“Causar a disrupção na educação no Brasil não envolve apenas explorar novos negócios, mas também transformar o ambiente empreendedor, os valores de competitividade e dignidade dos brasileiros por meio de um ensino moderno, inclusivo e acessível” (Raphael Augusto - Head da Liga Insights)
Em meu artigo “Os robôs e as tendências sobre o futuro do trabalho”, de 21 de maio, baseado em reportagem da Veja para mostrar como as estratégias dos negócios imobiliários estão mudando, citei o caso dos robôs que vendem apartamentos. É o uso da Inteligência Artificial (IA) por seus bancos de dados, que identifica quem está procurando imóvel para comprar e desmistifica a presença de intermediários.
No site Whow!, Rafael Coracchini mostra no artigo “O fim da posse e a nova lógica do setor imobiliário” a transformação do setor, citando os exemplos da Loft – que, funcionando há 8 meses, vale mais que a Tecnisa, uma das maiores construtoras do país, fundada há mais de 30 anos – e outra novata, a Quinto Andar – que está revolucionado o modo de alugar casas e apartamentos ao unir os interesses do locador e do locatário sem precisar de corretores.
Logicamente, não preciso citar outras milhares de atividades onde a tecnologia está mudando a maneira de atuar, razão de precisarmos estar preparados para os novos ambientes de aprendizagem que vão revolucionar a maneira de oferecer ensino em todos os graus. A história da educação mostra isto.
A educação 1.0 no seu início, com forte base instalada na Igreja, era focada no professor, que ensinava todas as disciplinas para um único aluno no espaço em que este vivia. Era a época dos preceptores, com a educação voltada somente para uma pequena parcela da sociedade, normalmente nobres, intelectuais e filósofos. Esta talvez seja a primeira e mais longa etapa da história da educação.
A partir da Revolução Industrial – processo iniciado na Inglaterra, aproximadamente na metade do século 18, quando o mercado de trabalho começou a fazer suas exigências –, passou-se a reconhecer a educação como direito de todo cidadão e foi preciso criar um novo sistema. O mundo passava por um drástico processo de transformação, exigindo uma nova escola, capaz de introduzir o ensino técnico e profissional, de modo a garantir a mão de obra qualificada para atuar em favor do crescimento da indústria. A partir daí surgiu a educação 2.0, que trouxe modelos teóricos de educação, centrada na possibilidade de um único professor ensinar dezenas de alunos ao mesmo tempo e que trouxe as mesmas características observadas na produção industrial: tarefas repetitivas e mecânicas.
É a educação centrada no professor e na passividade do aluno, a qual insiste na ideia de que o professor é quem sabe e o aluno nada sabe. Dessa forma, cabe ao primeiro transmitir o conhecimento e ao segundo recair no velho (nem sempre superado) conceito de “educação bancária”, cunhado por Paulo Freire, no qual a educação tem um fim em si mesma. Essa educação corresponde grosso modo à primeira e à segunda revolução industrial, esta última entre meados do século 19 e meados do século 20, que ainda eram centradas na indústria mecânica.
Após a Segunda Guerra Mundial, a economia internacional começou a passar por profundas transformações que caracterizam a terceira revolução industrial, cujas mudanças vão muito além das transformações industriais. Ela engloba processos tecnológicos decorrentes de uma integração física entre ciência e produção, também chamada de revolução tecnocientífica, cujos principais avanços estavam ligados à criação de computadores, robôs, celulares, chips, circuitos eletrônicos, softwares, entre outros.
Nessa terceira revolução industrial, operários com várias habilidades trabalham ao lado de máquinas automatizadas, produzindo grande quantidade de bens. O sistema de hierarquia gerencial e as chamadas linhas de produção são substituídos por equipes multiqualificadas que trabalham em conjunto, o que diminui significativamente o esforço humano e os custos. Nesse período, o mundo passou por uma série de transformações importantes ligadas principalmente às evoluções tecnológicas.
Nesse contexto, a partir dos anos 90, começa-se a introduzir novas mídias na educação, como o computador e o quadro digital, além de iniciar-se uma relação diferente do aluno com a informação.
O conceito de protagonismo do aluno é o alicerce da educação 3.0, que abre caminho para uma mudança do paradigma educacional vigente. Nesse cenário, o estudante passa a protagonizar seu processo de aprendizagem, o que lhe permite participar de projetos que realmente despertem o seu interesse e fortaleçam a sua formação. Já o professor, muito mais do que detentor do conhecimento (que agora está disponível a um clique do mouse ou a um toque na tela), passa a ter a função de mediador desse conhecimento, auxiliando os alunos a saber buscá-lo, apreendê-lo e utilizá-lo. Quebra-se, com isso, a verticalidade do ensino em favor da horizontalidade, criando-se oportunidade para que o conhecimento possa ser construído coletivamente.
Na educação 3.0, os estudantes agem mais como parceiros na busca do conhecimento, utilizando as TICs de forma colaborativa e inserindo o conteúdo a ser aprendido no contexto social de que participa, o que torna tudo mais fácil de ser compreendido e assimilado. A proposta é que os alunos se tornem autônomos e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento.
O Brasil, segundo o professor Cassiano Zeferino de Carvalho Neto, ainda permeia esses três modelos educacionais. Ele é criador do termo educação 4.0, que remete a uma nova era de aprendizagem baseada na inovação e no embasamento socioemocional e para cuja apropriação é preciso atitude e comprometimento por parte dos gestores.
O quadro, a seguir, sintetiza as revoluções industriais. Nas três primeiras, o ser humano continuou exercendo um papel de destaque na operacionalização das máquinas, tomadas de decisão, execução de rotinas, interação com outras pessoas e análise de dados. Na quarta revolução, a 4.0, esses elementos estão mudando.
Graças ao desenvolvimento da IA, da IoT, da realidade virtual, entre outras (que, seguramente, modificarão a maneira como se aprende), agora, trabalhos operacionais repetitivos serão delegados a robôs e assistentes virtuais; as máquinas serão mais confiáveis para capturar, analisar, indicar as melhores alternativas frente a diversos problemas e substituirão o ser humano, parcialmente, na atividade de programar e corrigir falhas nos equipamentos usados na produção.
O grande desafio do setor educacional é de preparar-se para os novos tempos e saber que será preciso mudar suas velhas práticas, agregar processos novos para o que faz, criar novos produtos, ter nova maneira de fazer negócios e estar antenado a tudo que está acontecendo à sua volta. Um bom exemplo é ler o artigo de Adriana Fonseca sobre as 7 startups que estão atuando na mudança da educação do Brasil, tema que pretendo aprofundar em breve.
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