Ricardo Sampaio Zanotta
Coordenador executivo da Rede Brasileira de Criatividade
Docente de Marketing do curso de Administração da PUC São Paulo
ricardo.zanotta@redebrasileiradecriatividade.com
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O dia mundial da criatividade, comemorado em 17 de novembro, é uma data que inspira a reflexão e o sistema educacional precisaria pensar a respeito.
A história da evolução da humanidade é marcada pelo traço da Criatividade, como teríamos sobrevivido até o ano de 2017, não fosse a capacidade do homem de vencer desafios dos mais variados tipos, utilizando para isso a invenção e a capacidade de colocá-la em prática, como a descoberta do fogo, e as invenções da roda, de ferramentas, prensa, pólvora, lâmpada elétrica, telefone e internet, entre tantas outras.
A questão que suscita o presente artigo, está mais ligada ao como promover a criatividade como competência acessível e utilizada por um maior número de pessoas, muito além dos grandes artistas e inventores.
Onde deveria ser colocada a Criatividade para seu impacto fosse ampliado, e o resultado do mesmo pudesse ser mais relevante e significativo para termos um mundo melhor?
A resposta é simples, deveria estar na Educação, mas, no caso do Brasil, pode-se afirmar que o brasileiro é educado a não ser criativo, ou melhor, é educado para seguir um padrão de vida tradicional, no qual o sonho de vida é conseguir um bom e seguro emprego, ou melhor um cargo público. Somos educados para ser empregados, e aqueles que contrariam essa máxima da educação, em muitos casos são chamados de loucos ou irresponsáveis.
Até mesmo no ensino superior, onde a opção por estudar para formação universitária tem o foco em conquistar e construir uma carreira profissional para toda a vida, os cursos são voltados em sua maioria para formar pessoas para trabalharem como funcionários de empresas.
Essa cultura é desfavorável a um ambiente aberto às ideias criativas, e, segundo Sir Ken Robison, em sua palestra para o TEDx, “Será que as escolas matam a criatividade?”, quando comenta que as crianças não têm medo de errar, afirma:
“Elas não tem medo de errar. Não estou dizendo que estar errado é o mesmo que ser criativo. O que sabemos é que se você não estiver preparado para errar, você nunca terá uma ideia original. Se não estiver preparado para errar. E quando chegam a fase adulta, a maioria das crianças perdeu essa capacidade. Elas têm pavor de estarem erradas. E as empresas são administradas assim, por sinal. Nós estigmatizamos os erros. E hoje administramos os sistemas educacionais de um jeito em que errar é a pior coisa que pode acontecer. O resultado disso é que estamos educando as pessoas para serem menos criativas. Picasso disse uma vez que todas as crianças nascem artistas. O problema é permanecer artista enquanto crescemos. Eu acredito apaixonadamente que não aumentamos nossa criatividade, a diminuímos. Ou melhor, somos educados a abandoná-la. Mas por quê?”[embed]https://www.ted.com/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity?language=pt-br[/embed] A pergunta do ilustre pesquisador inglês é inquietante, mas ouso responder: a razão da escola não promover a criatividade está diretamente ligada às “facilidades” que a aplicação de métodos de ensino padronizados e facilmente replicáveis impuseram ao ensino. É muito mais fácil para todos os participantes do processo, como escolas, professores, editoras de livros e sistemas de ensino, estudantes e seus pais conviverem. A desconstrução dessa padronização industrializada da educação é um dos paradigmas as serem vencidos, a Criatividade precisa da liberdade de expressão como o ser humano necessita de oxigênio para respirar, mas educar dessa forma livre, aberta, experiencial, sem padrões, ainda hoje, quase duas décadas do tão sonhado século 21, é um desafio complexo, com muita resistência para ser superado. A educação precisa de exemplos inspiradores de criatividade para flexibilizar suas amarras castradoras, veja o caso d a estudante de agronomia Ceziane Leite Soares, 24 anos: criou um trator para cadeirantes, um projeto inédito, desenvolvido como TCC no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). Existem bem mais exemplos, que precisam ser incentivados, e trazidos para dentro das salas de aula de escolas e universidades. A Criatividade pode e deve ser colocada dentro de cada uma das salas de aula em todos os níveis de ensino do país, ao invés de lousas, giz, quadros, projetores, carteiras e paredes, poderíamos ter laboratórios experimentais, onde o erro tem mais valor que o acerto, pois experimentar é testar as alternativas para solucionar desafios reais. Permitir que as crianças se auto-desenvolvam, motivadas por encontrar as repostas a suas próprias questões. Um exemplo inspirador para reflexão sobre o tema é a escola do Projeto Âncora, criado, segundo seu site, “para transformar a educação e desenvolver cidadãos conscientes de suas capacidades para construir coletivamente uma sociedade justa, equilibrada e sustentável, pois acreditam Em uma prática educacional acolhedora e participativa que possibilite a todas as pessoas serem felizes e sábias por meio de Comunidades de Aprendizagem”. Existem desde 1.995, e atenderam até hoje, mais de 6 mil crianças, em 2016 foi identificada pelo projeto Porvir\ Inspirare, uma das 12 iniciativas educacionais mais inspiradoras do mundo, em 2017, foi mapeada pelo MEC como uma das 178 instituições legais, inovadoras e criativas do Brasil. [embed]https://www.youtube.com/watch?v=kE6MlnwML8Y[/embed] Quem sabe, no dia 17 de novembro de 2018, o Brasil possa ter maior número de escolas e salas de aula, onde a criatividade possa protagonizar momentos de aprendizagem capazes de inspirar alunos e professores a imaginarem e construírem um país melhor.




