“Os alunos mudaram e as instituições que não se adaptarem a essa nova realidade de ensino, não vão estar entre as escolas do futuro.” (Juan Lucca, presidente da divisão internacional da Blackboard)O Estadão apresentou recentemente do Guia do MBA, que traz mais de 1.600 cursos de pós-graduação, segundo eles, um levantamento inédito no Brasil. O material, publicado também na versão impressa do jornal, traz farto apelo motivacional – “Conteúdos personalizados, ferramentas digitais, novas estratégias de ensino, alunos conectados e coaching” – convidando todos a conhecerem a nova realidade do aperfeiçoamento para o mercado do trabalho e o melhor modelo educacional. O setor de pós vai muito bem, mas o das faculdades, nem tanto, inclusive com o que está acontecendo no EUA. Custos crescentes, mais concorrência por menos candidatos, o ritmo acelerado da mudança tecnológica, a inadimplência, a desistência, a evasão – essas são apenas algumas das ameaças às instituições como a conhecemos. E que tiram o sono de quem se preocupa com o futuro do ensino superior. Preocupação que não é só nossa. Kevin Carey, diretor do Programa de Políticas Educacionais da New America, uma organização de pesquisa apartidária e sem fins lucrativos com sede em Washington, diz que a maioria dos estudantes do futuro não irá mais para campi universitários tradicionais. Em seu novo livro, O fim da faculdade: criando o futuro da aprendizagem e a universidade de todos os lugares, Carey vê o fim das faculdades e universidades tradicionais como algo bom, mas alerta que aquelas que quiserem sobreviver, precisarão mudar seus modelos organizacionais fundamentalmente. A maioria das instituições deste início de milênio reproduz o modelo de final de século XIX – um local de carteiras enfileiradas onde jovens recebem, de forma passiva, o conhecimento que lhes é transmitido pelo professor – e foi acrescentada alguma nova tecnologia, que lhes permite, simplesmente, ter a mesma informação padronizada, embora com a recepção facilitada. Mas, se não desenvolver, e aprimorar, competências de sobrevivência em seus alunos, a própria universidade não vai sobreviver. Para enfrentar os desafios futuros, nossos alunos precisam desenvolver pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de acessar informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação que é a matriz da Criatividade. O setor precisa sair de sua zona de conforto, porque a realidade que se avizinha exige respostas criativas e colaborativas, que vão além de equipamentos tecnológicos de última geração. Carey joga um balde de água fria em quem aposta num certo formato de EAD: “O futuro do ensino superior não é aquele em que todos se sentam sozinhos de pijama, pálidos e de olhos esbugalhados, sendo ensinados por uma máquina”. O futuro não pode, e não deve, prescindir da tecnologia, mas a interação de seres humanos é fundamental. Por isso, Carey insiste no que dá a tônica do século XXI nas mais diferentes áreas da atividade humana, e não poderia ser diferente na educação: o futuro envolve explicitamente, colegas, mentores, apoio, colaboração, cocriação. No seu diagnóstico de um modelo de negócios de ensino superior, Carey diz que ele é desesperadamente falho, disperso e desarticulado. Ainda que com o desejo de acertar, as instituições estão um tanto desnorteadas. Sem querer dar receita, acredito, contudo, que elas devem tentar soluções, não ter medo de errar e aprender a interpretar o erro não como uma falha, mas como menos uma opção, pois o ato de errar é a forma de reduzir as incertezas, é a oportunidade de adquirir novos conhecimentos. Ele acredita em três futuros possíveis: a hiperescolarização, a desescolarização e a refundação, todos eles potenciados pela utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). A hiperescolarização já estamos vivendo. É mais do mesmo, com alguma tecnologia e algumas poucas estratégias mais modernas, como uso de Datashow e trabalhos em grupo. A desescolarização vem tomando corpo em várias regiões do mundo por quem postula que a "salvação" da educação passava pelo fim da escola. Muitas empresas de software educativo vêm apostando nesse público e fornecendo pacotes de programas educativos organizados em função dos vários anos de escolaridade para que jovens e adultos, em frente ao computador, aprendam com esses programas. Me parece que o que precisamos é a refundação, mas ela não se faz unicamente com a tecnologia, faz-se sobretudo com a alteração das práticas pedagógicas, com a inovação de programas, alterando o trabalho dos professores, desenvolvendo as competências individuais, a aprendizagem interativa, a escola criativa e ativa, apostando na autonomia do aluno. Para nos adaptarmos, precisaremos de competências construídas desde já, em novos ambientes de aprendizagem com professores bem preparados e com uma educação antenada com as movimentações e transformações do mundo. Que o cenário é impreciso e mutante, todos sabemos. Sabemos também que o modelo atual de ensino superior ou a própria instituição, pelo menos no Brasil, ainda está longe de desaparecer. Mas carece de soluções responsáveis, orientadas para vencer os desafios deste novo cenário mundial, onde apesar das novas tecnologias e inteligência artificial, o objetivo a ser perseguido deve passar também em vencer as desigualdades sociais e propiciar bem estar e qualidade de vida às populações.