Sólon Hormidas Caldas
Diretor Executivo da ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
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Há um ano, quando o país homenageava seus docentes, eu estava em Israel, um dos países mais desenvolvidos do planeta na esfera tecnológica e globalmente reconhecido como “nação das startups”. Junto com a 2ª Delegação ABMES Internacional, estava imerso em dias de muita tecnologia, inovação e comprometimento com a solidificação de um país a partir da educação.
Ali, em meio a tantas ferramentas educacionais inovadoras, metodologias focadas nos resultados práticos e com a inteligência artificial pautando uma quantidade sem fim de debates, um aspecto que ficou evidenciado foi a relevância dos professores nesse contexto de revolução do processo de ensino-aprendizagem. Não há sistema computacional altamente complexo, mesmo que capaz de transmitir o conteúdo ao tempo em que identifica e trabalha as dificuldades de cada aluno de forma específica, que substitua a figura do docente. Em uma das falas mais inspiradoras daquele processo imersivo, durante palestra sobre como a inteligência artificial tem sido utilizada para aprimorar o aprendizado de idiomas e tendo a cidade sagrada de Jerusalém como cenário, ouvimos que “professores motivam pessoas, máquinas não”.
Sim, para além do tradicional slogan “professor é o profissional que forma todas as outras profissões”, os docentes são a essência do processo educacional. São pessoas que se dedicam a compartilhar o conhecimento adquirido com bastante empenho ao longo de toda a vida, mas que também estão em constante processo de aprendizado. São indivíduos imbuídos de uma grande missão, embora nem sempre recebam o devido reconhecimento.
Apenas na educação superior são mais de 380 mil homens e mulheres atuando diariamente nas salas de aula deste país gigantesco, complexo e desigual. Embora o último Censo da Educação Superior tenha confirmado a tendência de crescimento exponencial do ensino a distância, a figura do docente permanece como eixo central do processo ensino-aprendizado.
Assim como o Homem de Lata que habitava o reino de Oz em Alice no País das Maravilhas, uma construção metálica, ainda que dotada de inteligência, nada mais é do que um “emaranhado de lata” se não tiver coração. A utilização de equipamentos e sistemas modernos enquanto elementos intermediadores da formação educacional é uma realidade cada vez mais presente e faz parte do cenário disruptivo imposto a todos nós neste Século XXI. Contudo, docência é algo muito mais profundo.
De forma semelhante ao que acontece em qualquer profissão, o professor contemporâneo precisa estar munido de cérebro – que no reino de Oz era o órgão desejado pelo Espantalho –, mas, sobretudo, necessita de coração. É ele o grande responsável pelo estímulo que o mantém na profissão que um dia escolheu. Também é dele que irradia a capacidade de se doar ao aprendizado do outro e, especialmente, de motivar outras pessoas a desvendarem territórios desconhecidos e a transformarem suas próprias existências.
Dom e vocação são duas palavras bastante utilizadas para justificar profissionais que se destacam em suas respectivas áreas. Se pensarmos bem, ambas possuem relação direta com a parte mais subjetiva das nossas essências. São expressões que designam quem somos e não como ou por que fazemos. São elementos conectados com o que nos estimula a prosseguir em uma determinada jornada. São, sobretudo, a exteriorização daquilo que preenche nossos corações.
Não há professor que se sustente na profissão se não for vocacionado para tal. Mais do que transmitir conteúdos, a docência exige uma entrega que não se aprende em livros ou em bancos escolares. O magistério é, em síntese, o comprometimento com a transformação de vidas a partir do acesso ao conhecimento. Ser docente é a prática de ter o coração preenchido pelo aprendizado e desenvolvimento do outro na sua caminhada em direção a uma vida digna e uma cidadania plena. A cada ser humano dotado desse dom, registro os meus mais sinceros cumprimentos.
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