Luciana Santos
Coordenadora do GT de Qualidade e Inovação da Rede Senac EAD, consultora em learning analytics e tecnologias educacionais
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No último dia 05 de outubro, a Folha de S.Paulo publicou a matéria “Democracia tem aprovação recorde no Brasil”, apresentando a valorização recorde de 69% dada pelo brasileiro ao regime democrático.
Nas últimas semanas, também, a discussão sobre a importância tem sido a pauta de vários veículos de comunicação. Pelo que tenho lembrança, desde a redemocratização, é a primeira vez que vejo tanta gente, nas mais diversas situações, falando sobre o tema.
A única razão pela qual a democracia é importante é que ela se origina das pessoas, para as pessoas. A democracia é baseada na ideia da participação, do diálogo, das negociações. Quando não existe a democracia, os governantes não democráticos não precisam se preocupar com deliberações representativas e dialogadas, que representam a maioria e a opinião pública. Assim, de certa forma, esses governantes são rápidos em tomar decisões, mas tais decisões podem não ser tomadas com base na visão de longo prazo e podem impactar profundamente toda a sociedade.
Um governo democrático precisa ser responsável perante o povo. Precisamos, como nunca, exigir isso de nossos governantes, independente de partidos, cargos ou funções.
Mas, fundamentalmente a democracia permite que as pessoas falem o que pensam e formem, com liberdade de análise, seus argumentos, suas opiniões e coloquem em prática a cidadania, orientadas por direitos e deveres.
É importante retomar que, na segunda metade do século XX, as democracias se enraizaram nas circunstâncias mais difíceis possíveis - na Alemanha, traumatizada pelo nazismo, na Índia, que tinha a maior população de pobres do mundo e, nos anos 1990, na África do Sul, que havia sido desfigurada pelo Apartheid.
A descolonialização criou uma série de novas democracias na África e na Ásia, e regimes autocráticos deram lugar à democracia na Grécia (1974), Espanha (1975), Argentina (1983), Brasil (1985) e Chile (1989). O colapso da União Soviética criou muitas democracias incipientes na Europa central. Em 2000, a Freedom House, uma instituição de estudos americana, classificou 120 países, ou 63% do total mundial, como democracias.
No entanto, o que observamos nos últimos anos é um movimento em vários países pelo mundo, por um protecionismo social, econômico e político, que diminui a confiança nas instituições públicas enfraquecendo as democracias e abrindo espaço para o radicalismo de convicções, ações e ideias que enfraquecem os direitos democráticos e, consequentemente, a participação e o protagonismo das pessoas na sociedade.
Por isso, a educação é tão importante para a democracia. A educação é, sem dúvidas, uma das principais alavancas que sustentam a democracia como um valor, um propósito de igualdade, liberdade, direitos e deveres.
Um programa eficaz de educação aliado aos princípios da democracia promove o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes democráticos, que são pilares da cidadania, do protagonismo e do desenvolvimento social e econômico.
Em um país polarizado como está o Brasil hoje, com propagação de fake news, manipulações em redes sociais, discutir democracia e cidadania, pelas bases da educação é fundamental para consolidarmos nossa democracia e avançarmos no processo.
Para ampliar essa visão sistemática do valor e propósito dos princípios democráticos e o seu impacto nas nações em todo mundo, recomendo a consulta ao relatório: ”Freedom in the World - Democracy in crisis 2018”, que mostra que a democracia está sob ataque e recuada em todo o mundo. Vale a pena consultar.
Por fim, é importante ressaltar que precisamos construir um futuro que funcione para todos nós. Esse é um dos maiores desafios atuais no Brasil, e no mundo inteiro, para os próximos anos.
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Fonte: https://www.economist.com/news/essays/21596796-democracy-was-most-successful-political-idea-20th-century-why-has-it-run-trouble-and-what-can-be-do, acesso em outubro/2018.




