Um dos mitos que são ditos sobre a educação no Brasil é o de que no passado ela era muito melhor. Na verdade, era para poucos. (Daniel de Barros, autor de “País Mal Educado”)A Editora Abril publicou neste mês de setembro uma edição especial da Revista Exame com o título de capa “APRENDA, BRASIL” e o lide muito atraente “A má qualidade da educação é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento do país – mas tem solução. Bons exemplos daqui e de fora mostram o que fazer para superar a deficiência.” O excelente material pareceu ter sido escrito sob encomenda para os candidatos à Presidência do Brasil, sobretudo porque o recheio da revista é mais do que um guia. O conteúdo, dispondo sobre temas de absoluta atualidade, nos dão uma ideia da nossa precária situação e, com assuntos bem explorados, coloca vários recados para os diversos tipos de leitores e governantes. Uma mensagem especial fica para os professores, os quais precisam ter um pé nas tecnologias e outro na docência. Para o governo, se não for adotado urgentemente um referencial docente nacional, vamos continuar à deriva. E mais, para ingresso nas licenciaturas deve haver nota de corte, que signifique, sobretudo, que candidato não pode ter sido aluno ruim, tendo por isso nenhuma ou muita consideração da banca examinadora. Não temos mais tempo nem dinheiro a perder com aventureiros que se candidatam aos cursos, sem a menor vocação ou mínimo preparo, imaginando, ao menos, receber um salário. Só com medidas como essa a sociedade iniciará por prestigiar a carreira e respeitá-la fazendo também com que os pais e os filhos estabeleçam definitivamente estima e consideração pelo professor, com obediência e acatamento. Violência em sala de aula nunca mais. Docente precisa da graduação e também de uma especialização. Diretor e/ou coordenador de curso precisa de capacitação/qualificação, mas sobretudo nenhum apadrinhamento político porque devemos iniciar a Era da Gestão Educacional. Porquanto, pior do que a qualidade da educação é a qualidade dos debates, sobretudo os corporativistas. Não bastasse o “presente” que a revista Exame bem oportunamente entregou para a sociedade ainda reforçou a intenção com o evento Café-Exame-Educação realizado no dia 18/9 em São Paulo com ilustres painelistas. O tema “O impacto do ensino técnico no aumento da produtividade brasileira” ficou a cargo de Rafael Lucchesi – diretor-geral do Senai e diretor de educação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria. Fantástico! Em seguida vieram Fabio Prado, reitor da FEI, e Victor Teles, da Festo, com o tema “A inovação disruptiva no ensino de engenharia”. Excelente! Para concluir, o assunto do momento – “Os desafios da educação básica” – entregue a Priscila Cruz, do Todos pela Educação, e João Batista Oliveira, do Instituto Alfa e Beto. Nota 10 para ambos. Para os oito temas explorados pela revista alguns merecem destaque, como os gastos em educação, que cresceram na última década, tendo, no entanto, o desempenho dos alunos piorado, ficando claro que um choque de gestão pode reverter o quadro e dar impulso à qualidade da formação dos brasileiros até 2022. Como são tantos assuntos de alta prioridade, tive de escolher entre os prioritaríssimos que na revista estão dispostos em dezenas de páginas e assim é que inicio pela abertura da edição que é muito sugestiva: Um Brasil Mais Educado (https://exame.abril.com.br/edicoes/1169/).
“Em 2015, meio milhão de estudantes de 15 anos, representando 28 milhões de jovens de 72 países, submeteram-se ao Pisa, bateria de testes promovida pela OCDE, o clube dos países ricos, para avaliar o aprendizado em matemática, leitura e ciências. No Brasil, cerca de 23 mil alunos de escolas públicas e privadas fizeram o exame e atestaram, mais uma vez, a estagnação da qualidade de nossa educação. Em quase 20 anos em que a prova é aplicada, as razões para o atraso do país são sistematicamente apontadas. A carreira de professor é pouco valorizada, o currículo é desfocado, a gestão escolar é ruim, entre outros aspectos que condenam os brasileiros a uma péssima formação e que, mais tarde, é capturada pelos indicadores de produtividade do trabalho. Em maio, 19 mil alunos de 661 escolas no Brasil prestaram uma nova prova do Pisa, cujos resultados serão divulgados em 2019. Ninguém espera uma melhora substancial, mas a apresentação desses dados coincidirá com o fim do primeiro ano de mandato do novo presidente da República. O momento é propício para mudanças efetivas.”Mas temos atuações edificantes que é preciso registrar. Teresina, capital do Piauí, é um exemplo exitoso com números de causar inveja às maiores capitais brasileiras, onde a melhor em educação fundamental baniu a indicação política para o cargo de diretor da escola. Palmas, capital do Tocantins, em segundo lugar entre as que detêm a qualidade na educação, buscou inspiração na cidade italiana de Reggio Emilia, com a melhor educação infantil do mundo, enquanto professores do fundamental visitaram escolas em Singapura de onde trouxeram e aplicaram a iniciativa de limpar a desarrumação das atividades, dando a noção de responsabilidade aos pequenos. Em Singapura a jornada de estudos inicia-se com uma saudação à bandeira, além do aprendizado “mão na massa”, aplicando conceitos teóricos em laboratórios, similarizando profissões. Em Portugal, um verdadeiro sucesso, o ensino acabou virando referência internacional no governo do primeiro-ministro Pedro Passos (2011 a 2015), com grave crise fiscal, mas se socorrendo de instituições internacionais. Com atenção especial no ensino médio, os lusitanos tiveram sucesso ao instituir uma alternativa ao ensino superior chamada de vias profissionalizantes de preparação dos estudantes para o mercado de trabalho. Num ambiente devastador do ensino médio, o Ideb mostra o pior desempenho no terceiro ano desse grau, quando 72% não sabem o suficiente em português e 93% em matemática. Mas é o Espírito Santo, com a implementação desde 2015 do projeto Escola Viva, de educação pública em tempo integral, que apresentou o melhor ensino médio do país. Dada a limitação do espaço, quero ainda abordar outra matéria da revista que tem o título muito oportuno: “As raízes do nosso fracasso educacional”, com algum embasamento do livro de Daniel Barros, País Mal Educado, o qual recomendo por se tratar de um livro-reportagem que investiga as causas de crianças e adolescentes aprenderem tão pouco nas escolas brasileiras. Ele passa por um mergulho histórico diagnosticando a crise nas salas de aula, que, enfatizo, poucos têm a ousadia de tratar do assunto evitando indisposições. Há sinais e evidências de que vivemos uma crise fiscal e de crescimento econômico no país, porém, a que mais exige atenção é a da educação do médio uma vez que mais de 40% dos jovens não terminam o ciclo até os 19 anos. Dados escabrosos ampliam o negativismo que reina na educação básica, há séculos, motivados por descontinuidade de ações, malversação do dinheiro (que não falta), alegação infundada de que o ambiente escolar não combina com as boas práticas de gestão, que a inteligência é nata – uns nascem com ela, outros não –, que é suficiente majorar as horas na escola para se ter boa educação integral. São absurdos que não encontram respaldo em teses pedagógicas. Conforme o Movimento Todos Pela Educação, só metade das vagas de pedagogia é preenchida e entra na carreira quem quiser. Nas outras licenciaturas existe queda contínua de inscritos. E estão sendo atraídos para essa carreira os estudantes com o pior desempenho na educação básica, a exemplo dos matriculados em pedagogia que somam 70% com notas abaixo da média nacional no último Enem. O volume de vagas nas universidades para tais cursos é tanto que não existe reprovação no vestibular e, mesmo assim, lá vão os “zerados” curso adentro com tal ordem de precariedades. Enquanto apenas 4% do currículo de pedagogia é dedicado a teorias didáticas, é dada muita ênfase em sociologia da educação e história da educação, ambas distantes da prática de sala de aula, condição sem a qual inexiste magistério de excelência. Do outro lado do mundo, em Singapura, estão os estudantes com as notas mais altas no Pisa que atestam a qualidade global do ensino básico. E a receita é simples: bons professores, pais e alunos responsáveis e reformas que atendem às demandas dos mercados e, acima de tudo estudantes, vocacionados.