Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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“A indústria digital pesa atualmente tanto quanto como as do petróleo e das finanças e as GAFAM são tão poderosas que podem resistir aos poderes políticos e serem cada vez mais independentes dos Estados, inclusive nos Estados Unidos, podendo cada vez mais facilmente impor as suas condições através da concorrência entre si e cada vez menos regras poderão contrariar os seus projetos.” (Isabel Pinto Machado)
O futuro já chegou. Estamos em plena era da robótica, da inteligência avançada, da automação das máquinas. E prognostica-se que as futuras gerações viverão mais de 120 anos. As mudanças tecnológicas alcançarão sem dúvida todas as áreas humanas e, principalmente, o setor produtivo, a comunicação e a educação.
Com o propósito de termos uma visão compartilhada de como a atividade educacional se transformará, o Conselho de Administração e a Diretoria da ABMES convidou o Prof. Maurício Garcia para expor suas ideias sobre os cenários e caminhos para a revolução digital na educação superior. Painelista excelente, é certamente o educador brasileiro que mais tem pesquisado as novas tecnologias nas práticas e na inovação da aprendizagem.
Recomendamos leitura de entrevista com ele concedida à Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária (clique aqui para acessar) em que ele afirma que “todos precisarão continuar a aprender coisas novas, o tempo todo”.
Depois de mostrar a velocidade com a qual todas as atividades estão se transformando, Garcia disse que isso não é nada frente ao que sucederá com a Internet 5.0, que tem uma velocidade 100 vezes maior do que a atual. Ele demonstrou isso na área da educação, com a crescente demanda pelos cursos livres.
Importante observar como os players internacionais estão atuando no mercado de ensino e os expressivos números das grandes distribuidoras de EAD.
Aos que acompanharam a apresentação, Garcia fez o desafio para que se manifestassem sobre os 5 cenários previsíveis para o ambiente educacional para o ano 2030, explicitados no slide a seguir:
O resultado apontou que ninguém acredita que a educação ficará tal como está. A maioria se dividiu entre a opção 3 (Global Giants) e a 4 (Peer-to-peer). Isso é elucidador, pois todos concordam que ou as instituições se preparam para a nova realidade educacional ou não sobreviverão.
Essa palestra nos fez lembrar dos anos 90, quando a demanda pelos cursos universitários começava a aumentar e o pavor dos mantenedores quando um concorrente instalava uma faculdade a cem metros da sua. Era uma encarniçada disputa de TV, outdoors e panfletos, em que cada uma tentava mostrar que era melhor que a outra. E o mesmo podemos dizer hoje com a ferrenha competição existente quando numa cidade com capacidade de duas faculdades surgem 20 competidores de EAD com valor de mensalidade 70% inferior. É luta por aluno, corpo a corpo.
Tudo o que foi exposto por Maurício Garcia é de grande utilidade porque nos permite uma reflexão no momento em que cinco mamutes do reino digital estão certamente pensando em como abocanhar a educação planetária. Poucos estão percebendo, mas logo os gigantes da Web estarão instalados pelos milhares de municípios brasileiros.
Antes eram as concorrentes de uma mesma cidade, hoje é a “universidade GAFAM” que começa a pensar em como lançar suas garras no Brasil. Para quem não conhece GAFAM, é o acrônimo das gigantes da web Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft. Agora já se apresentam novas empresas, revolucionando a linha dos negócios: NATU (Netflix, Airbnb, Tesla e Uber).
Destaque para a Netflix, coprodutora e distribuidora de filmes e séries de televisão. No dia em que também selecionar filmes educacionais ela superara os demais.
A Microsoft é quase onipresente em sistemas operacionais de computadores com o Windows e também dona do Linkedin. O Google captura 92% das buscas mundiais na internet e domina cinco das seis principais plataformas digitais: Google buscas, vídeo (com o YouTube), celulares (Android), mapas (Google Maps) e navegador (Chrome).
O Facebook domina 75% da mídia social, possuindo o maior banco de dados pessoais do planeta. Comprou outras redes sociais em 2012 (Instagram), por US$ 1 bilhão. E em 2014 comprou o Whatsapp por US$ 22 bilhões. Assim o Facebook (e suas subsidiárias Instagram, WhatsApp e Messenger) tem 77% do tráfego nas redes sociais. Controla um ecossistema com mais de 1,6 bilhão de usuários na rede social original, 1 bilhão no WhatsApp, 900 milhões no Messenger e 400 milhões no Instagram.
A Amazon detém 40% das compras online nos EUA. É líder global absoluta no comércio digital e controla 44% da capacidade de computação em nuvem de todo o mundo.
A Apple é, desde 2013, a marca mais valiosa do mundo e a que gera mais lucro.
“As GAFAM aproximam-se do mundo educativo com vários objetivos, declarados ou ocultos, mas com a sólida determinação de infiltrar os seus ecossistemas digitais nos espaços de aprendizagem”, diz Fernando Herranz, do Departamento de Inovação da Santillana.
Ficar indiferente a esses superpoderosos é beber cicuta em gotas. Especialmente essas seis empresas (incluindo Netflix à Garfam), que em conjunto atingem uma capitalização de mercado próxima dos 5 trilhões de dólares, movem-se com maior ou menor protagonismo pelos centros educativos de todo o mundo. Sigam o link adiante e saiba mais: http://toyoutome.es/pt/blog/las-gafam-conquistan-la-educacion/42901
Como está no site da B2INN (Business to innovation), “Imagine então o impacto que elas têm sobre nós! Essas megacorporações digitais detêm dados de bilhões de pessoas e a partir deles, com o auxílio de seus algoritmos computacionais, conhecem nossos hábitos, podem supor e tirar conclusões acerca de nossas personalidades e nossa vida.”
É lógico que a palestra do Prof. Maurício Garcia sensibilizou a todos sobre o que fazer daqui para frente. Para se ter uma ideia o Prof. Celso Niskier, diretor presidente da ABMES, ficou 3 dias em Brasília só planejando as diretrizes da atuação da ABMES para 2020. Na reunião do Conselho de Administração, a questão de como a Associação pode criar uma comunidade entre as associadas para enfrentar os desafios do futuro foi o foco central das discussões.
A mensagem principal de tudo o que ouvimos é que as mudanças sempre existiram e vão continuar existindo. Mas a diferença é a velocidade com que estão acontecendo. Muitos ainda não estão acompanhando o que já é realidade e não estão percebendo o quanto podem estar ficando obsoletos.