“A tecnologia está mudando a forma como produzimos, consumimos, nos relacionamos e, até mesmo, como exercemos a nossa cidadania. Agora é a vez de transformar também a maneira como aprendemos e ensinamos...” (Anna Penido – diretora do Inspirare)Na revista Veja de 29 último, a redação caprichou no especial “Educação, as lições para que o ensino não vire peça de museu”, ao longo de 16 páginas informativas e atrativas com o patrocínio do Senai. Do material, extraímos reflexões que desejamos compartilhar com os leitores no artigo de hoje. Na matéria “O futuro chegou”, Monica Weinberg colhe depoimentos do físico alemão Andreas Schleicher, 54, o grande responsável pelo teste Pisa, que avalia o ensino no mundo. Para o Brasil, o recado está muito bem dado, como um alerta. É que as escolas precisam entrar rapidamente no século XXI se não quiserem ficar desatualizadas. Embora ele já tenha feito a mesma recomendação em agosto de 2008, também pelas Páginas Amarelas da Veja, parece que falou no deserto: nada mudou, como, por exemplo, a mania e a insistência de os alunos brasileiros só decorarem. A falta de interesse pela carreira de professor e o tremendo engano de que milhões e milhões de reais salvam o ensino. Andreas não é um principiante na área, ao contrário, detém uma expertise de quase vinte anos rodando o planeta sob ordens da OCDE, desde o ano 2000. Profissional muito capacitado a dar opiniões verdadeiras, mas que dizem muito para bom entendedor, como a de que falta ao estudante brasileiro desenvolver a capacidade de abstração, de conectar conceitos e compreender como eles ajudam a elucidar problemas concretos. O cavalheirismo está em falar dos alunos, não dos professores, responsáveis por esse atraso, ou melhor, da incompetência mesmo, pois carecem de um mínimo de educação continuada, para não dizer leituras diárias, participações em workshops, fóruns etc. Intransigente com a necessidade de mudanças, Andreas diz que as escolas se recusam a mudar porque é mais fácil e cômodo seguir pelo caminho conhecido. Novamente a mão do gato: as escolas querem mudar, mas o corporativismo e o sindicalismo não permitem. Assim, sem engatar marchas, ficamos em ponto morto, parados, queimando combustível sem aproveitar o bônus demográfico que está prestes a fechar suas janelas e portas. Perdemos um tesouro. A multidisciplinaridade, numa escola, é um ótimo exemplo que exige profunda mudança de ritos, que cobra mais dos professores, pois implica planejamentos conjuntos, cada um com sua visão, e que certamente resultará num aprendizado mais completo. E o preço a pagar por tal ação pelos docentes implica estudar, debater, trocar, ler e aplicar aquele resultado. Mas essa conduta participativa, que já é difícil em outros lugares, por aqui não deslancha, pois não existem, entre outros entraves, estratégias para atrair os melhores alunos para a docência. Despertar o interesse de gente com talento para o magistério vai muito além de bom salário. Andreas tem opinião muito própria sobre tecnologia em sala de aula. Sustenta que ela pode ser útil ao tornar possível algo que parece inviável, ou seja, dar tratamento individualizado a turmas numerosas. Há de se considerar que o computador é uma ferramenta do século XXI, mas está a serviço de pedagogias do século XIX e sozinho não resolve nada. A tecnologia pode ajudar muito aumentando de várias maneiras as possibilidades de o professor oferecer uma boa aula, facilitando o acompanhamento individual do aluno, abrindo espaço para a personalização do ensino e ajudando a escalar novas oportunidades de aprendizagem. Além disso, as tendências de seu uso na educação apontam para a convergência de dispositivos eletrônicos portáteis que ampliam as oportunidades de aprendizagem dentro e fora de sala de aula e geram dados sobre esses processos e as pessoas envolvidas neles. Mas, se o mestre não for bom, a tecnologia sozinha não vai a lugar algum. O Porvir tem destaque no país discutindo a tecnologia na educação com trabalhos habitualmente propostos em parcerias com a Fundação Lemann, o Movimento Todos pela Educação, o Inspirare, sempre formulando projetos de grande alcance educacional. Os jornalistas Marina Lopes e Vinícius de Oliveira, acompanharam a 8ª Edição da Pesquisa TIC Educação e constataram que, apesar de o uso de internet estar presente na vida de crianças e adolescentes, apenas 7% dos alunos têm permissão para se conectar pelo celular em sala de aula. Os resultados do levantamento foram divulgados na quarta-feira (22) pelo Cetic.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e trazem um panorama sobre o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação no ensino fundamental e médio. Realizada entre agosto e dezembro de 2017, a pesquisa avaliou 957 escolas urbanas públicas (exceto federais) e privadas. Nesta edição, foram incluídos ainda dados de escolas rurais a partir de 1.481 entrevistas com diretores ou responsáveis por instituições de ensino públicas (exceto federais) e privadas, de diferentes modalidades de ensino. Com a utilização frequente de dispositivos como celulares, notebooks e tablets para conexão à internet e realização de atividades escolares, Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, avalia que as instituições, educadores e formuladores de políticas públicas passam a lidar com novas questões. “É um grande desafio sair de um uso isolado e não integrado da tecnologia nos laboratórios [de informática] para se mover para uma situação onde a tecnologia permeia as disciplinas e os ambientes da escola”, avalia. Apesar de celular servir como um instrumento para a realização de diferentes atividades pedagógicas, como apontou a pesquisa, o gerente do Cetic.br afirma que as políticas públicas também devem adotar estratégias que favoreçam o acesso a diferentes equipamentos. Hoje, enquanto 79% das escolas privadas urbanas usam o computador de mesa para se conectar, apenas 46% das instituições públicas têm esse acesso. Quando se trata de dispositivos que permitem maior mobilidade, esse número ainda cai: 56% das escolas particulares usam tablets para acessar a internet, em contraste com apenas 33% das escolas públicas. Diante do quadro realista, sem tintas fortes, não se pode esmorecer, entendendo, contudo, que isso pode mudar, e assim todos esperamos, embora tenhamos um longo caminho a percorrer até se alcançar a excelência, o que não é nada fácil. Mas, sejamos otimistas porque já surgem sinais promissores, assim vê o professor Andreas. E ele finaliza acrescentando que “...é fincando pilares que garantam a qualidade por meio de instituições confiáveis e medidas lúcidas, capazes de sobreviver às tempestades, como única maneira de a educação de um país não ficar dependente do contexto social.”