Alexandre Gracioso*Diretor Nacional de Cursos de Graduação da ESPM***Este capítulo trata de um aspecto da educação que tem crescido em importância nos últimos anos, mas que ainda é deficiente na maioria das instituições de ensino brasileiras: a gestão educacional e a formação do gestor escolar.
Essa temática normalmente é associada à iniciativa privada, especialmente às grandes empresas multinacionais e muitos setores da academia brasileira veem com preconceito a aplicação de técnicas modernas de gestão a instituições de ensino. Essa visão, no entanto, deve ser superada. Para Castro (2008), as escolas têm muito a aprender com as grandes empresas. Diz ele:
[D]as empresas bem administradas afloram conselhos proveitosos para as escolas. Nada disso fere a sacrossanta nobreza da educação nem a complexidade e a delicadeza dos seus processos. De fato, as melhores escolas seguem tal figurino.Produtividade das instituições de ensino A melhoria da gestão escolar fará com que o sistema educacional como um todo atinja objetivos mais ousados, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, sem necessariamente aumentar o volume de recursos investidos em educação. Nesse sentido, é interessante apontar que já há bastante tempo pesquisadores vêm afirmando que o gasto com educação no Brasil é adequado. (BARROS & MENDONÇA, 1997). Essa realidade se manteve ao longo da última década: em 2007, o ano mais recente para o qual a Unesco (2010) possuía dados referentes ao Brasil, o governo brasileiro direcionou o equivalente a 5,2% do PIB para a educação, o que se compara favoravelmente com uma média internacional de gasto com educação de 4,6% do PIB e coloca o país na 29º colocação entre os 97 países para os quais havia dados disponíveis. Esse esforço do governo e da sociedade para financiar a educação no país, no entanto, não encontra correspondência nos resultados obtidos pelo sistema educacional brasileiro. Por exemplo, de acordo com os dados mais recentes do Program for International Student Assessment (Pisa), entre os 57 países participantes, o Brasil encontra-se entre os últimos colocados em todas as dimensões (ver Tabela 1). Tabela 1 – Resultados do Pisa 2006
| Colocação | Painel A País | Leitura Média | Painel B País | Matemática Média | Painel C País | Ciências Média | ||
| MELHORES COLOCADOS | ||||||||
| 1 | Coreia | 556.3 | Taiwan | 549.8 | Finlândia | 563.5 | ||
| 2 | Finlândia | 546.7 | Finlândia | 548.5 | Hong Kong | 542.5 | ||
| 3 | Hong Kong | 535.7 | Coreia | 547.6 | Canadá | 534.0 | ||
| 4 | Canadá | 526.9 | Hong Kong | 547.4 | Taiwan | 532.7 | ||
| 5 | N. Zelândia | 521.1 | Holanda | 530.6 | Japão | 531.5 | ||
| PIORES COLOCADOS | ||||||||
| 53 | Tunísia | 380.3 | Colômbia | 370.2 | Colômbia | 388.2 | ||
| 54 | Argentina | 373.6 | Brasil | 369.8 | Tunísia | 385.6 | ||
| 55 | Azerbaijão | 352.6 | Tunísia | 365.2 | Azerbaijão | 382.4 | ||
| 56 | Catar | 312.6 | Catar | 317.9 | Catar | 349.3 | ||
| 57 | Quirguistão | 284.3 | Quirguistão | 310.5 | Quirguistão | 322.2 | ||
| BRASIL E MÉDIA OCDE | ||||||||
| Brasil (50) | 393.2 | Brasil (54) | 369.8 | Brasil (52) | 390.2 | |||
| Média | 491.7 | Média | 497.6 | Média | 500.0 | |||
| OCDE | OCDE | OCDE | ||||||
| ITEM | 2009 | 2008 |
| Harvard University | ||
| Receita total | 3.828 | 3.482 |
| Investimento total | 681 | 680 |
| % de investimento | 18% | 20% |
| Boston University | ||
| Receita total | 1.529 | 1.461 |
| Investimento total | 155 | 272 |
| % de investimento | 10% | 19% |
| Nível de agregação | Matrículas | Funcionários Adm. em Exercício | Mat. / Func. | |||
| Brasil | 5.080.056 | 299.761 | 16,9 | |||
| Pública | 1.273.965 | 119.053 | 10,7 | |||
| Federal | 643.101 | 67.993 | 9,5 | |||
| Estadual | 490.235 | 45.303 | 10,8 | |||
| Municipal | 140.629 | 5.757 | 24,4 | |||
| Privada | 3.806.091 | 180.708 | 21,1 | |||
| Particular | 2.448.801 | 106.959 | 22,9 | |||
| Comun/Confes/Filant | 1.357.290 | 73.749 | 18,4 |
No passado, reitores eram conceituados principalmente como administradores responsáveis pela proteção de recursos, pela aplicação de políticas e pela supervisão de funcionários. Hoje, no entanto, muitos autores classificam os reitores de líderes. (Edição para Kindle, localizações 982 – 987, tradução nossa)Nessa concepção simplista da função do gestor acadêmico, sua principal função era determinar como as coisas deveriam ser feitas. Mais à frente, o autor propõe que a liderança é mais voltada para pessoas e para o desenvolvimento organizacional da instituição. Segundo ele, “o conceito de liderança quase sempre está cercado de conotações positivas, como coragem, perspicácia, colaboração e preocupação com pessoas” (Edição para Kindle, localizações 1012 - 1018, tradução nossa). Nessa concepção, a principal função do gestor educacional seria determinar o que precisa ser feito para melhorar as escolas. No entanto, Kowalski não propõe uma visão, que talvez corresse o risco de ser caracterizada como ingênua, de que as funções anteriores, ligadas à gestão de recursos, tenham se tornado desnecessárias. Pelo contrário, o controle orçamentário e a eficiência organizacional continuam a ser importantes metas para o gestor. Porém a elas deve ser incorporada uma nova dimensão de atuação que exige novas competências. Dessa forma, ele propõe um conceito bastante amplo do perfil do gestor educacional, que congrega tanto a administração quanto a liderança. Essa mudança não é tranquila; segundo o autor, as decisões de liderança implicam mais risco e incerteza do que as decisões administrativas, portanto tendem a ser evitadas pela maioria dos administradores escolares, porém é um desenvolvimento fundamental para assegurar a melhoria das escolas no longo prazo. Conclusões e sugestões de ação Procuramos demonstrar neste ensaio que a realidade educacional contemporânea exige um gestor educacional diferenciado, que tenha uma atuação bastante ampliada em relação ao que foi exigido desse profissional no passado. Foram oferecidas evidências de que o gasto com educação no Brasil é adequado, mas que o uso desses recursos precisa ser otimizado. Em particular, faz-se necessário liberar mais recursos para o investimento anual das escolas públicas. Somente dessa forma será possível efetivamente aproximar-se das melhores escolas internacionais, que investem de três a cinco vezes mais do as nossas. Esse descompasso é particularmente importante no ensino superior, onde a tecnologia e a estrutura disponíveis na universidade são determinantes para a formação profissional que se dá aos alunos e também para a realização de pesquisas de ponta. Portanto, a capacidade administrativa de se determinar o melhor uso dos recursos é fundamental, dada a realidade nacional. Porém simultaneamente foi proposta uma visão para o gestor educacional que ultrapassa essa habilidade. O gestor contemporâneo precisa combinar a capacitação administrativa e habilidades de liderança. Ele precisa motivar e conquistar a sua equipe, de tal forma que todos os colaboradores da escola, acadêmicos e administrativos, deem o melhor de si para construir uma organização de excelência. Essa excelência na prestação de serviços é fundamental para assegurar a sobrevivência e a melhoria constante da instituição em uma realidade cada vez mais competitiva, onde até mesmo as escolas públicas competem com as particulares pelos melhores alunos. É claro que uma mudança de paradigma gerencial como essa é complexa e ocorre lentamente. Pensamos que o ponto de partida, caso seja do interesse do governo implementar um programa como este, seja instituir um programa de capacitação com algumas escolas-piloto, em estados que serão definidos pelas autoridades competentes, a fim de que possamos acompanhar os resultados. Essas escolas serviriam de multiplicadoras dessa iniciativa de melhoria de gestão e os resultados obtidos por elas fortaleceriam a posição do governo sobre a necessidade de uma renovação na gestão educacional brasileira. _____________________________________ * Diretor Nacional de Cursos de Graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Doutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp/FGV). MBA pela Universidade de Rochester. Graduado em Administração pela Eaesp/ FGV. agracioso@espm.br ** O texto, na íntegra, foi publicado na edição de nº 39 da Revista Estudos – ABMES, na seção Pontos de Vista sobre Políticas Públicas para o Ensino Superior Particular. Mais informações sobre a publicação pelo número (61) 3322-3252.




