Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.” (Millôr Fernandes)
Já contei a história do pastor evangélico que enviava durante a semana pelo WhatsApp mensagens religiosas, culturais e educativas para mulheres de baixa renda e, no domingo, baseado nelas, dava aulas de aprimoramento profissional.
O WhatsApp, assim como outras redes sociais, é um grande meio de enriquecimento intelectual, mas, por outro lado, pode se transformar em um veículo de achincalhamento moral invencível. Porque todos nós recebemos, diariamente, enxurrada de comunicados de péssimo gosto e que, além de nos fazer perder tempo com sua leitura, nada acrescentam. Penso que vale a pena falarmos dessa mídia.
O WhatsApp é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones (celulares). Além de mensagens de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos, GIFs e documentos, além de fazer ligações gratuitas por meio de uma conexão com a internet.
Mas como ele surgiu?
Por incrível que possa parecer, a criação desse serviço resultou da perda da oportunidade de emprego mais espetacular da história. “O Facebook me recusou”, diz seu criador. “Era uma grande oportunidade de me conectar com algumas pessoas fantásticas. Estou ansioso pela próxima aventura da vida”, tuitou, em 3 de agosto de 2009, Brian Acton a seus seguidores.
Então, ele, numa prova de resiliência, se juntou a um amigo com quem trabalhara no Yahoo!, Jan Koum, e montaram o WhatsApp. Em 19 de fevereiro de 2014, o Facebook adquiriu a empresa de Acton e Koum por cerca de 22 bilhões de dólares.
Essa é a história do aplicativo que parece ser – e estar – onipresente em nossas vidas cotidianas. A ferramenta que pode se transformar num inferno por ocupar demasiadamente um tempo que poderia ser empregado para atividades mais produtivas, ou até mesmo para o descanso e para a reflexão. Isso por que correntes e vídeos de autoajuda, além de fake news (que acirram o ódio partidário, racial, de gênero, etc.). GIFs e piadinhas de humor duvidoso entulham a memória do nosso smartphone e nos obrigam a uma perda de tempo terrível, seja para lê-los, seja para deletá-los.
O WhatsApp, que mais parece um objeto lúdico do que propriamente uma ferramenta virtual de comunicação, a princípio deveria ter utilidade para fins culturais, mas enveredou por caminhos tortuosos – de bom ou mau gosto. É, sobretudo, um grande consumidor do tempo, um ladrão de horas, minutos e segundos. Os “cabeças baixas” (posição dos usuários do “Whats”) vivem, sentados ou andando, com a cabeça inclinada como que olhando para o chão, mas levam os smarts à frente.
No caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo, de 30 de novembro, Sérgio Rodrigues escreveu artigo com o título “Bestialógico, o democrático festival de asneiras que assola a internet”. Ele trata exatamente da insanidade dos novos tempos, citando um rol de bobagens, tolices e asneiras que rolam na internet, e claro, nos comunicadores como Facebook, Instagram e WhatsApp.
Surrupiando preciosos momentos/horas na vida dos internautas, o “Whats” parece um algoz que não respeita nada, ao contrário, está mais para uma torre de Babel achando que está aproximando pessoas, familiares, amigos, colegas e que tais, como que propondo uma “melhora de vida”. Afinal, abriu-se o palanque e a tribuna dos fechados em si mesmos para a grande aventura de falar, falar, falar, não importa se errada ou acertadamente, mas, falar, falar, falar.
Apesar de, em julho deste ano, o WhatsApp ter atingido 1 bilhão de usuários ativos por dia no mundo todo (quase um ano e meio depois de alcançar um bilhão de usuários mensais), temo dizer que se está instaurando uma grande espiral do silêncio.
E os números divulgados pelo WhatsApp são estratosféricos (e assustadores):
- 1,3 bilhão de usuários ativos por mês
- 55 bilhões de mensagens enviadas por dia
- 4,5 bilhões de fotos compartilhadas por dia
- 1 bilhão de vídeos compartilhados por dia
- 250 milhões de pessoas usam a função Status por dia
O mito de Pandora Em tempos muito, muito longínquos, não existiam mulheres no mundo, apenas homens, que viviam sem envelhecer, sem sofrimento, sem cansaço. Pandora trazia consigo um presente dado pelo pai dos deuses: uma jarra (a' caixa de Pandora'), bem fechada, que estava proibida de abrir. Mas não se conteve e pôs tudo a perder... Veja o mito completo.




