professora Heley de Abreu Silva Batista, de apenas 43 anos, uma das vítimas fatais da tragédia de Janaúba. Docente dedicada e apaixonada por sua profissão, ainda se dividia a trabalhos voluntários.
Sua responsabilidade em apenas educar transcendia em suas atitudes a começar por sua luta em tentar salvar o máximo de crianças possíveis naquela manhã de 5 de outubro de 2017.
Heley tentou retirar crianças das salas de aula usando seu próprio corpo como acalanto para a dor de seus alunos. Com 90% do seu corpo queimado, ela mostrou que seu ato, este sim foi heroico, colocando sua vida em risco para simplesmente não deixar que a dor fosse ainda maior para quem ali estava.
Não houve tempo para pensar em como ela ganhava pouco como educadora, ou em como sua profissão é desvalorizada e por vezes sua grandiosidade é questionada, ela apenas se colocou à frente de um perigo real e registrou em sua pele o amor pelo próximo.
A Heroína que usou a si como escudo para abafar as chamas impediu que outras crianças tivessem suas vidas ceifadas, mas essa heroína será esquecida, sua luta e exemplo não terão placas condecorativas ou narrações esplendorosas em horário nobre da TV, sua história ficará registrada apenas em sua pele e no coração de seus familiares que agora choram por sua partida.
A professora que teve a história descontinuada, sem registros de câmeras 24 horas por dia, deixa 3 filhos sem a mãe, sem o alicerce que os tornaria tão grandiosos como ela foi, um adolescente de 15 anos, uma menina de 12 anos e um bebê de apenas 1 ano e três meses. Estes não tiveram a oportunidade de abraçar e beijar sua mãe pela última vez, sem que o despertador de uma realidade cruel fosse acionado.
Enquanto isso, na creche Gente Inocente, as cadeiras amontoadas pelo desespero de sair das chamas e as paredes sem cor e sem vida aguardam uma reconstrução dolorosa, para que novos heróis e heroínas assumam o posto de educador; educador e representante do amor pela educação.




